sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Análise: do SGB ao SGDC

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Após meses de expectativa desde a seleção dos fornecedores em agosto, ontem (28) foi finalmente assinado o contrato entre a Telebras e a Visiona Tecnologia Espacial que, de fato, concretiza o desejo de mais de uma década do governo brasileiro em dispor de um sistema próprio para comunicações estratégicas e militares.

Idealizado inicialmente com o nome Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB), o projeto sofreu significativas alterações, perdendo algumas funções (CNS/ATM, meteorologia) e adquirindo outras (atendimento ao Plano Nacional de Banda Larga), passando então a adotar o "pomposo" nome de Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC). Seu resultado, é inegável, foi significativamente influenciado pelo "fator Snowden".

Aspecto pouco (ou nem sequer) analisado na imprensa, mesmo especializada, é o significado do SGDC para o Programa Espacial Brasileiro, não necessariamente em transferência tecnológica, elemento que, pelo que apuramos, tem uma natureza de "soft" e é relativamente incerto (Nota do blog: abordaremos este assunto com mais detalhes em breve).

O SGDC "patrocinou" a criação da Visiona, que ambiciona ser a prime contractor de projetos do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) e do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), do Ministério da Defesa. Ainda, é exemplo claro de que o Programa Espacial não necessariamente terá o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação como ator principal e impulsor de iniciativas. Obviamente, este participa e participará, mas os impulsos e decisões parecem vir de motivações e decisões de outros setores do governo.

O extrato de dispensa de licitação publicado no Diário Oficial traz mais detalhes sobre a contratação, tais como o valor exato (pouco menos de $1,311 bilhão), e o prazo de execução (222 meses), que se estende até o término da vida útil do satélite quando em órbita.

Agora, conforme noticiado na imprensa francesa, a expectativa é que os contratos para a construção do satélite e seu lançamento, respectivamente, a cargo da franco-italiana Thales Alenia Space e da europeia Arianespace, sejam assinados nas próximas semanas e oficialmente anunciados na visita do presidente francês, François Hollande, ao Brasil, entre 12 e 13 de dezembro.

A missão de Hollande, aliás, lembra a visita de outro presidente francês, Nicolas Sarkozy, em dezembro de 2008, ocasião em que foi firmado um instrumento de parceria estratégica entre os dois países, que incluía tópicos na área espacial, inclusive o próprio satélite geoestacionário, além de negócios bilionários envolvendo submarinos e helicópteros.

Transferência de tecnologia

Em reportagem da Space News, consta a informação, possivelmente oriunda de fontes francesas, de que como parte do processo de transferência (ou absorção?) de tecnologia, cerca de 30 engenheiros da Embraer (Nota do blog: acreditamos que, na verdade, sejam da Visiona) passarão a ter residência próximas as instalações da Thales Alenia Space em Cannes e Toulouse, durante o período de execução do contrato. O mesmo texto também cita o início de 2017 como época prevista para o lançamento.

Na entrevista com José Raimundo Coelho, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), publicada ontem (veja aqui), apresentamos detalhes sobre como será o processo de definição de transferência tecnológica associada ao SGDC.
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AEB: workshop sobre nanossatélites

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AEB promove workshop sobre construção e aplicação de nanossatélites

Brasília 28 de Novembro de 2013 - A Agência Espacial Brasileira (AEB) realiza entre os dias 2 e 5 de dezembro em sua sede, em Brasília (DF), o 1º Workshop do Programa Sistema Espacial para Realização de Pesquisa e Experimentos com Nanossatélites (Serpens).

O objetivo principal é qualificar engenheiros da instituição, estudantes, docentes e pesquisadores brasileiros vinculados aos cursos de Engenharia Aeroespacial para iniciar o desenvolvimento de satélites de pequeno porte e baixo custo.

