quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Reunião do Conselho Superior da AEB

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CONSELHO SUPERIOR DA AEB REALIZA 64ª REUNIÃO

Brasília, 28 de fevereiro de 2013 - O Conselho Superior da Agência Espacial Brasileira (AEB) se reuniu na tarde da quarta-feira (27), na sede da instituição. Essa foi a primeira reunião das três que estão agendadas para o ano.

Durante a reunião, foi apresentado aos conselheiros os resultados de execução do Programa Espacial em 2012. A criação da Visiona – empresa de capital misto criada para ser integradora do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação (SGDC) –, os avanços realizados no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), tanto para o lançamento de satélites por veículos nacionais, quanto do foguete ucraniano Cyclone 4,  e o desenvolvimento de parcerias internacionais foram alguns dos pontos destacados durante a reunião.

Os diretores da AEB também apresentaram o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) 2012-2021, suas principais diretrizes, os resultados esperados e as estratégias de capacitação e investimento para o Programa Espacial Brasileiro. “O aumento da participação da indústria nacional e a implantação de um programa de domínio de tecnologias críticas são as principais metas. A formação e capacitação de pessoal e a ampliação da cooperação internacional também são temas prioritários do PNAE”, explicou o diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da AEB.

Ao final, o presidente da AEB, José Raimundo Coelho, sugeriu que a próxima reunião do Conselho, agendada para junho, seja realizada em Alcântara, no Maranhão, onde fica localizado o principal centro de lançamento do país. “É importante que os conselheiros da instituição vejam de perto onde o Programa Espacial Brasileiro realiza suas atividades. Depois de Alcântara, José Raimundo pretende realizar reuniões em São José dos Campos (SP), e em Parnamirim (RN), onde fica localizado o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI).

Durante a reunião tomaram posse como membros titulares do Conselho: José Augusto Vieira da Cunha Menezes, do Comando da Marinha; Walter Bartels, do setor industrial. Como membros suplentes, assumiram Carlos Antônio de Magalhães Kasemodel, do Comando da Aeronáutica; Carlos Renato de Melo Castro, do Ministério da Fazenda; Rodrigo Augusto Barbosa, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Paulo Afonso Vieira Junior, do Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão; e Ariel Cecílio Garces Pares, do Ministério do Meio Ambiente.

Conselho Superior – Criado em 1994 e presidido pelo presidente da AEB, o Conselho é responsável por apreciar propostas de atualização da Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE), para encaminhamento ao Ministro da Ciência, Tecnologia e Informação; deliberar sobre as diretrizes para execução da PNDAE aprovada pelo Presidente da República; atuar na elaboração do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), bem como de suas atualizações e apreciar anualmente seu relatório de execução.

São atribuições do Conselho, também, atuar na elaboração da proposta orçamentária anual da AEB; apreciar as propostas de atos de organização e funcionamento do Sistema Nacional de Atividades Espaciais; apreciar acordos, contratos, convênios e outros instrumentos internacionais, no campo das atividades espaciais; propor subsídios para a definição de posições brasileiras em negociações bilaterais e em foros internacionais, referentes a assuntos de interesse da área espacial; aprovar diretrizes para o estabelecimento de normas e expedição de licenças e autorizações relativas às atividades espaciais; e opinar sobre projetos de leis, propostas de decretos e de outros instrumentos legais, relativos às atividades espaciais.

Fonte: AEB
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AEB: empresa integradora para lançadores

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Área de lançadores deverá ter empresa integradora

Qua, 27 de Fevereiro de 2013 17:53
Escrito por Leandro Duarte


O Brasil deverá contar em breve com uma empresa integradora para a área de lançadores. Ela será constituída por meio de uma parceria público-privada (PPP) nos moldes da Visona Tecnologia Espacial S.A, instituição que será responsável pela construção do primeiro Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC). A informação foi dada ontem (25), pelo presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Coelho, em entrevista exclusiva à Agência Gestão CT&I de Notícias.

comerciais de satélitesCom a criação da empresa, o país terá a capacidade para fazer lançamentos comerciais de satélites. De acordo com Coelho, as conversas estão adiantadas. No entanto, para não atrapalhar o processo de desenvolvimento da nova instituição, ele não quis citar os nomes das empresas envolvidas nas negociações. O presidente informou que organizações de grande porte estão à frente das discussões para integrar a empresa de lançadores.

“A maioria das empresas grandes estão pensando nisso. Ao ver que na área de satélites está começando a funcionar, é natural que na área de lançadores também apareçam iniciativas como essa. Empresas grandes que desejam se tornar empresas integradoras”, afirmou.

A nova empresa terá ações integradas com o Programa Espacial Brasileiro (PEB). Ela deverá trabalhar com as iniciativas que já estão bem caminhadas, em conjunto com a área executora do PEB que é o Departamento de Ciência e Tecnologia da Aeronáutica (DCTA) e a AEB. Segundo Coelho, os atos iniciais da entidade estarão focados no término do Veículo Lançador de Satélites (VLS).

O presidente da AEB também destacou que a atuação do governo brasileiro na nova empresa é fundamental. Ele destacou que a área espacial ainda não desponta como um setor de negócios que dê grandes retornos para as empresas. O auxilio governamental viria, em sua maioria, para a infraestrutura tanto na parte física quanto na laboratorial.

Sobre a possibilidade de sucesso da empresa integradora, o presidente da AEB é enfático. “Se o país conseguir elencar objetivos e escolher prioridades importantes, em breve terá os primeiros lançamentos com equipamentos brasileiros”, disse.

Benefícios

Além de possibilitar que o Brasil tenha autonomia no acesso ao espaço, a capacidade de desenvolver foguetes permitirá que o país assegure um lugar no seleto e bilionário mercado de lançamento de satélites.

O Brasil tem grandes possibilidades nesta área devido às vantagens comerciais possibilitadas pela localização do Centro de Lançamento Alcântara (CLA). Situado a 2,2 graus da linha do equador, cada lançamento feito a partir do CLA pode valer até 30% menos que em outros centros instalados no resto do mundo, especialmente por causa da economia de combustível

Fonte: Agência Gestão CT&I
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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Satélite de observação francês para o Peru?


De acordo com a imprensa peruana, o ministro da Defesa do Peru, Pedro Cateriano, teve uma reunião este mês com o ministro de Assuntos Estrangeiros da França, Laurent Fabius, para discutir a possível aquisição pelo país sul-americano de um satélite de observação junto a indústrias francesas, possivelmente da Astrium, do grupo EADS, ou da Thales Alenia Space. A reunião segue uma visita oficial de Cateriano à França em novembro de 2012, ocasião em que o tema foi também discutido.

A aquisição, em discussão há há vários anos, envolveria uma negociação de governo a governo.

Ainda segundo a imprensa local, o governo peruano tem grande interesse em dispor de um satélite de observação ótico para vigilância e controle das forças armadas em zonas afetadas por ações terroristas e de narcotráfico.
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Estudante do ITA é premiado pela Astrium


Astrium premia o melhor estudante de engenharia aeroespacial do ITA

26/02/2013

A Astrium, em parceria com a Equatorial Sistemas, uma empresa do grupo da Astrium, premiou ontem o aluno com o melhor desempenho acadêmico em 2012 da primeira turma de Engenharia Aeroespacial do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O 1° Tenente Engenheiro Levi Maia Araújo recebeu o Prêmio Equatorial-Astrium durante a cerimônia da Aula Magna de 2013 do ITA, que ocorreu nesta segunda-feira (25), e fará uma viagem de trabalho à Europa para conhecer a Astrium, a empresa líder em tecnologias espaciais na Europa.

O Tenente Araújo, de 21 anos, é um dos dez alunos do curso de Engenharia Aeroespacial, lançado em 2008 pelo ITA. Ele ficará por três meses na Europa, a convite da Astrium, e terá a oportunidade de conhecer as instalações da empresa, interagir com pesquisadores e engenheiros, e participar de pesquisas e projetos espaciais desenvolvidos na empresa com tecnologia de ponta.

No evento, o Tenente Araújo recebeu o prêmio das mãos de Jean Noël Hardy, diretor-geral da Astrium do Brasil, e do presidente da Equatorial Sistemas, Dr. César Celeste Ghizoni. Ao oferecer novas oportunidades de trocas de conhecimentos na área da indústria espacial, a Astrium e a Equatorial Sistemas pretendem incentivar o interesse dos brasileiros no setor.

"A Astrium tem uma grande vontade de contribuir no desenvolvimento das atividades espaciais no Brasil. Estamos orgulhosos de premiar o melhor aluno de Engenharia Aeroespacial do ITA com o intuito de incentivar os profissionais brasileiros da indústria a colocar em prática seus excelentes projetos e idéias que podem desenvolver a indústria espacial no Brasil, bem como em outras partes do mundo ", explicou Jean Noël Hardy.

O evento marcou o início do ano letivo do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, ligado ao Comando da Aeronáutica, e que oferece também os cursos de Engenharia Aeronáutica, Eletrônica, Mecânica Aeronáutica, Infraestrutura Aeronáutica e Computação.

O ministro da Defesa, embaixador Celso Amorim, proferiu a Aula Magna de 2013, no Auditório Professor Francisco Antonio Lacaz Netto. A solenidade contou ainda com a presença do Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Juniti Saito, do Diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), o Tenente-Brigadeiro do Ar Ailton dos Santos Pohlmann, do Reitor do ITA, engenheiro e economista Carlos Américo Pacheco, além de outras autoridades civis e militares.

Fonte: Astrium, com edição do Blog Panorama Espacial.

Atualização, 27/02/2013, às 20h45: o 1° Tenente Engenheiro Levi Maia Araújo entrou em contato com o blog para informar que sua idade correta é 21 anos, e que são 10 os formandos em Engenharia Aeroespacial no ITA, e não 9 como informado no texto, já corrigido.
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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Amorim: retomada de voos do VLS para "muito breve"

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Celso Amorim anuncia para “muito breve” a retomada dos voos do VLS

São José dos Campos (SP), 25/02/2013 – O Brasil retomará o projeto de lançamentos de satélites e microssatélites para “muito breve”. O anúncio foi feito nesta segunda-feira, pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, durante aula magna para 124 alunos aprovados no curso do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Segundo Amorim, “projetamos a retomada dos voos do VLS [Veículo lançador de Satélite], já que neste ano terá seu primeiro ensaio elétrico”.

“Na sequência teremos o lançamento do VLM [Veículo Lançador de Microssatélite]. Nesses e em outros programas que envolvem a cooperação junto a parceiros do mundo desenvolvido, o princípio do fortalecimento tecnológico da base industrial brasileira constitui uma referência permanente”, explicou o ministro sem querer determinar prazo para a retomada.

