terça-feira, 24 de março de 2009

Transferência de tecnologia no setor espacial

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Programas de parceria alavancam transferência de tecnologia?

23/03/2009

Por que será que é tão difícil comer arroz feito pela cozinha ocidental com hashi (pauzinhos)? A tecnologia hashi foi desenvolvida numa cultura tecnológica que utiliza arroz feito pela cozinha oriental. Caso fôssemos transferir a tecnologia hashi para o ocidente, haveria a necessidade de adaptarmos o arroz solto para um arroz mais “grudado”. Assim, tanto a cultura tecnológica ocidental (conhecimentos de como se preparar o arroz solto) quanto a nova tecnologia (hashi) precisariam adequar-se mutuamente para o sucesso da transferência da tecnologia.

O tema transferência de tecnologia tem sido discutido há algumas décadas por especialistas devido à dificuldade no sucesso da sua utilização plena por parte do usuário. Nesse sentido, o servidor Roberto Roma de Vasconcellos, da Divisão de Eletrônica do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE/AEL), defendeu a tese de doutorado “Barreiras e facilitadores na transferência de tecnologia no setor espacial: estudo de caso de programas de parceria das agências espaciais do Brasil (AEB) e dos EUA (NASA)”. Essa pesquisa foi desenvolvida no Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, com estágio no Space Policy Institute, da Elliott School of International Affairs, da George Washington University, sob orientação do professor titutar João Amato Neto (USP) e co-orientação do professor John M. Logsdon (GWU).

O estudo objetivou identificar os fatores críticos entre atores sociais (universidades, institutos de P&D, empresas privadas e agências governamentais – NASA e AEB) no processo de transferência de tecnologia no setor espacial, utilizando como objeto de estudo cinco projetos de parceria do programa Uniespaço da AEB e do programa de parceria inovativa (PPI) da NASA.

A metodologia de pesquisa envolveu três instituições de ensino superior e dois institutos de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), como fornecedoras da tecnologia, sendo clientes o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Instituto de Aeronática e Espaço (IAE).

O resultado principal foi a elaboração de dois modelos conceituais. O primeiro, representando a transferência de tecnologia entre fornecedor e cliente, levando em consideração fatores críticos, dentre eles o Nível de Maturidade Tecnológica (TRL - Technology Readiness Level da NASA), a Transferência Parcial de Tecnologia (TPT) e a Transferência Total de Tecnologia (TTT).

O segundo modelo detalha o papel da parceria entre diferentes organizações e suas respectivas competências essenciais (conjunto de conhecimentos que diferenciam uma organização da outra) no sistema nacional de inovação e produção espacial. O modelo demonstra ainda que o desenvolvimento de um produto para a sociedade é mais eficaz e eficiente a partir do trabalho em parceria entre organizações nos diferentes níveis de conhecimento; a empresa, ao transferir conhecimentos mercadológicos, proporciona conhecimentos à universidade e aos institutos de P&D, possibilitando a concretização do desenvolvimento do produto; a inovação.

Finalmente, a tese conclui que, dentre outros fatores, devido à complexidade tecnológica dos projetos espaciais não há espaço para o trabalho solitário e de organizações com baixa interatividade, tanto internamente quanto com o ambiente que as cercam. Nesse sentido, o processo de transferência de tecnologia realizado em redes de cooperação organizacional é o novo paradigma atual; ou seja, cada organização complementando a sua competência com diferentes parceiros é o diferencial para sua sobrevivência no presente e no futuro.

“A transferência de tecnologia não é um processo que acontece ou não, ele ocorre em função do que o cliente (usuário) deseja”, explica Roberto. “Portanto, o cuidado gira em torno de se definir muito bem como você quer que o seu arroz seja preparado (cultura tecnológica) e como adaptar a nova tecnologia (hashi) para atendê-lo. De nada adianta comer arroz `solto` com hashi; pode-se até comer, após um grande esforço e tempo, mas dificilmente o cliente ficará satisfeito!”, completa o pesquisador.

Veja a seguir os modelos desenvolvidos durante o trabalho e o link para acesso à tese completa, disponível na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP:

Modelo de Transferência total de tecnologia

Modelo Orbital de Parceria

Tese

Fonte: IAE
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Um comentário:

iurikorolev disse...

Caro Mileski
Muito interessante o artigo.

A falta de educação do povo e a dependência tecnológica são, em minha opinião, os 2 maiores problemas do Brasil.

Infelizmente os governos entram e saem sem os atacarem com seriedade