Especialistas de instituições de ensino superior internacionais com destaque e renome na área de nanossatélite como a Universidade de Vigo (Espanha), California Polytechnic State University (EUA), Università di Roma Sapienza (Itália) e Morehead State University (EUA) participarão do processo de transferência de tecnologia trabalhando ao lado de profissionais e estudantes brasileiros.

Professores dos cursos de Engenharia Aeroespacial das universidades federais de Santa Catarina (UFSC), de Minas Gerais (UFMG), do ABC paulista (SP), de Brasília (UnB), do Instituto Federal Fluminense (IFF), dos Laboratórios de Sistemas Integráveis Tecnológicos (LSITC), entre outras entidades, receberão treinamentos para concepção e desenvolvimento de nanossatélite.

Além de compartilhar conhecimentos tecnológicos, o programa Serpens também objetiva despertar o interesse dos estudantes para este segmento de aplicação e incentivar as instituições nacionais a criarem seus próprios projetos. A AEB espera apoiar missões semelhantes projetadas por institutos de pesquisas e universidades.

A proposta da primeira missão do programa é testar tecnologias que poderão ser utilizadas no Sistema Brasileiro de Coleta de Dados (SBCD).

O Serpens atende as prioridades do Programa Espacial Brasileiro de domínio de tecnologias críticas com participação da indústria, universidades e institutos de pesquisa para o setor espacial.

Fonte: AEB
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Entrevistas: José Raimundo Braga Coelho, presidente da AEB

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Dando continuidade a série de entrevistas do blog Panorama Espacial, hoje reproduzimos a entrevista feita com José Raimundo Braga Coelho, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB) desde maio de 2012.

Maranhense e graduado em Física pela Universidade de Brasília (UnB), Coelho teve passagens por várias funções ligadas ao Programa Espacial, como no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP).

A seguir, reproduzimos os principais trechos:

Continuidade da cooperação com a China

A entrevista foi iniciada com uma pergunta sobre as perspectivas para a continuidade da cooperação com a China no âmbito espacial, que poderia envolver a construção de um satélite meteorológico geoestacionário. José Raimundo frisou que as atenções da AEB neste momento estão concentradas na missão de lançamento do CBERS 3, quarto satélite da série, prevista para 9 de dezembro.

Na volta, “será o momento oportuno para falar sobre a cooperação com a China. Nós aprovamos uma agenda de cooperação na área espacial para os próximos dez anos, e em 2014, desenvolveremos os tópicos com estudos detalhados para verificar a viabilidade”. “Não está nada definido”, afirmou, destacando que a AEB ouvirá os segmentos interessados, nomeadamente o governo, a base industrial e os usuários sobre o plano decenal.

Interação entre o PNAE e o PESE

O tópico seguinte da conversa foi sobre a interação entre o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) e o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), iniciativa do Ministério da Defesa alinhada à Estratégia Nacional de Defesa.

“Hoje há uma consciência nacional de que um programa como esse [espacial] deve ser de Estado.” Segundo o dirigente, o Ministério da Defesa tem participado com a AEB nas discussões sobre atividades espaciais, que contam ainda com o envolvimento de outros ministérios. “A iniciativa pode vir de qualquer elemento do governo, não apenas da AEB.” “O PESE é uma grande novidade; tudo nele é inovador.”

“Não temos recursos para duplicações, e qualquer iniciativa de órgãos do governo e mesmo da iniciativa privada será bem vinda.”

Rearranjo institucional do Programa Espacial

No período em que o hoje ministro Marco Antonio Raupp esteve na presidência da AEB, houve esforços significativos visando a uma reorganização institucional do Programa Espacial, com discussões inclusive envolvendo a “fusão” da AEB com o INPE, algo que acabou não se concretizando. Questionamos o presidente se a ideia permanece, no que afirmou: “Ideias não morrem facilmente, elas permanecem por muito tempo.” “Temos apoio total do ministro”. 