Amorim iniciou a palestra para os alunos explicando que por sua formação na área de humanas poderia cair em lugar comum com um discurso para estudantes que têm a base nas ciências exatas. Por isso, conforme explicou, convidou-os a uma reflexão sobre como a política de defesa brasileira “pode se preparar para os desafios futuros”.

“Assim, ainda que vocês não estejam particularmente interessados pela política mundial, saibam que a política mundial se interessará pelos progressos que vocês farão”, disse.

A partir daí, Celso Amorim foi expondo para os acadêmicos os movimentos de formação de blocos econômicos e políticos. O ministro lembrou da criação do Mercosul, em 1991, quando Brasil, Argentina, Chile e Uruguai se uniram para intensificar o comércio e interagir suas cadeias produtivas, passando a contar com a Venezuela, no ano passado, e a Bolívia que em breve deverá se integrar ao bloco.

O ministro destacou mais recentemente a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), que expandiu a integração para o campo político. Segundo Amorim, a decisão de criar a Unasul levou em consideração o fato de que o mundo é atualmente organizado ao redor de grandes blocos.

“A União Europeia, apesar de todas as dificuldades por que tem passado, é, evidentemente, um grande bloco; os Estados Unidos são um bloco em si; o mesmo ocorre com a China e, até certo ponto, com a Índia; outras regiões, embora em estágios distintos de integração, tratam de agrupar-se, como a União Africana e a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean)”, explicou.

Celso Amorim entremeou a palestra entre o improviso e o texto preparado para a aula magna. Durante pouco mais de 50 minutos, o ministro destacou a aproximação do Brasil com a África, bem como a integração das nações sul-americanas com o Caribe e a América Central.

No discurso, mencionou a participação das Forças Armadas nas missões de paz sob liderança da Organização das Nações Unidas (ONU), na mobilização dos governos do Brasil e da Turquia no embate sobre o programa nuclear do Irã e voltou a defender mudanças no Conselho de Segurança da ONU que permitam a inclusão de novos integrantes, como por exemplo, o Brasil.

Amorim também enfatizou a presença brasileira no extremo sul do atlântico, na Antártica, “onde a reestruturação da Estação Comandante Ferraz já está em curso”. E seguiu: “Atlântico Sul e África são dois espaços de natural presença brasileira”.

Na palestra, o ministro lembrou, ainda, de sua passagem pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, quando foi assessor internacional daquela pasta.

Novos cargos

Durante a aula magna, Celso Amorim informou que foi autorizada a contratação de 800 novos cargos no Centro Técnico Aeroespacial, fato que “dará novo ímpeto a esse setor absolutamente estratégico para a modernização de nossa defesa”. Lembrou que isso é fruto de parceria firmada com o Ministério da Educação.

“O ITA é uma referência nacional e internacional como instituição de excelência na área de ciência e tecnologia. Os trabalhos e pesquisas desenvolvidos nesse instituto foram e são motivo de orgulho para todos os brasileiros, e têm merecido crescente atenção no governo da presidenta Dilma Rousseff”, destacou.

Após a palestra, Amorim, na companhia do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, do reitor do ITA, Carlos Américo Pacheco, e de oficiais da Força Aérea, percorreu as dependências da instituição. No trajeto, o ministro conversou com um grupo de alunos que destacou a importância do instituto na formação profissional militar e civil.

Fonte: Ministério da Defesa

Comentário: existe a expectativa de que um voo experimental, da parte baixa do VLS-1 (1º e 2º estágios) ocorra entre o final deste ano e início de 2014.
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"Anotações às vésperas da Cúpula do BRICS", artigo de José Monserrat Filho

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Anotações às vésperas da Cúpula do BRICS

José Monserrat Filho *

“É possível reinventar o modelo de relações entre estes Estados, livres das amarras que parecem vincular outros quadros regionais.” Paulo Borba Casella ¹

O Brasil mantém excelentes laços de cooperação com China e Rússia, que, por sua vez, também desenvolvem excelente relações, a começar pela área de política internacional. Isso fortalece o BRICS, fórum também integrado pela Índia e a África do Sul, que deve realizar sua próxima Reunião de Cúpula na cidade sul-africana de Durban, em 26 e 27 de março. O BRICS tem despertado especial atenção do mundo inteiro, sobretudo dos países desenvolvidos.

Não por acaso, a conceituada Universidade de Leiden, na Holanda, promoverá o “Simpósio sobre Aspectos Políticos e Jurídicos da Cooperação Espacial entre a Europa e os Países do BRICS - Inventário, Desafios e Oportunidades”, em 16 de maio próximo. Para esse evento inédito no chamado mundo avançado, estão convidados o Prof. Paulo Borba Casella, da Faculdade de Direito da Universidade de São Pulo, que abordará o tema “BRICS: Do Conceito à Realidade”, e o autor destas linhas, que falará sobre a “Cooperação Espacial Brasil-China ¨- o Programa CBERS”. Será um encontro interdisciplinar, co-organizado pelo Instituto Internacional de Direito Aeronáutico e Espacial da Faculdade de Direito e pelo Departamento de Estudos Latino-Americanos da Faculdade de Humanidades da Universidade de Leiden, a mais antiga do país, criada em 1575.
Rússia e China

Os Ministros das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e da China, Yang Jiechi, tiveram importante encontro em Moscou na sexta-feira, 22 de fevereiro. Entenderam-se até sobre a situação na Síria, com a meta sensata de evitar o aumento dos conflitos dentro e fora do país. A unidade sino-russa, anunciada pela France Press, inclui um fato de suma relevância política e diplomática: a Rússia poderá ser o primeiro país a ser visitado pelo Presidente eleito da China, Xi Jinping, agora em março, logo após sua confirmação como Chefe do Estado, sucedendo a Hu Jintao. Xi Jinping e o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, participarão, a seguir, da Cúpula do BRICS, em Durbam, onde certamente empenharão todo o seu prestígio.

“Rússia e China sustentam as mesmas posições e as aplicam nas negociações sobre o Oriente Médio, o Norte da África, a crise síria, o Afeganistão, o programa nuclear iraniano, além de outras situações críticas”, declarou Lavrov à imprensa, ao lado de Yang. E acrescentou: “Em todos esses casos, nós e nossos amigos chineses orientamo-nos pelo mesmo princípio da necessidade de se respeitarem o direito internacional e os procedimentos da ONU, de não se permitir a interferência nos conflitos domésticos e, mais que tudo, o uso da força”. Os dois chanceleres consideram “inaceitável” o terceiro teste nuclear realizado pela Coreia do Norte, no início deste mês.

Ainda segundo a France Press, Yang teve na ocasião uma conversa a portas fechadas com Putin, de onde saiu afirmando que “as relações sino-russas são de enorme importância não apenas para os nossos países, como também têm influência sobre o fortalecimento da paz e do desenvolvimento no planeta como um todo”. O ministro chinês disse ainda que o volume de comércio entre os dois países superou os 80 bilhões de dólares, em 2012, e que “há boas razões” para crer que esse montante poderá chegar a 100 bilhões, em três anos, ou seja, lá por 2015.

Apesar da clara sintonia, russos e chineses ainda não lograram concluir a venda de quase 70 bilhões de metros cúbicos anuais de gás da Rússia para a China nos próximos 30 anos. A empresa Gazprom, da Rússia, e a Companhia Nacional de Petróleo da China, que firmaram acordo-quadro em 2009, seguem discutindo a questão do preço. Mas, dado o significado do tema, não se descarta a possibilidade de os dois países resolverem o impasse antes da Cúpula do BRICS. Seria uma demonstração insofismável de aliança sólida e de muito longo prazo.

Brasil e Rússia

A Declaração Conjunta da VI Reunião da Comissão Brasileiro-Russa de Alto Nível de Cooperação, assinada  pelo Vice-Presidente do Brasil, Michel Temer, e pelo Chefe do Governo da Rússia, Dmitry A. Medvedev, em Brasília, em 20 de fevereiro, deixou clara a amplitude dos temas discutidos entre os dois países. Os dois mandatários “ressaltaram a importância do fluido diálogo político no âmbito de sua Parceria Estratégica e mostraram satisfação pelos resultados da Reunião de Consultas Políticas (...)”. A Comissão analisou grandes temas da agenda internacional: cooperação em fóruns multilaterais, ONU, BRICS, G20, entre outros; reforma da ONU e de seu Conselho de Segurança; o impacto da crise econômico-financeira mundial na política global; não-proliferação de armas nucleares, desarmamento e controle de armas; cooperação internacional no combate aos novos desafios e ameaças; e Direitos Humanos. Tratou-se, ainda, da atual situação do Oriente Médio, Norte da África, região do Cáucaso, da América Latina e Caribe, Comunidade de Estados Independentes, Mercosul, Unasul, Celac, OEA, União Aduaneira e União Euro-Asiática.

Os dois países decidiram também iniciar negociações para a compra de baterias antiaéreas russas pelo Brasil, o desenvolvimento conjunto de novos produtos de defesa, e a transferência de tecnologia para a participação de empresas estratégicas brasileiras nos processos de produção e sustentabilidade logística integrada.

A Presidente Dilma Rousseff recebeu o Premier Medvedev no Palácio do Planalto e lembrou sua visita a Moscou, em dezembro de 2012, quando o Presidente Vladimir Putin lhe manifestou o apoio russo ao Programa Ciência sem Fronteiras, do Brasil. Dilma frisou naquele encontro: “A Rússia tem enormes conhecimentos acumulados em áreas como engenharia aeronáutica, exploração de gás e petróleo, mineração. Queremos que brasileiros possam usufruir desses conhecimentos, o que fortalecerá parcerias produtivas em nossos países”.

Agora, a Rússia vem de integrar-se oficialmente ao Programa Ciência sem Fronteiras, executado pelo CNPq e Finep, para a formação de especialistas brasileiros em universidades, centros de pesquisa e empresas russos. O respectivo Memorando de Entendimento foi firmado pelo Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, Marco Antonio Raupp (ao lado do Secretário Executivo do Ministério da Educação, José Henrique Paim; a Finep está subordinada a esse Ministério) e pelo Vice-Ministro de Educação e Ciência da Rússia, Igor Fedyukin.

O Programa Ciência sem Fronteiras será, igualmente, a base de apoio do sistema lançado pela AEB para formar especialistas em áreas espaciais em parceria com agências espaciais dos países mais avançados no setor, inclusive e, em especial, a Roscosmos, da Rússia.

A propósito, o Premier Medvedev anunciou a intenção da Rússia de propor “uma série de novos projetos” conjuntos com o Brasil nas áreas de tecnologia espacial, petróleo e energia atômica. E disse: “Podemos estabelecer uma aliança tecnológica que ajude nossos povos e nossas empresas”.

Cooperação espacial

A Declaração Conjunta saudou a inauguração na Universidade de Brasília (UnB), em 19 de fevereiro, da estação de referência de correção diferencial do sistema russo de navegação por satélites GLONASS, bem como a assinatura do contrato entre a Fundação UnB e a Corporação de Pesquisa Científica e Produção "Sistemas de Medição Precisa" (OAO NPK SPP)” para instalação, uso e pesquisa no Brasil da Estação Óptica, equipada com Estação de Medição Unidirecional (OWS) MS GLONASS (Sazhen-TM-OWS), no Brasil.

Os dois países também estão prontos para estudar o aumento da participação brasileira no desenvolvimento e uso do sistema GLONASS, conforme prevê o programa de cooperação entre a Agência Espacial Brasileira e a Roskosmos, a agência espacial russa.

A declaração saudou ainda a conclusão do Memorando de Entendimento entre a empresa JSC “Tecnologias Russas da Navegação” e a Prefeitura de Goiânia, através da Secretária Municipal de Desenvolvimento Urbano Sustentável, estabelecendo cooperação em torno do Projeto “Goiânia Sustentável”, com a troca de especialistas, desenvolvimento de pesquisa e capacitação de pessoal.

Rússia e China

Ambos planejam ampliar seu mercado espacial. Ao deixar Brasília, o Premier Medvedev viajou para Havana, onde informou à agência UPI e à imprensa cubana, em 22 de fevereiro, que a Rússia deseja aumentar sua participação no mercado global de serviços espaciais dos atuais 10% para 15%. Ele afirmou: "Queremos não ser apenas uma potência científica líder, um país empenhado em pesquisa espacial, mas também um protagonista no mercado de serviços espaciais”. E argumentou: “Fomos os primeiros no espaço e acreditamos que essa é a nossa vantagem competitiva. Mas é impossível não investir no espaço. Se nos louvamos só pelo lançamento do primeiro satélite e do voo de Gagarin, nós simplesmente ficaremos para trás.” Medvedev observou que o objetivo principal da Rússia na expansão de seu mercado espacial é colocar mais satélites em órbita e promover mais lançamentos internacionais.

A Rússia, sabe-se, está reavaliando seu programa espacial, a fim de investir nele 69 bilhões de dólares até 2020, ou seja, uma média de 8,625 bilhões por ano. Nada mal.

Brasil e China

Está programado para este primeiro semestre de 2013 o lançamento do satélite CBERS-3, que não pôde ser lançado no fim de 2012, como previsto, por problemas surgidos com equipamentos adquiridos para o satélite capazes de comprometer o êxito da missão. As equipes técnicas brasileira e chinesa trabalham a todo o vapor para levar a cabo a operação o quanto antes.

Os grupos de trabalho designados pelos dois países devem iniciar em breve seus encontros destinados à elaboração do Plano Decenal de Cooperação Espacial Brasil-China, conforme decisão adotada pelos respectivos governos. A iniciativa de criar e executar um plano de cooperação espacial ao longo de dez anos é inédita na história das atividades espaciais.

O Brasil começa o ano de 2013 comprometido com os objetivos e metas traçadas pelo novo Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE 2012-2021), que tem como prioridade maior “impulsionar o avanço industrial”. Esse esforço já se reflete no trabalho em pleno andamento da nova empresa Visiona, constituída pela Telebras, do Ministério das Comunicações, e pela Embraer, empresa privada de reconhecido prestígio internacional, que coordena a construção do primeiro Satélite Geoestacionário de Comunicação e Defesa (SGDC) do Brasil, a ser lançado em 2014.

A China promete, para este ano, nada menos de 20 lançamentos espaciais, inclusive o da sua primeira sonda a pousar na Lua, a Chang'e-3, e o Shenzhou-10, nave que dará início à construção da primeira estação espacial do país. A missão para coletar amostras do solo e de rochas da Lua está prevista para 2017. Fontes oficiais dão conta de que, em 2020, a China planeja ter em órbita 200 objetos espaciais ativos, que poderão representar cerca de 20% do total que existirá então.

Mesmo sem falar nos programas espaciais e de outras esferas de cooperação internacional da Índia e da África do Sul (países com os quais o Brasil desenvolve o projeto do satélite IBAS), há boas razões para acreditar que a Cúpula do BRICS será um evento positivo, otimista e rico em perspectivas, tanto para seus países membros como para o mundo inteiro. Algo bem diferente do que se observa em outras regiões e fóruns do planeta. Isso poderá ficar ainda mais claro se nossa grande mídia se dispor a cobrir o encontro, dando-lhe a importância e o peso que ele já conquistou.

* Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB.

Referências

1) Casella, Paulo Borba, BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul: uma perspectiva de cooperação internacional, São Paulo: Atlas, 2011. Casella, autor de inúmeros livros, é Professor Titular de Direito Internacional Público e Chefe do Departamento de Direito Internacional da Faculdade de Direito da Universidade de São Pulo (USP).
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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Paraguai quer criar agência espacial


De acordo com reportagens publicadas na imprensa paraguaia, o congresso do país vizinho analisa uma proposta do Executivo prevendo a criação da Agencia Nacional Espacial del Paraguay (AEP), que terá por objetivo colocar um satélite, de tipo não especificado, em órbita.

A AEP teria como responsabilidades a elaboração do programa nacional de satélites, a proposição do intercâmbio científico, tecnológico e acadêmico, assim como o ensino, pesquisa e difusão das matérias relacionadas às atividades espaciais. A agência teria ainda por competências regular e fiscalizar as condições de elegibilidade para as concessões, outorgas e cessões de licenças do uso de tecnologia aeroespacial, segundo o anteprojeto em análise pelo congresso paraguaio.
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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

SGDC: RFP está "na rua"


Propostas para o satélite brasileiro devem ser entregues até 8 de abril; Telebras escolherá

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013, 20h22 

Já está "na rua" desde o dia 15 de fevereiro a Request for Proposal (RFP) da Visiona, joint-venture entre a Telebras e a Embraer, para a contratação do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação Estratégica (SGDC). Segundo apurou este noticiário, entre as empresas que retiraram o documento estão os principais players do setor: as francesas Thales Alenia e Astrium; as americanas Loral, Boeing e Orbital; e a japonesa Mitsubishi.

Trata-se da contratação de uma solução completa, ou seja, inclui o artefato (o satélite em si) e o veículo lançador (foguete). Os fornecedores do artefato, portanto, devem apresentar propostas conjuntas com o lançador. Os gateways que ficam em terra serão objeto de uma contratação direta da Telebras.

O prazo final para envio das propostas é o dia 8 de abril. Depois disso, a Visiona tem até junho para elaborar um relatório-síntese de todas as propostas e remetê-lo à Telebras e ao governo, que escolherão a proposta vencedora levando em conta o que foi oferecido em termos de transferência de tecnologia.

Fonte: Teletime
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Cooperação Brasil - Rússia


Um dos tópicos mencionados na Declaração Conjunta emitida pelos governos do Brasil e da Rússia, por ocasião da VI Reunião da Comissão Brasileiro-Russa de Alto Nível de Cooperação, que aconteceu esta semana em Brasília (DF), trata de cooperação na área espacial. Reproduzimos abaixo:

"COOPERAÇÃO NA ÁREA ESPACIAL

30. Os Mandatários saudaram a inauguração de estação de referência de correção diferencial do sistema de localização GLONASS no Brasil, no campus da Universidade de Brasília, e a assinatura de contrato entre a Fundação Universidade de Brasília e a "Corporação de Pesquisa Científica e Produção "Sistemas de Medição Precisa" (OAO NPK SPP)” para instalação, uso e pesquisa da Estação Óptica (EO), equipada com Estação de Medição Unidirecional (OWS) MS GLONASS - (Sazhen-TM-OWS) no território da República Federativa do Brasil. Os Mandatários manifestaram disposição em explorar possibilidades de ampliação da participação brasileira no desenvolvimento e uso do sistema de navegação GLONASS, tal como estabelecido no programa de cooperação entre a Agência Espacial Brasileira e a Roskosmos.

31. Os Mandatários saudaram a assinatura do Memorando de Entendimento entre a JSC “Tecnologias Russas da Navegação” e o Município de Goiânia sob a Interveniência da Secretária Municipal de Desenvolvimento Urbano Sustentável, que estabelece cooperação entre as duas instituições no âmbito do Projeto “Goiânia Sustentável” e prevê troca de peritos, desenvolvimento de projetos de pesquisa e capacitação."

Programa Ciência sem Fronteiras

Em nota divulgada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, foi também dado destaque à participação da Rússia no Programa Ciência sem Fronteiras, para a formação de especialistas brasileiros no exterior.

“A Rússia se integra ao programa Ciência sem Fronteiras abrindo as portas de suas universidades e, portanto, da sua alta tecnologia, para os estudantes brasileiros”, anunciou Michel Temer, vice-presidente da República. A parceria envolverá, além do envio de bolsistas de graduação, doutorado e pós-graduação, o intercâmbio de professores e pesquisadores.

O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, citou a intenção da Rússia em realizar “uma série de novos projetos” conjuntos nas áreas de tecnologia espacial, petróleo e energia atômica. “Podemos estabelecer uma aliança tecnológica que ajude nossos povos, nossas empresas”, disse. “E estamos esperando estudantes brasileiros.”
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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Cooperação Brasil - Rússia: Glonass


Primeira estação do Glonass fora da Rússia é instalada na UnB

Brasília, 19 de fevereiro de 2013 – A Agência Espacial Brasileira (AEB), a Universidade de Brasília (UnB), e a Agência Espacial Russa (Roscosmos) inauguraram, hoje (19), a estação do sistema de referência para o Sistema de Correção Diferencial e monitoramento do Sistema de Navegação Global por Satélite (Glonass) – o sistema de navegação por satélite russo. Esta é a primeira estação do Glonass instalada fora da Rússia.

Semelhante ao Global Positioning System (GPS), o Glonass localiza posições na superfície terrestre utilizando 24 satélites espalhados pela órbita da Terra. A estação instalada na UnB é destinada a melhorar o sinal do sistema para usuários finais. Os dados recebidos pela estação serão primeiramente processados no Brasil e depois enviados à Rússia para que seja feito um processamento mais preciso.