Coelho explicou que ao longo de 2013, foi desenvolvida uma ação fruto de outro conceito, que é a integração entre as instituições do Programa Espacial. “Quando estivermos completamente integrados, com interesses mútuos e comuns, daí pode ser o momento de implementar ideias mais arrojadas”, disse. “No Brasil, nada é fácil.”

Política industrial

Tema sempre frequente no blog, pedimos a José Raimundo que apresentasse um panorama sobre a política industrial no setor espacial. “A palavra-chave na construção do novo plano industrial chama-se poder de contrato para as indústrias, e esse poder está a cargo do governo”, destacou.

Sobre a preocupação da indústria com a falta de futuras encomendas: “Realmente, esse momento é o momento em que estamos concluindo vários projetos e precisamos retomar outras iniciativas”, reconheceu, mencionando também cargas de trabalho que devem vir de missões previstas no PNAE e PESE.

O dirigente deu ênfase à criação da Visiona Tecnologia Espacial, que deverá atuar para consolidar a base industrial, como prime contractor, empresa integradora, “conceito usado por todos os países desenvolvidos”. Citou o caso da Espacial, empresa criada no início da década de 2000 com o objetivo atuar como integradora de projetos do PEB [Nota 1]. “[A Espacial] não foi feliz porque não havia a oportunidade certa. Agora, houve a oportunidade, que é o SGDC.” “Estamos vivendo um momento excepcional.” “Por enquanto, há apenas uma encomenda, mas progressivamente haverá outras.”

Questionado sobre se a consolidação da base industrial envolveria o estímulo do governo a fusões e aquisições entre as empresas, Coelho respondeu que não, completando: “mas se for necessário, por que não?” Apontou também a necessidade de que a indústria espacial brasileira busque diversificação com outras atividades para atingir um nível de sustentabilidade, citando o caso da indústria chinesa, que em alguns casos não depende apenas das encomendas governamentais.

Sobre encomendas industriais em curto prazo, mencionou o esforço da AEB junto à Agência Nacional de Águas (ANA), ligada ao Ministério do Meio Ambiente, para a construção de satélites de coletas de dados com seus próprios recursos. “No próximo ano isso deve estar na rua fazendo contratos industriais”, revelou. Também mencionou a expectativa com o projeto SABIA-Mar, em parceria com a Argentina.

Satélite geoestacionário e tecnologias chave

José Raimundo esclareceu que, no âmbito do projeto do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), cabe à AEB as definições quanto ao pacote de transferência de tecnologia, a ser feita à indústria. “Os recursos para essa ação, de transferência de tecnologia, são da AEB.” Foi esclarecido que a transferência não é fruto de uma cláusula de compensação (offset), mas sim uma operação paralela ao contrato de aquisição.

“A transferência de tecnologia e sua absorção será feita para a indústria, e vai acontecer pela identificação de quem vai transferir e quem vai receber.” “A empresa que vai receber tem que estar preocupada com o que vai fazer com isso [a tecnologia]”. O presidente informou que tem havido frequentes discussões entre a AEB e representantes da Thales Alenia Space, que fabricará o satélite, sobre o pacote de transferência tecnológica, a ser definido de um ponto de vista técnico. “O pacote deve ser definido em 4 ou 5 meses”.

Questionamos também quais tecnologias são hoje vistas como essenciais para o desenvolvimento de capacitação nacional, e Coelho destacou algumas: propulsão, imageadores em amplo espectro, tanto óticos como microondas, sistemas de controle, sensores e equipamentos de comunicações (transpônderes).

Alcântara Cyclone Space e lançadores

O último tópico abordado na entrevista tratou das iniciativas brasileiras no segmento de lançadores. Sobre a binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), projeto em conjunto com a Ucrânia, Coelho disse que a ACS complementa o programa brasileiro de lançadores. Questionado sobre o posicionamento comercial da binacional, o dirigente mencionou que nas previsões da AEB, o Cyclone 4 e os demais lançadores do Programa Espacial (VLS e VLM) seriam capazes de atender mais de 90% da demanda do mercado de lançamentos, em especial no segmento de satélites de menor porte.