Além de ser um importante componente para redução do erro de posicionamento do sistema Glonass na América do Sul, a instalação beneficiará pesquisas na área aeroespacial desenvolvidas nos laboratórios de Automação e Robótica (LARA) e de Biomédica (LAB) da UnB. Será importante, também, para as aplicações satelitais e para estudos geodésicos da universidade. As informações geradas pelo sistema poderão ser usadas em pesquisas por cientistas, especialistas da área e estudantes.

Segundo o vice-chefe da Roscosmos, Sergey Saveliev, a UnB e empresas russas assinarão, nesta quarta-feira (20), acordo para que outras duas estações sejam instaladas no Brasil. Os dados das três serão usados em conjunto. Outras ações na área espacial entre os dois países estão em estudo.

Segundo o presidente da AEB, José Raimundo Coelho, a UnB foi uma escolha certa para receber a estação por ser há anos comprometida com as atividades espaciais. “Acredito que a parceira entre os dois países trará benefícios tanto para o Brasil quanto para a Rússia. Capacitaremos nossos profissionais e eles terão um sistema mais eficiente”, afirmou o presidente.

Participaram do evento o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Coelho; a vice-reitora da Universidade de Brasília, Sônia Báo; o vice-chefe da Agência Espacial Russa (Roscosmos), Sergey Saveliev; o diretor geral da JSC (Sistemas Espaciais da Rússia), Andrey Chimiris; o coordenador da Estação Glonass na UnB, Profº Ícaro dos Santos; os diretores da AEB, Carlos Gurgel e Petrônio Souza, e ainda o Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB, José Monserrat.

ESTAÇÃO - Três especialistas russos vieram a Brasília instalar a estação no telhado do novo prédio do Centro de Processamento de Dados (CPD). O equipamento trazido da Rússia conta com uma antena e dois racks com processadores, um para receber o sinal e outro para transmitir informações para sede do projeto na Rússia. Até 2020, a Roscosmos espera ter 56 estações semelhantes a esta que está sendo montada na UnB. Outras 22 estações iguais às da UnB já funcionam em território russo, uma delas na Antártida.

Fonte: AEB
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"Explorando Marte com o Robô Curiosity"



"Explorando Marte com o Robô Curiosity", por Nilton Rennó

No dia 7 de março próximo o Prof. NILTON RENNÓ, da Universidade de Michigan, a convite de nosso Associado ROGÉRIO PIRK, apresentará uma interessante Palestra sobre o projeto, o ambiente de trabalho, o local de pouso e outros aspectos mais do robô Curiosity que se encontra no Planeta Marte. A apresentação incluirá uma discussão dos resultados iniciais da missão do Curiosity.

A palestra terá inicio as 19h00, no Auditório do MAB - Memorial Aeroespacial Brasileiro, em São José dos Campos (SP).

Fonte: Associação Aeroespacial Brasileira
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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Inauguração de estação do Glonass na UnB


A Agência Espacial Russa – Roscosmos – inaugura uma estação do Sistema de Monitoramento e Correção Diferenciada integrando o Sistema de Navegação Global por Satélite (GLONASS), na próxima terça-feira (19/2), às 11h. O evento, que contará com a presença de autoridades brasileiras e russas, será no prédio do Centro de Processamento de Dados (CPD) do Campus  Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB).

Esta estação, a primeira montada fora da Rússia, é um importante componente para a redução do erro de posicionamento do GLONASS – Sistema de Navegação Global por Satélite –, que proporciona com eficiência um serviço mundial de navegação em tempo real e serviços de tempo de atualização do posicionamento para um ilimitado número de usuários na terra, no mar, no ar e no espaço, semelhante ao Sistema Posicionamento Global (GPS). A instalação da base na UnB beneficiará pesquisas na área aeroespacial, desenvolvidas nos laboratórios de Automação e Robótica (LARA) e de Engenharia Biomédica (LAB) da universidade.

Fonte: Roscosmos

Comentário: Brasília receberá esta semana uma visita oficial de comitiva russa liderada pelo premiê Dmitri Medvedev, e possíveis anúncios de cooperação e acordos nas áreas de defesa e espaço podem acontecer.
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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

R$400 milhões para lançadores em 2013


Dez anos depois de tragédia, Base de Alcântara ainda finaliza reconstrução

Este ano, a AEB deve contar com um orçamento de R$ 400 milhões para investimentos em lançadores, satélites e infraestrutura 

Quase uma década depois da explosão do foguete VLS-1 V03, no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, que matou 21 técnicos civis e destruiu a torre de lançamento, a infraestrutura da base maranhense ainda não está 100% recuperada. A expectativa da Agência Espacial Brasileira (AEB) é que, só em dois anos, todo o trabalho esteja concluído.

"Ainda carece de um bom investimento para terminar essa infraestrutura, que vai servir para dois sítios simultaneamente: um especificamente para lançar o Cyclone-4, parceria que nós temos com a Ucrânia, e o outro que é para lançar os nossos lançadores", disse à Agência Brasil, o presidente da AEB, José Raimundo Coelho.

O objetivo da Operação São Luís, que terminou em tragédia no dia 22 de agosto de 2003, era colocar em órbita o satélite meteorológico Satec, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e o nanossatélite Unosat, da Universidade do Norte do Paraná. Foi a primeira e única tentativa brasileira de colocar um satélite em órbita a partir de uma base nacional. [Nota do blog: esta informação é imprecisa. Houve outras duas tentativas de lançamento do VLS-1, em 1997 e 1999, respectivamente, ambas mal-sucedidas]

O Brasil, no entanto, já voltou a fazer lançamentos a partir da Base de Alcântara. Em 2010, foi lançado o foguete brasileiro de médio porte VSB-30 V07.

De 2004 a 2012, foram investidos pouco mais de R$ 582 milhões em infraestrutura e sistemas para o Centro de Lançamento de Alcântara. Nos próximos dois anos, a previsão do Programa Nacional de Atividades Espaciais é que R$176 milhões sejam empregados para o mesmo fim.

Segundo o presidente da AEB, o Brasil aprendeu muito com a tragédia, principalmente no que diz respeito à prevenção de acidentes.

"Toda operação que envolve combustível pesado, como é o caso espacial, tem que ter senhoras precauções. Digamos que a nossa primeira iniciativa não foi focada nisso, porque a gente jamais poderia imaginar que poderia acontecer aquele acidente. Foi fatal e foi uma surpresa total para nós", reconheceu.

A construção de uma nova torre de lançamento foi totalmente concluída e entregue em outubro de 2012, depois da realização de testes que mostraram que a estrutura está preparada para um feito inédito: lançar um foguete com satélite de uma base própria.

Pelas previsões da AEB, o foguete ucraniano Cyclone-4 será o primeiro a ser lançado na base, fora da fase de testes, desde a explosão da torre. Pela cooperação, firmada no mesmo ano do acidente, a Ucrânia é responsável por desenvolver e fabricar os equipamentos do foguete.

Já ao Brasil cabe a construção da infraestrutura física e de comunicações do Centro de Alcântara. Ainda não há data marcada para o lançamento do foguete, mas a intenção é que isso ocorra em 2014.

Para que o Centro de Lançamento de Alcântara volte a operar, o novo projeto de construção da torre envolveu ajustes, sobretudo na área de segurança. Entre as novidades estão a instalação de sistema de proteção contra descargas atmosféricas, a construção de uma área de fuga e a automatização de sistemas.

"O posto de comando é belíssimo, competitivo com qualquer outro do mundo. Tem modernidades que outros lugares não tem, como, por exemplo, uma torre que se ajusta a vários tipos de lançadores" explicou José Raimundo.

Ainda segundo José Raimundo, os planos para a base de Alcântara são audaciosos. Quando tudo estiver pronto, a intenção é que ela seja usada para vender serviços a preços mais competitivos. "Nossa posição é bem embaixo da órbita geoestacionária. Se você for lançar lá do Hemisfério Norte, longe do Equador, significa muito mais combustível, muito mais dinheiro gasto. De lá, você pode economizar 30% no lançamento", estimou.

A idéia é que, se o Brasil tiver lançadores eficientes, a partir de um local estrategicamente bem posicionado, a demanda por serviços aumente muito. "Podemos lançar satélite do mundo todo e cada lançamento custa cerca de US$ 50 milhões", aposta o presidente da AEB.

Este ano, a AEB deve contar com um orçamento de R$ 400 milhões para investimentos em lançadores, satélites e infraestrutura. O presidente da agência reconhece que os recursos estão muito aquém do necessário, mas segundo ele, já são o dobro do empenhado no ano passado.

"Para a infraestrutura de Alcântara, nós estamos solicitando ao governo brasileiro um suplemento emergencial, devido a esse compromisso que nós temos com a Ucrânia [de lançar o Cyclone-4], isso vai acrescentar R$ 200 milhões ao orçamento", disse.

Fonte: Agência Brasil
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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Brasil quer lançar satélite com foguete nacional até 2021


13/02/2013

Assistir à televisão, conferir a previsão do tempo, falar ao telefone e até receber alertas por causa de chuva são atividades comuns que se tornaram possíveis graças aos satélites. Os três últimos colocados em órbita pelo Brasil - chamados Cbers, Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, do inglês China-Brazil Earth-Resources Satellite - foram lançados de base chinesa.

No ano em que o acidente na Base de Alcântara completa 10 anos, o país divulga o seu quarto programa espacial. O desafio é lançar até 2021 um satélite desenvolvido no Brasil, acoplado a um foguete nacional, a partir de um centro de lançamento próprio.

Enquanto o plano ainda não for possível, o Brasil se prepara para colocar em órbita mais um satélite de uma base chinesa, o Cbers-3. O lançamento estava programado para o fim do ano passado, mas foi adiado para o primeiro semestre deste ano porque conversores comprados nos Estados Unidos apresentaram falhas nos testes finais.

O Cbers-3 será o primeiro da família de satélites sino-brasileiros a integrar uma câmera para satélite 100% desenvolvida e produzida no Brasil. A câmera vai registrar imagens para o monitoramento de recursos terrestres. Já foram lançados os Cbers 1, 2 e 2-B.

Brasil e China são parceiros na área espacial desde 1988, quando iniciaram a cooperação para o desenvolvimento do Programa Cbers. O objetivo é implantar um sistema completo de sensoriamento remoto de nível internacional, no qual satélites sejam responsáveis pelo monitoramento de desmatamentos, da expansão urbana e da agropecuária.

Para fortalecer o Programa Espacial Brasileiro, em 2013, haverá mais ações voltadas para a formação de pessoas na área aeroespacial, entre elas, enviar estudantes brasileiros, por meio do Programa Ciência sem Fronteiras, para se especializarem em países já desenvolvidos na área espacial e, também, trazer especialistas desses países para o Brasil.

“Dessa forma, um dos grandes gargalos de nosso programa espacial, a falta de mão de obra especializada, começará a ser sanado”, explicou o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Coelho.

Fonte: Agência Brasil
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sábado, 9 de fevereiro de 2013

Amazonas 3 em órbita

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Foi lançado com sucesso ontem (08), a partir de Kourou, na Guiana Francesa, o satélite geoestacionário de comunicações Amazonas-3, que operará na posição orbital 61º oeste, de direito do Brasil. O Amazonas 3 foi lançado em conjunto com o Azerspace/Africasat-1a, do governo do Azerbaijão, na primeira missão de 2013 do lançador europeu Ariane 5, da Arianespace.

O Amazonas 3 é o novo satélite da Hispamar e do Grupo Hispasat. Sua construção, realizada pela norte-americana Space Systems Loral, envolveu um investimento superior a 200 milhões de euros. Trata-se do primeiro satélite a prestar serviços em banda Ka para a América Latina, contando com 52 transponders simultâneos, sendo 33 em banda Ku, 19 em banda C e 9 spot beans em banda Ka, frequência que possui uma grande capacidade de transporte de dados.
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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

"Acesso autônomo ao espaço - onde o Brasil quer chegar"



Acesso autônomo ao espaço - Onde o Brasil quer chegar

André M. Mileski

Das chamadas potências emergentes, conhecidas pela sigla BRIC, criada em 2003 pelo economista Jim O’Neill, do banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs, o Brasil é, atualmente, o único país a não contar com acesso autônomo ao espaço. A Rússia, pioneira, então União Soviética, alcançou este feito em 1957. A China, em 1970, e a Índia, em 1980. Hoje, estes países não só atendem suas demandas internas, como comercializam serviços de lançamento no mercado internacional e mesmo detêm capacidade madura ou em processo de desenvolvimento para missões espaciais tripuladas.

Muito embora o Brasil ainda não possa fazer isso, o interesse em contar com acesso autônomo, no entanto, não é uma novidade. Desde 1979, com a criação da Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), com iniciativas nas áreas de satélites, infraestrutura terrestre e lançadores, o País vem buscando este acesso, por meio do programa do Veículo Lançador de Satélites, o VLS-1. A partir de 1994, com a criação da Agência Espacial Brasileira (AEB) e do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), atualizado de tempos em tempos, o segmento de lançadores sempre constou dos planos espaciais nacionais.

Em 2005, o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), vinculado ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), do Comando da Aeronáutica, lançou o Programa Cruzeiro do Sul que, num horizonte de 17 anos, visava desenvolver uma família de lançadores de satélites apta a atender as necessidades do seu programa espacial e algumas missões internacionais. Assim, previa-se o desenvolvimento de cinco lançadores de classes distintas (ver box).

Dentro do programa espacial, o Cruzeiro do Sul é visto como conceitual e serve como diretrizes para iniciativas em desenvolvimento ou discussão. Propostas para o desenvolvimento dos VLS-Alfa e Beta, possivelmente em regime de cooperação internacional, foram apresentadas à AEB e estão em análise, estando os conceitos do VLS-Gama, VLS-Delta e VLS-Epsilon em rediscussão, uma vez que apresentam baixa demanda (caso do Gama e Epsilon) ou concorrem com outras iniciativas nacionais (Delta).

Programa Cruzeiro do Sul:

- VLS-Alfa, concebido para atender o segmento de cargas úteis na faixa de 200-400 kg destinados a órbitas equatoriais baixas

- VLS-Beta, capaz de atender missões de até 800 kg para órbita equatorial a 800 km de altitude

- VLS-Gama, destinado a missões de cargas úteis de cerca de 1.000 kg em órbitas heliossíncronas e polares

- VLS-Delta, focado em missões geoestacionárias, com capacidade de colocação de cargas de cerca de 2.000 kg em órbitas de transferência geoestacionária; e

- VLS-Epsilon, para cargas úteis geoestacionárias de maior porte, de cerca de 4.000 kg

Novos impulsos

A edição da Estratégia Nacional de Defesa, em dezembro de 2008, apontou o setor espacial, ao lado do nuclear e cibernético, como um dos seus pilares decisivos. O documento, que serve como diretriz para todo o processo de transformação e atualização das Forças Armadas, indica a necessidade “do desenvolvimento de veículos lançadores de satélites e sistemas de solo para garantir acesso ao espaço em órbitas baixa e geoestacionária”, em processo coordenado pela AEB, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Desde então, iniciativas já em andamento, como o programa VLS, a parceria com a Ucrânia na Alcântara Cyclone Space, e outras novas, como o Veículo Lançador de Microssatélites (VLM) e propostas de cooperação em lançadores de maior porte passaram a ter um maior destaque nos planos do governo.

O VLS

Ao longo de mais de 40 anos, em meio a severas restrições orçamentárias e embargos internacionais, foram três tentativas de lançamento do VLS; em 1997, 1999 e 2003, todas mal sucedidas. Com a tragédia de 2003, que vitimou 21 especialistas do IAE, o programa sofreu um duro golpe, resultando em atraso de vários anos. Apesar do golpe, o projeto continuou e passou por uma revisão crítica que contou, inclusive, com a participação de técnicos da Rússia.

Recentemente, com uma retomada mais clara do Programa Espacial Brasileiro, caracterizada principalmente pela destinação de mais recursos orçamentários, passou a haver mais destaque, com cronogramas claros de retomada. Ensaios de diversos subsistemas do lançador, contratados junto à indústria nacional, são frequentemente realizados nas instalações do IAE em São José dos Campos (SP). Hoje, planeja-se a realização de duas missões tecnológicas, denominadas XVT-1 (VSISNAV) e XVT-2, e uma do lançador completo, com todos os seus estágios, a VO4. O primeiro voo, previsto para ocorrer em 2013, seria constituído de um foguete com o primeiro e segundo estágios ativos, ocasião em que também se pretende testar o sistema de navegação SISNAV. Espera-se que um segundo voo, mais completo, ocorra no ano seguinte, o que depende do repasse de recursos financeiros pela AEB, segundo revelou à T&D o brigadeiro Carlos Kasemodel, diretor do IAE, em entrevista concedida no final de julho.

Em junho e julho de 2012, foi realizada no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, a Operação Salina, período de 26 dias em que foram ensaiados e simulados diversos sistemas da Torre Móvel de Integração (TMI), concluída no final de 2011, visando a verificação da integração física, elétrica e lógica do VLS-1 com a nova torre.

Pouco conhecida para o público em geral, a cooperação entre a agência espacial da Alemanha (DLR) e o IAE completou quatro décadas. Marcada por muitos sucessos e missões conjuntas envolvendo foguetes de sondagem, a atuação dos dois países deve alcançar um novo marco com o Veículo Lançador de Microssatélites (VLM-1), que entrou em fase de projeto em 2012, após um período de estudos de concepção.

Apesar de ser um veículo orbital, a primeira missão prevista para o VLM-1 não será de satelitização, mas sim a realização do experimento SHEFEX 3 (Sharp Edge Flight Experiment), que objetiva testar o comportamento de novos materiais e proteção térmica necessários para se dominar a tecnologia de voos hipersônicos e de veículos lançadores reutilizáveis, previsto para 2015 ou 2016. Além da participação de 25% nos custos de desenvolvimento, estimados em R$100 milhões, os alemães estão envolvidos em áreas como engenharia de sistemas, sistemas de controle e atuadores.

Em sua configuração inicial, o VLM-1 será um foguete de três estágios de propelentes sólidos, sendo os dois primeiros com o motor S50, o maior já desenvolvido e a ser construído no Brasil até hoje; e, o último, o propulsor S44, já qualificado em voo pelo foguete de sondagem VS-40. O S50, que tem 1,45 metro de diâmetro, 5 metros de comprimento e cerca de 12 toneladas de propelente, está sendo desenvolvido pelo IAE, em parceria com os alemães.

O VLM-1 terá capacidade de lançar cargas úteis de até 200 kg em órbita equatorial a 300 km de altitude, ou 180 kg para órbitas inclinadas, em missões científica, tecnológicas ou de observação terrestre. Em sua concepção, baseada no equilíbrio entre confiabilidade e custo, trabalha-se com o objetivo de se criar diferentes versões, mantendo-se os dois primeiros estágios e modificando o terceiro. Dessa forma, com um motor mais potente no terceiro estágio, sua performance poderia ser aprimorada, tornando-o apto a lançar satélites de até 350 kg a 300 km de altitude, em órbita equatorial, ou 150 kg com inclinação de 98 graus a uma altitude de 600 km. Nos planos do IAE, também é considerada a criação de uma versão com um último estágio de propulsão líquida, o que possibilitaria uma maior precisão para a inserção de satélites em órbita, em razão da possibilidade de reignições durante o voo. Esta versão, aliás, é vista como crucial para atender um dos objetivos do projeto, que seria o de atender a um nicho pouco explorado no mercado de lançamentos.

Outro aspecto que deve ser atendido é o de política industrial. Nos últimos anos, o IAE tem dedicado especial atenção à transferência de projetos para o setor industrial espacial, e com o VLM-1 não deve ser diferente. A participação ocorre desde a concepção, passando pelo desenvolvimento e culminando na produção. De fato, a CENIC, de São José dos Campos, já atua no projeto do envelope-motor S50, feito em fibra de carbono, e há expectativa de que o Instituto contrate no futuro outras empresas para atuar no carregamento de propelente e redes elétricas, dentre outros subsistemas.

Propulsão líquida

Paralelamente ao VLS e VLM-1, o IAE também promove iniciativas num domínio considerado essencial para a autonomia brasileira em veículos lançadores: propulsão líquida, bastante apreciada por possibilitar colocações mais precisas de cargas úteis em órbita. Alguns projetos de motores-foguetes líquidos estão em desenvolvimento pelo IAE, como o L5, L15 e L75, de diferentes portes.

O L75, o maior deles, busca o modelo de engenharia de um motor foguete a propelente líquido, usando o par propelente oxigênio líquido e querosene, pressurizados por turbo bomba, capaz de gerar 75 KN de empuxo no vácuo. É destinado a veículos lançadores de satélites, uma vez que seu controle do empuxo e do tempo de queima possibilita a colocação em órbita de satélites com precisão. Ao longo de 2012, vários projetos relacionados ao L75 avançaram, como o seu plano mecânico detalhado, fabricação, plano mecânico dos modelos de engenharia e elaboração dos procedimentos de montagem, inspeção e teste. Para os próximos anos, as etapas serão o desenvolvimento da câmara de combustão, do turbo bomba e das válvulas reguladoras, e a construção de novo banco de testes para ensaios das bombas.