Perguntamos sobre a possibilidade de estender a capacidade do lançador ucraniano, algo eventualmente citado pela ACS. “Ampliar a capacidade ainda está no campo das ideias”, ressaltando que é importante primeiramente consolidar uma etapa. A expectativa é que o primeiro voo do Cyclone 4 a partir de Alcântara ocorra em 2015.

A capacidade do Cyclone 4 de injeção múltipla de satélites de menor porte tem atraído interesse internacional, e José Raimundo citou o caso da constelação multinacional QB50, que será formada por 50 nanossatélites [Nota 2], que poderia voar a bordo do lançador da ACS.

Para 2014, Coelho destacou a expectativa quanto à retomada do VLS-1, com o voo de um quarto protótipo com experimentos em sistemas de controle, e ainda a continuidade do desenvolvimento do Veículo Lançador de Microssatélites (VLM), em parceria com a agência espacial da Alemanha. Mencionou ainda que os projetos de lançadores nacionais poderão atender as missões brasileiras, não se descartando ainda a “integralização de mercado com os países vizinhos”.

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Nota 1: a Espacial S.A. foi criada em 2000 por doze empresas que já atuavam no setor espacial, especificamente no programa CBERS: Elebra, Fundação Atech, Mectron, Cenic, Compsis, Equatorial, Fibraforte, Avibras, Akaer, Neuron Eletrônica, Digicon e Aeroeletrônica. Leia aqui uma reportagem da época sobre sua criação.

Nota 2: o Brasil participa da missão multinacional QB50, de estudo da baixa atmosfera, com a construção de um nanossatélite, o 14-BISat, a cargo do Centro de Referência em Sistemas Embarcados e Aeroespaciais (CRSEA), do Instituto Federal Fluminense (IFF). Deverá também contribuir com uma rede de estações terrestres (veja a postagem "Projeto QB50 e satélite 14-BISat", de maio de 2013).
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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

SGDC: assinado contrato entre Telebras e Visiona

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Assinado contrato do satélite que será utilizado pelo Ministério da Defesa

Brasília, 28/11/2013 - A Telebras e a Visiona Tecnologia Espacial -  joint-venture da Embraer e a Telebras - assinaram nesta quinta-feira (28) contrato para executar o projeto do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC). O projeto envolve os Ministérios da Defesa, das Comunicações e da Ciência e Tecnologia. O SGDC será de propriedade do governo federal e operado pela Telebras, com bandas Ka (civil), e pelo MD, com a banda militar X.

De acordo com o subchefe de Comando e Controle do MD, brigadeiro Ricardo Pucci Magalhães, a banda X vai ampliar a capacidade das comunicações militares. “A banda X dará apoio às operações e exercícios militares, como a Ágata”, frisou. Ainda segundo o brigadeiro Magalhães, a parte militar do SGDC ajudará em catástrofes naturais e nos grandes eventos.

A banda X é composta por cinco transponders, suficientes para ampliar a largura de banda de 160 MHz, e o aumento de potência em cerca de dez vezes, em comparação ao satélite da “Star One”, atualmente alugado pelo MD. O SGDC ainda possibilitará ampliar o atendimento aos demais projetos da Defesa, principalmente, o Sisfron, de monitoramento das fronteiras terrestres. O projeto satelital prevê, ainda, o lançamento de mais dois satélites espaçados em mais ou menos cinco anos. O brigadeiro salienta que os terminais satelitais distribuídos pelo território nacional estarão sob a guarda de organizações militares.

O contrato, no valor de R$ 1,3 bilhão, assinado hoje pelo secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações e presidente do Conselho de Administração da Telebras, Maximiliano Martinhão; o presidente da Telebras, Caio Bonilha; e o presidente da Visiona, Nelson Salgado; e demais integrantes do Comitê Diretor do SGDC, prevê a entrega do satélite no final de 2016.