Além dos motores propriamente ditos, o IAE também desenvolve, em conjunto com a Orbital Engenharia, o Sistema de Alimentação Motor-Foguete (SAMF), que teve alguns protótipos construídos e encontram-se em ensaios de qualificação nas instalações do IAE. A finalização do SAMF é tida como essencial para a realização de testes em voo de propulsores líquidos, pois controla a alimentação do motor foguete a propelente líquido, alimentando-o com propelente nas pressões e vazões necessárias para o seu correto funcionamento.

ACS

As iniciativas brasileiras em matéria de acesso ao espaço não se restringem apenas a projetos de desenvolvimento tecnológico. A Alcântara Cyclone Space (ACS), uma binacional constituída pelos governos do Brasil e da Ucrânia, tem planos de operar o lançador ucraniano Cyclone 4 a partir do CLA, com objetivos inicialmente comerciais, mas que hoje também apontam para um caráter mais estratégico, buscando atender algumas necessidades do Programa Espacial Brasileiro.

A cooperação espacial entre o Brasil e a Ucrânia em serviços de lançamento tem origens no final da década de 1990. Mas, apenas em 2003, com a assinatura do Tratado sobre Cooperação de Longo Prazo na Utilização do Veículo de Lançamento Cyclone 4 no CLA, se tornou mais concreta. Três anos depois, foi criada a ACS com a finalidade de viabilizar o projeto, administrar o complexo de lançamento e explorá-lo comercialmente. Desde então, centenas de milhões de reais oriundos dos países sócios foram investidos, com obras de toda a infraestrutura terrestre no CLA, assim como o desenvolvimento do lançador na Ucrânia, em andamento.

Num primeiro momento, o acordo que deu origem à ACS não tem caráter de transferência de tecnologia, mesmo que, ao menos do lado ucraniano, pareça haver disposição para a ampliação do escopo da cooperação para isso. Apesar de não haver envolvimento brasileiro no Cyclone 4, capaz de colocar cargas úteis de até 5.500 kg em órbita baixa a 700 km de altitude e 1.700 kg em órbita de transferência geoestacionária, este engenho teve algum impacto nos planos nacionais de lançadores. Hoje, não se considera o desenvolvimento do VLS-Delta, dentro do programa conceitual Cruzeiro do Sul, por se enquadrar na mesma classe que o foguete ucraniano.

Mais parcerias?

Entendido o caráter estratégico de ter acesso autônomo ao espaço, o governo brasileiro tem analisado com mais atenção iniciativas nesse campo, provavelmente em regime de cooperação internacional, de forma similar ao VLM-1, com a Alemanha, para atender as outras lacunas consideradas dentro do Cruzeiro do Sul, em particular os VLS Alfa e VLS Beta. Várias propostas já chegaram às mesas de muitos gabinetes, de São José dos Campos a Brasília (DF).

Na visita oficial da comitiva brasileira liderada pela presidente Dilma Rousseff à França, em 11 de dezembro de 2012, um dos tópicos em Ciência, Tecnologia e Inovação citados na declaração conjunta com o seu contraparte francês foi a possibilidade de se estender a cooperação espacial entre os dois países para “lançadores de satélites”, tema que deve ser discutido entre a AEB e a Agência Espacial Francesa (CNES), no início de 2013. Nos bastidores, são conhecidos os esforços franceses em ampliar a parceria estratégica no campo de defesa, particularmente em submarinos e helicópteros, com ampla transferência tecnológica, para a área espacial, especialmente satélites de comunicações, sensoriamento remoto e lançadores.

Outro interessado é a Itália, que desde 2011 tem feito propostas por meio da Agência Espacial Italiana (ASI) e da empresa Avio, principal desenvolvedora do Vega, o mais importante passo dado por este país europeu na área de lançadores. Trata-se de um foguete de quatro estágios (os três primeiros de combustível sólido e o último líquido), com capacidade de inserir cargas úteis de até 1.500 kg em órbitas circulares a 700 km de altitude. Seu desenvolvimento tem como prime contractor a ELV (European Launch Vehicle), joint-venture da ASI com a Avio. O primeiro voo foi realizado com sucesso no início de 2012.

Os italianos propuseram um lançador com todos os estágios de combustível sólido, com capacidade de satelitização de 1.500 kg a uma altitude de 1.500 km, baseado na tecnologia do Vega. De acordo com o divulgado, o custo seria inferior a R$1 bilhão, e seria realizado por meio da formação de uma joint-venture com empresas nacionais, num modelo similar ao apresentado pelos franceses.

Há alguns anos, a Rússia era vista como parceira preferencial do Brasil em matéria de lançadores, especialmente por sua disposição em colaborar e fornecer itens críticos, como os sistemas inerciais dos primeiros protótipos do VLS-1. Grande parte do conhecimento adquirido pelo IAE na área de propulsão líquida o foi através de parcerias com institutos e centros de pesquisa russos, que treinaram e capacitaram dezenas de especialistas brasileiros. Em posição hoje mais enfraquecida, em razão da ampliação do leque de possibilidades em cooperação no campo de foguetes e por uma difícil negociação para a transferência tecnologia, a madura indústria espacial russa continua interessada em ampliar os acordos com o Brasil e é vista como opção.

Fonte: revista Tecnologia & Defesa nº 131, dezembro de 2012.
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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

SCD-1: 20 anos!



SCD-1 completa 20 anos. Primeiro satélite brasileiro comprova o êxito da engenharia espacial no país

Terça-feira, 05 de Fevereiro de 2013

Ao concluir 105.577 voltas em torno da Terra, às 14h42 de 9 de fevereiro, o primeiro satélite brasileiro terá completado 20 anos no espaço ainda em funcionamento. O número de órbitas é mais um dos resultados impressionantes do SCD-1 (Satélite de Coleta de Dados), que tinha expectativa de apenas um ano de vida útil quando foi lançado pelo foguete norte-americano Pegasus, em 1993.

Projetado, construído e operado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o SCD-1 segue retransmitindo informações para a previsão do tempo e monitoramento do nível de água dos rios e represas, entre outras aplicações.

“Após este longo tempo em órbita, o SCD-1continua em operação e se prova um projeto de reconhecido sucesso, um verdadeiro tributo à competência da engenharia espacial brasileira. O lançamento do SCD-1 colocou o INPE entre as instituições que efetivamente dominam o ciclo completo de uma missão espacial desde sua concepção até o final de sua operação em órbita”, diz Leonel Perondi, diretor do INPE.

O início da operação em órbita do SCD-1 marcou também o estabelecimento do Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais, cujas informações são utilizadas por diversas instituições no Brasil e no exterior.

Além de cumprir sua missão de coleta de dados, o SCD-1 contribuiu para a cooperação com outros países, que na década de 1990 se valeram da experiência brasileira na operação de satélites na mesma faixa.

“Ele foi instrumental para o desenvolvimento de programas espaciais tanto da Argentina como da China. No primeiro, ajudou a calibrar a Estação Terrena de Córdoba e no segundo caso, a Estação Terrena de Nanning”, conta Pawel Rozenfeld, chefe do Centro de Rastreio e Controle (CRC) do INPE. “Nós fazíamos a previsão da passagem do SCD-1 pela China e os chineses utilizavam essas informações para aperfeiçoar seu próprio sistema de determinação em órbita, pois eles ainda iriam lançar satélite na banda S. Para a Argentina, que não tinha nenhum satélite na época, o SCD-1 foi ainda mais importante para determinar os parâmetros da sua estação”.

Melhorias

A recepção das mensagens enviadas por plataformas de coleta de dados (PCDs)e retransmitidas pelo satélite SCD-1 é realizada por um equipamento denominado PROCOD (Processador de Coleta de Dados), cuja tecnologia de processamento digital vem sendo aperfeiçoada. Uma nova versão do sistema, o PROCOD-III, foi instalada em setembro de 2012 na estação de recepção de Cuiabá.

“Melhoramos muito o processamento dos dados em solo. Isso é fundamental para compensar eventuais problemas decorrentes do tempo de vida útil do satélite, permitindo sobrevida adicional ao SCD-1 em termos de desempenho de recepção de mensagens transmitidas pelas PCDs”, explica Wilson Yamaguti, coordenador substituto de Engenharia e Tecnologia Espacial (ETE) do INPE.

Continuidade

A Agência Nacional de Águas (ANA), maior usuária do Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais, e a Agência Espacial Brasileira (AEB) firmaram, em 2012, memorando de entendimento visando o monitoramento dos rios brasileiros. A iniciativa permitirá a continuidade e mesmo a expansão dos serviços de coleta de dados prestados pelos satélites SCD-1 e SCD-2, atendendo a diversos outros usuários do sistema.

Um Grupo de Trabalho (GT) formado por membros da ANA, AEB e INPE analisa alternativas para a missão de coleta de dados hidrometeorológicos que atendam a realidade atual, buscando otimizar a infraestrutura já instalada no país e a economia dos recursos públicos.

“Neste processo, coube à ANA expressar suas necessidades de melhoria e aperfeiçoamento das coletas de dados, visando o monitoramento temporal com uso de satélites. Ao INPE coube a análise técnica que atendesse cenários alternativos para configurar um novo sistema eficiente de coleta de dados e com diversos níveis de propositura e implicações técnico-econômicas. À AEB coube a coordenação dos trabalhos e apoio logístico para a sua realização”, informa Wilson Yamaguti.

Segundo o engenheiro do INPE, as soluções discutidas pelo GT se baseiam em uma constelação de satélites de coleta de dados, similares aos SCDs, compatíveis com as redes de plataformas existentes, porém com recursos adicionais como capacidade de propulsão e correção de órbita, além de capacidade de processamento e de armazenamento de mensagens a bordo.

A coleta de dados

O Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientaisé baseado em satélites de órbita baixa que retransmitem a um centro de missão as informações ambientais recebidas de um grande número de plataformas de coleta de dados (PCDs) espalhadas pelo Brasil.

As PCDs são equipamentos automáticos que possuem sensores eletrônicos para a medição de parâmetros ambientais, como o nível de água em rios e represas, a qualidade da água, a precipitação pluviométrica, a pressão atmosférica, a intensidade da radiação solar, a temperatura do ar, entre outros.

O satélite capta e retransmite os sinais das PCDs instaladas por todo o país e os envia para as estações de recepção e processamento do INPE em Cuiabá (MT) e em Alcântara (MA). Voando a uma velocidade de 27.000 km por hora, o SCD-1 leva aproximadamente uma hora e 40 minutos para completar uma volta em torno da Terra. Assim, a estação recebe várias vezes por dia os dados transmitidos por cada PCD.