A empresa Visiona será responsável pela integração do sistema SGDC, que ampliará o acesso à banda larga nas regiões mais remotas do país, por meio do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), e a soberania brasileira nas comunicações das Forças Armadas.

A construção do satélite brasileiro é estratégica para garantir a soberania das comunicações do governo brasileiro e também para assegurar o fornecimento de internet banda larga aos municípios distantes e isolados, onde não chega a rede terrestre de fibra óptica. Atualmente, existem mais de 2 mil municípios brasileiros com condições de difícil acesso para chegada de uma rede de fibra óptica terrestre.

A partir da formalização deste contrato, a Visiona fará a contratação dos fornecedores e dará início às atividades do desenvolvimento e integração do sistema.

Fonte: Ministério da Defesa.

Nota do blog: leiam também as notas do Ministério das Comunicações ("Telebras e Visiona formalizam acordo para satélite geoestacionário") e da Embraer, acionista controladora da Visiona ("Satélite geoestacionário vai garantir a segurança das comunicações brasileiras").
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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

CBERS 3: preparativos para o lançamento

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CBERS-3: Satélite cumpre etapa pré-lançamento

Quarta-feira, 27 de Novembro de 2013

Especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST, na sigla em inglês) realizaram a chamada Revisão de Prontidão do Satélite (SRR) do CBERS-3. Concluída na semana passada, a etapa é necessária para a autorização do enchimento dos tanques de combustível do satélite, cujo lançamento está previsto para a primeira quinzena de dezembro, na China.

O satélite é o quarto desenvolvido pelo Programa CBERS (sigla para China-Brazil Earth Resources Satellite; em português, Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), parceria com a China que garantiu a ambos os países o domínio da tecnologia do sensoriamento remoto para observação da Terra.

“Os resultados dos testes elétricos realizados no satélite mostraram que não houve danos durante o seu transporte do centro espacial de Beijing para o centro técnico do TSLC (Taiyuan Satellite Launch Center) e as atividades de preparação final do CBERS-3 e a instalação do painel solar foram realizadas com sucesso”, explica Antonio Carlos de Oliveira Pereira Junior, coordenador do segmento espacial do Programa CBERS.

Com os tanques já cheios, o satélite é instalado na coifa e transferido para a torre de lançamento para ser acoplado ao foguete Longa Marcha-4 para realização dos testes de pré-lançamento.

Fonte: INPE
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"A Era dos Pequenos, Micros e Nano satélites (2)", artigo de José Monserrat Filho

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Nota do blog: para acessar a primeira parte da série de artigos, clique aqui.

A Era dos Pequenos, Micro e Nano Satélites (2)

José Monserrat Filho *

Menores, mais rápidos, melhores e mais baratos (M-MR-M-MB). Assim são vistos hoje os pequenos satélites, sejam quais forem seus nomes – microsat, cubesat, cansat, nanosat, picosat etc. Suas vantagens não deixam qualquer dúvida. Eles podem ser desenvolvidos com infraestrutura simples e de baixo custo. Você gasta bem pouco para montar seu próprio pequeno satélite. Esse benefício não tem preço. As forças armadas de inúmeros países já sabem disso faz tempo. Os países em desenvolvimento também. Muitas universidades do mundo inteiro, idem. Pequenas e médias empresas, idem, idem. Jovens estudantes, inclusive de graduação e em especial os de engenharia, talvez tenham sido os primeiros a projetarem e lançarem pequenos satélites, não importando as dificuldades enfrentadas.