Da estação de Cuiabá ou de Alcântara, osdados coletados pelo satélite são transmitidos para o INPE Nordeste, o centro regional do Instituto localizado em Natal (RN), onde atualmente está instalado o Sistema Nacional de Dados Ambientais (SINDA), para processamento e distribuição de suas informações aos usuários a partir do endereço http://sinda.crn2.inpe.br.

O Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais conta com uma rede de mais de 1000 plataformas instaladas e, nos últimos vinte anos, ininterruptamente, tem prestado serviços à sociedade através do monitoramento de parâmetros ambientais nas regiões mais remotas do território brasileiro.

Além do pioneiro SCD-1, integra hoje o sistema de coleta de dados o satélite SCD-2. Os satélites CBERS-1, CBERS-2 e CBERS-2B, quando operacionais, fizeram parte do sistema.

História

Em 1979, quando aprovada pelo governo federal a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), foi determinado o desenvolvimento de quatro satélites artificiais, do veículo lançador e de toda a infraestrutura de solo, inclusive uma base de lançamentos. Coube ao INPE a responsabilidade pelo desenvolvimento dos satélites, sendo dois de coleta de dados e dois de sensoriamento remoto, bem como da infraestrutura de solo para sua operação em órbita.

O primeiro satélite, o SCD-1, é um satélite de coleta de dados com 115 kg. Foi totalmente projetado, desenvolvido e integrado pelo INPE, com importante participação da indústria nacional. Para seu desenvolvimento, o INPE investiu em laboratórios modernos e no desenvolvimento de seus recursos humanos.

O Laboratório de Integração e Testes (LIT) foi especialmente projetado e construído para atender às necessidades da MECB. Dotado das mais avançadas tecnologias para testes e integração de sistemas espaciais, o LIT/INPE é considerado um dos mais avançados complexos de laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia espacial do hemisfério sul. Neste laboratório foi integrado e testado o SCD-1.

Já a operação de lançamento foi comandada a partir do Centro de Controle de Wallops, no estado de Virgínia, costa leste dos Estados Unidos. No dia 9 de fevereiro de 1993, uma hora e 15 minutos depois da decolagem, a 83 km da costa da Flórida e a 13 km de altitude, o foguete Pegasus foi liberado da asa de um avião B52 da Nasa. Como havia sido previsto, o foguete cai em queda livre por cinco segundos antes de acionar seus motores em direção ao espaço. Poucos minutos depois, às 11h41 (hora de Brasília), o SCD-1 é colocado em órbita da Terra, a uma altitude de 750 km.

Tudo transcorreu de acordo com o previsto. Os engenheiros que acompanham o lançamento a partir do Centro de Controle de Wallops e do Centro de Rastreio e Controle do INPE, com operações em São José dos Campos (SP), Cuiabá (MT) e Alcântara (MA), conferem com satisfação e orgulho o sucesso do lançamento e do início da operação do satélite, pois, logo após a entrada em órbita, os primeiros sinais do SCD-1 são captados pela Estação Terrena situada no Maranhão.

Fonte: INPE
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Cooperação Brasil - Rússia: Glonass


UnB recebe nova tecnologia russa de posicionamento global

04/02/2013

Estação de monitoramento terrestre está sendo montada no Centro de Processamento de Dados da UnB. Pesquisas da UnB em engenharia aeroespacial serão beneficiadas com os novos aparelhos

Diogo Lopes de Oliveira - Da Secretaria de Comunicação da UnB

Até dia 20 de fevereiro, a UnB vai inaugurar a primeira estação fora da Rússia do sistema russo de monitoramento e correção diferenciada, que integra o Global Navigation Satellite System (Glonass). Essa rede de informações é semelhante ao Global Positioning System (GPS), serve para localizar posições na superfície terrestre utilizando 24 satélites espalhados pela órbita da Terra. A instalação da base na UnB beneficiará pesquisas na área aeroespacial, desenvolvidas nos laboratórios de Automação e Robótica (LARA) e de Biomédica (LAB) da UnB.

A base russa na UnB é parte de uma parceria entre a Agência Espacial Russa (Roscosmos), a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Universidade. O acordo de cooperação entre as agências foi firmado em fevereiro de 2012. José Montserrat Filho, físico e chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB foi responsável pela aproximação com a Universidade. O físico conhecia o trabalho desenvolvido pelos professores Ícaro dos Santos e Geovany Borges, ambos do Departamento de Engenharia Elétrica da UnB. “Isso chamou a nossa atenção. Fomos muito felizes em colocar em prática esta parceria com a Universidade de Brasília”, disse Gennady Saenko, vice-representante no Brasil da Roscosmos.

Para Ícaro dos Santos, coordenador do LAB, quando o projeto estiver concluído, em 2020, a precisão dos cálculos de posicionamento no planeta será melhorada em até 10 vezes. “Teremos acesso aos dados brutos fornecidos pela estação. Assim, serão beneficiadas todas as nossas pesquisas sobre navegação de robôs, foguetes e veículos aéreos não tripulados, por exemplo”, disse Ícaro.

ESTAÇÃO - Três especialistas russos vieram a Brasília instalar a estação no telhado do novo prédio do Centro de Processamento de Dados (CPD). O equipamento trazido da Rússia conta com uma antena e dois racks com processadores, um para receber o sinal e outro para transmitir informações para sede do projeto a Rússia. Até 2020, a Roscosmos espera ter 56 estações semelhantes a esta que está sendo montada na UnB. Outras 22 estações iguais às da UnB já funcionam em território russo, uma delas na Antártida.

Ivan Revnivykh, líder de engenharia da JSC Russian Space Systems, garante que o projeto facilitará qualquer engenharia de precisão como atracamento de navios e a construção de estradas e prédios, todos voltados para fins civis. “Até o momento, temos excelente cobertura nos pólos norte e sul. As novas estações fora da Rússia precisam ser em regiões relativamente próximas à Linha do Equador, como aqui em Brasília”, explica.

Fonte: UnB Agência.
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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

SGDC no "Valor Econômico"


Satélite brasileiro atrai sete grupos mundiais

Por Virgínia Silveira
Para o Valor, de São José dos Campos

Sete grandes grupos de fabricantes internacionais estão participando do processo de seleção do fornecedor do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas. Realizada pelo governo brasileiro, essa concorrência é considerada hoje a principal na área espacial da América do Sul, com investimento já aprovado de R$ 720 milhões. O valor inclui o lançamento do satélite, previsto para o fim de 2014.

A Agência Espacial contratou a Visiona Tecnologia Espacial, joint venture entre a Embraer e a Telebras, para fazer o gerenciamento dos contratos com os futuros fornecedores do equipamento. A Visiona encerrou a fase de recebimento das informações solicitadas aos fabricantes no fim do ano passado, e nas próximas duas semanas poderá liberar as linhas gerais de sua solicitação de propostas (RFP, na sigla em inglês) para os interessados.

A lista de empresas participantes da licitação, segundo fontes que acompanham o processo, inclui as europeias Astrium e Thales Alenia Space, as americanas Boeing, Lockheed Martin e Space Systems Loral (essa última adquirida pelo grupo canadense MDA, em 2012), a japonesa Mitsubishi e a russa Reshetnev.

Procurada pelo Valor, a Boeing disse que seria prematuro comentar a concorrência, pois o pedido de proposta ainda não foi divulgado. "A Boeing está a par do processo da Visiona, mas seguimos nossa política de não comentar os requisitos relativos aos nossos clientes", disse em nota.

Haverá uma única licitação para a compra do satélite, do sistema de controle de solo e do lançamento, disse o diretor de planejamento e investimentos estratégicos da Agência Espacial, Petrônio Noronha de Souza. Apenas a parte de instalação de antenas de recepção e emissão de sinais de internet ficará sob a responsabilidade da Telebras, segundo o diretor.

Os requisitos do satélite foram elaborados pelo Ministério das Comunicações, Telebras e Ministério da Defesa, consolidados depois pelos grupos de trabalho criados pelo decreto presidencial que estabeleceu a governança para o desenvolvimento do equipamento geoestacionário. A canadense Telesat, segundo o diretor da agência, deu apoio ao projeto na fase que antecedeu a RFP.

O prazo para o lançamento, no entanto, segundo o Valor apurou, poderá atrasar e se estender até 2015, pois o período para a contratação dos fornecedores e a fabricação do satélite é considerado curto. A agência também já programou a aquisição do segundo satélite, com previsão de lançamento para 2019.
O satélite geoestacionário vai atender à demanda de comunicações militares e de defesa do governo federal, assim como o Programa Nacional de Banda Larga, levando internet às populações de cerca de 1,2 mil municípios localizados em regiões remotas do país. Atualmente, o governo contrata tecnologia de satélites estrangeiros.

O satélite brasileiro vai operar em banda X (faixa de frequência de transmissão dos dados), para as comunicações estratégicas do governo, com cobertura regional (Brasil), América Latina e Oceano Atlântico, usando cinco transponders (sistema que converte o sinal recebido do satélite para outra frequência determinada). Para as comunicações em banda larga usará a banda Ka.

O contrato de construção do satélite vai envolver transferência de tecnologia nas áreas de sistemas de comunicação, controle de atitude e órbita, controle de solo, software de controle e propulsão, afirmou o diretor da Agência Espacial.

O satélite geoestacionário foi incluído na lista de projetos que o Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae) considera como estruturantes e mobilizadores. "São projetos que colocam desafios tecnológicos à pesquisa e à indústria e que organizam a cadeia produtiva nacional, e ampliam o mercado de bens e serviços espaciais", descreve o documento.

Entre os resultados esperados, descritos no relatório do Pnae, está o incremento da capacitação tecnológica da indústria nacional no segmento de satélites de telecomunicação e elevação do índice de participação das empresas no desenvolvimento e fabricação do segundo satélite.

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Para se fortalecer, Astrium cria subsidiária

o Valor
de São José dos Campos

A Astrium, divisão espacial da gigante europeia EADS, está fortalecendo a sua presença no Brasil para tentar participar de forma mais efetiva do programa espacial brasileiro. O Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae) indica a necessidade de um investimento de R$ 9,1 bilhões nos próximos dez anos no setor.

"O Brasil, embora ocupe um lugar importante no cenário econômico mundial, ainda não integra o grupo de países que dominam a tecnologia espacial", disse o vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Astrium na América Latina, Jean Noel Hardy.

Segundo o executivo, mesmo assim a Astrium acredita no potencial espacial do Brasil e, por isso, acaba de criar a subsidiária Astrium Brasil. A companhia está presente no país desde 2006 com a Equatorial Sistemas, de São José dos Campos, e a Astrium Services, antiga Spot Image. Em 2012, a Astrium registrou uma receita de € 5,8 bilhões, 7% maior que em 2011.

Fornecedora do programa espacial brasileiro desde 1996, a Equatorial atuou no programa do satélite CBERS-3, feito em parceria com a China e para o qual desenvolveu uma câmera WFI (sigla em inglês para câmera de grande campo de visada) e um gravador digital de dados para o satélite brasileiro Amazônia-1, em fase de desenvolvimento. O CBERS-3 tem lançamento previsto para maio.

A Equatorial foi contratada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para o fornecimento dos sistemas aos satélites CBERS-3 e Amazônia. Segundo o presidente da Equatorial, César Ghizoni, os dois contratos estão avaliados em cerca de R$ 60 milhões.

Em 2012, de acordo com o executivo, a Equatorial gerou receitas de R$ 9,5 milhões, ante os R$ 6,8 milhões do ano anterior. Entre os novos contratos previstos para este ano, Ghizoni cita o fornecimento de cabos do sistema elétrico do satélite Amazônia-1 e um contrato com a GMV, empresa europeia que fornece sistemas de navegação de satélites.

A GMV está desenvolvendo seu sistema em parceria com o Instituto Tecnológico de aeronáutica (ITA) e o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), disse o presidente da Equatorial. (VS)

Fonte: Valor Econômico, 04/02/2013, via NOTIMP.
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sábado, 2 de fevereiro de 2013

Notícias de lançadores: a falha do Zenit 3SL


Dando continuidade à série de notícias da semana sobre lançadores (ver a postagem "Coréia do Sul e Europa: notícias de lançadores"), na última sexta-feira (01), um lançador Zenit 3SL, operado pela companhia Sea Launch a partir de uma plataforma marítima no Pacífico, falhou na tentativa de colocar em órbita o satélite Intelsat 27, de comunicações.

De acordo com as informações divulgadas, a falha teria ocorrido no primeiro estágio do foguete, 50 segundos após o seu lançamento. Especula-se que o primeiro estágio teria sido interrompido emergencialmente devido a um erro na trajetória do lançador.

Além de mais um golpe para a indústria espacial russa (esta falha segue outras recentes, em particular do foguete Proton), o insucesso também representa um duro golpe para a Sea Launch, que saiu de uma grave crise financeira em 2010 (ver "Sea Launch: uma análise", de junho de 2009) e tentava se restabelecer no mercado.

Na prática, com os problemas enfrentados pelo Proton e Zenit 3SL, atualmente o único lançador disponível comercialmente para a colocação de grandes satélites em órbita de transferência geoestacionária é o europeu Ariane 5, da Arianespace. Um importante aspecto que deve ser observado é uma provável demanda maior que a oferta para os serviços do Ariane 5, o que pode acabar resultando em atrasos em missões cujos lançamentos ainda não foram contratados.
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"Como decidir hoje de olho no futuro?", artigo de José Monserrat Filho


Como decidir hoje de olho no futuro?

José Monserrat Filho*

“... a História é um processo aberto, sendo ingenuidade imaginar que o futuro está cabalmente contido no passado e no presente.” Celso Furtado, Os ares do mundo, 1991, p. 63.

Inédito Workshop Internacional sobre Cenários que traçam alternativas futuras a partir de decisões atuais foi promovido, recentemente, pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Estabelecer uma ponte segura entre o que resolvemos hoje com o que pode acontecer num amanhã mais distante assume relevância estratégica, inclusive e em particular na atividades espaciais ¨C sempre complexas, caras, arriscadas e ligadas a grandes interesses públicos ou privados.

O  Workshop Internacional sobre Cenários, segundo o CGEE, discutiu questões muito úteis e interessantes: 1) a construção e o uso de cenários, incluindo tipologias; 2) formas de lidar com a complexidade e a emergência; 3) maneiras de construir narrativas conectando o presente a distintas possibilidades de futuro; 4) possibilidades de visualização, comunicação e uso de resultados; e 5) impactos em políticas e decisões empresariais.

O singular evento, iniciativa do Núcleo de Competência Metodológica do CGEE, propiciou a troca de experiências e conhecimentos entre os especialistas presentes que trabalham em diversos centros de pesquisas nacionais e internacionais. "A ideia foi fortalecer a habilidade de todos os participantes em conectar alternativas de futuro com processos decisórios atuais, e identificar possíveis parcerias", explicou Cristiano Cagnin, organizador do evento.
Sete painéis foram apresentados:

1) O uso de cenários pelo Instituto Austríaco de Tecnologia (AIT, na sigla em inglês);
2) O  uso de modelos para construir cenários e avaliar distintas opções de políticas públicas no Reino Unido;
3) A disciplina da antecipação e como lidar com emergências, complexidade e interconectividade;
4) A evolução dos estudos prospectivos no Brasil;
5) O planejamento estratégico da Petrobras do qual a construção de cenários faz parte;
6) Como a Fundação Dom Cabral utiliza estudos prospectivos para inovar na construção de cenários para grandes empresas; e
7) Nova forma de construir cenários, criada pelo Núcleo de Competência Metodológica do CGEE.

Vejamos o que diz a notícia do CGEE sobre cada painel.

1) Susanne Giesecke, pesquisadora visitante do Instituto Austríaco de Tecnologia (AIT) no CGEE, explicou como o instituto trabalha com cenários a fim de obter soluções eficientes para os problemas que possam surgir no futuro. Ela comentou o projeto sobre cenários para pesquisa e Inovação em 2030 e novos caminhos de fazer pesquisa ("Scenarios for Research and Innovation Futures 2030: Exploring new ways of doing research"), que o AIT realiza em parceria com vários institutos e universidades. O projeto analisa novas maneiras de organizar e efetuar pesquisas em universidades, centros de pesquisa, empresas e na sociedade em geral. Ele explora tendências, opções estratégicas e padrões emergentes para traçar cenários de 2020 a 2030.

2) Brian MacAulay, do think thank britânico Nesta, abordou o uso de modelos para construir cenários e avaliar distintas opções de políticas públicas. A seu ver, a conexão entre modelos de sistemas complexos com enfoques qualitativos e relações sociais permite a criação de conhecimento combinado com a identificação de elementos emergentes. Assim, as vantagens de explorar o futuro estão na pluralidade e na inclusão, pois permitem o debate de pessoas com diferentes opiniões e asseguram que todos sejam ouvidos e possam contribuir na discussão das questões em tela.

3) Riel Miller, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), discorreu sobre a disciplina da antecipação, que oferece, segundo Cristiano Cagnin, "uma maneira robusta e consistente para o aprendizado e a troca, bem como para se incluir, de forma sistemática, aspectos transformativos e complexos na construção de narrativas". Riel Miller também falou sobre como capacitar equipes para lidar com emergências, complexidade e interconectividade.

4) Cláudio Porto, da Macroplan , empresa brasileira de consultoria em cenários prospectivos e administração estratégica, descreveu a evolução dos estudos prospectivos no Brasil em quatro grandes estágios de maturidade. Destacou cinco casos de construção de cenários no país: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Eletrobras, Petrobras,  Governo de Minas Gerais e Projeto Brasil em Transição 2011-2022. Para Cláudio Porto, o Brasil ainda é frágil na construção de estratégias de longo prazo, embora tenha progredido muito nos últimos 30 anos.

5) Renata Nascimento Szczerbacki, da Petrobras, enfatizou o processo de planejamento estratégico da empresa e como a construção de cenários faz parte desse processo. Apontou que essa combinação é fundamental para direcionar a empresa em todos seus seguimentos, para períodos de 20 anos. Discorreu ainda sobre o último trabalho realizado em 2010 com horizonte 2030 e cortes em 2020, 2015 e 2011. O uso de cenários é importante para definir os investimentos que a empresa fará, pois o retorno é de longo prazo.

6) Lia Krucken, da Fundação Dom Cabral, mostrou como a entidade se vale de estudos prospectivos para inovar na construção de cenários para grandes empresas. Cenários são utilizados para dar suporte ao desenvolvimento de estratégias, entender holísticamente o problema em análise, antecipar desafios e construir um processo de aprendizado organizacional adaptativo. Nesse processo, a captura de sinais emergentes é essencial para a identificação antecipada de oportunidades e ameaças, bem como o desenvolvimento de estratégias para antecipar tais desafios.

7) Lélio Fellows, do CGEE, apresentou a nova forma de construir cenários, desenvolvida pelo NCM do Centro, dividida em passos simplificados: identificar cenários (globais e conectados ao contexto sob observação) a serem analisados; desenvolver um modelo de documento específico para captar drivers (forças vetoras), incertezas, sinais fracos, surpresas e outras variáveis a serem organizadas segundo critérios relevantes para o contexto sob análise; identificar as variáveis independentes mais relevantes; e desenvolver cenários na forma de um quebra-cabeças. Lélio Fellows não acha que "trabalhar com cenários é caro e demorado”. A seu ver, “a nossa capacidade de exigir soluções e de solucionar problemas é que fará as coisas acontecerem concretamente".

Conclusões de Cristiano Cagnin sobre as principais ideias surgidas no workshop: "Uma análise mais profunda de elementos como cenários transformativos, ferramentas interativas para a visualização e a prototipação de resultados, o uso de enfoques robustos para construção de futuros alternativos mais criativos e capazes de abraçar a espontaneidade, a experimentação e a complexidade, a capacidade de fazer sentido de conhecimento coletivo distribuído, bem como a habilidade de comunicar melhor os resultados e de conectar o processo de cenários ao ciclo de tomada de decisão, entre outros, são essenciais para o fortalecimento da capacidade institucional de subsidiar políticas públicas conectando alternativas de futuro ao presente.”

O Workshop Internacional sobre Cenários também estimulou parcerias entre o CGEE e a Unesco em 2013 e fortaleceu a cooperação entre o CGEE e o Instituto Austríaco de Tecnologia.

Basta ler com atenção o novo Programa Nacional de Atividades Espaciais 2012-2021 (PNAE) ¨C especialmente as páginas 18 e 19 ¨C para constatar o quanto é imperioso o uso de cenários futuros para conectar com o máximo de acerto possível as decisões de 2012 com o que ocorrerá nos próximos anos até 2021. O dessafio é aperfeiçoar continuamente esse processo. Não por acaso, prudentemente, o Presidente da Agência Espacial Brasileira, José Raimundo Braga Coelho, dispõe-se a realizar revisões anuais do PNAE. A intenção final é clara e sensata: manter viva, forte e convincente a indispensável conexão entre o presente que decidimos e o futuro que queremos.

* Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB.
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