Estamos assistindo à invasão do espaço por enxames de pequenos satélites. Já se faz um único lançamento com dezenas deles. Eis alguns exemplos recentes:

Em 19/11/2013, 29 satélites, sendo 28 pequenos, foram lançados por um foguete Minotauro-1, dos EUA, a partir da base de Wallops. Um deles efetua missão de comunicação para a Força Aérea norte-americana. O lançamento custou 28,8 milhões de dólares – menos de um milhão por satélite, em média.

Dos 28 pequenos satélites, 11 eram de pesquisas incentivadas pela Nasa, entre eles o TJ3Sat, projetado por alunos do ensino médio da Escola Superior Thomas Jefferson para a Ciência e a Tecnologia, de Alexandria, Virgínia, EUA. Trata-se de um módulo sintetizador de voz que lê textos em voz alta e envia a gravação ao satélite para serem baixados pela Internet. A Escola Superior Thomas Jefferson, por sinal, oferece um curso especializado em nano satélites, junto com engenheiros da indústria espacial. Os 11 satélites têm forma cúbica com 10 cm de cada lado e volume de 0,95 litros. Pesam 1,36kg, no máximo, e cumprem missões científicas, tecnológicas ou educativas.

A iniciativa faz parte da 4ª missão “Decolagem Educativa de Nano Satélites”, da Nasa. Dela participaram nove universidades norte-americanas (Alabama, Drexel, Florida, Hawai, Kentucky, Louisiana at Lafayette, New Mexico, St. Louis, Thomas Jefferson High School e Vermont) e o Centro de Pesquisa Ames da Nasa.

"Os avanços da comunidade de pequenos satélites estão permitindo acelerar o desenvolvimento das tecnologias de voo, que serão transferidos à indústria espacial", frisou Jason Crusan, diretor da divisão de Sistemas Avançados de exploração da Nasa e supervisor do programa. E anunciou: “Nossas futuras missões se apoiarão no trabalho desta comunidade". Para Leland Melvin, diretor associado de Educação da Nasa, tais satélites oferecem às "melhores e mais brilhantes mentes jovens" a chance "de descobrir a emoção da exploração espacial e, ao mesmo tempo, enfrentar os desafios tecnológicos e de engenharia".

Um dia depois desse lançamento múltiplo, seu recorde foi batido pela Rússia. Em 21/11, um foguete Dnepr lançou 32 satélites, a maioria deles cubesats, de carona com o satélite DubaiSat-2, de observação da Terra de 300kg, produzido pelo Instituto de Ciência e Tecnologia Avançadas dos Emirados Árabes Unidos.

Entre os cubesats, estavam os britânicos Funcube-1, de 1kg e 10 cm de altura, e os KHUSat 1 and 2, além de um cubesat peruano com um sensor de temperatura de 8 cm de altura e 97 gramas – o sensor de bolso (Pocket-PUCP), considerado o menor satélite funcional jamais posto em órbita da Terra.

O Funcube-1, criado pela Amsat-UK (Radio Amater Satellite Corporation do Reino Unido), leva a bordo um transponder que transmite sinais capazes de ser captados por escolares usando um simples receptor USB.

Detalhe curioso: o Funcube-1, ante as dificuldades de obter licença de acesso ao espaço no Reino Unido, só logrou voar graças às facilidades da lei dos Países Baixos. É como se fosse uma nave de bandeira holandesa. O uso de bandeira alheia, comum na marinha mercante, começa a chegar ao espaço. Os juristas espaciais tendem a rejeitar tal solução, pois ela pode confundir a definição do Estado Lançador que deve responder por eventuais danos causados a terceiros.

Os cubesats KHUS-1 e -2 (também chamados de Cinema-2 e -3) resultam da parceria entre três Universidades: da Califórnia, Berkeley, EUA; Kyung Hee, Coreia do Sul; e Imperial College, Reino Unido. Os satélites têm a missão de estudar o ambiente próximo da Terra e sua interação com o Sol. O famoso Imperial College, de Londres, contribuiu com um mini magnetômetro, batizado com o nome de “Mágico”, que registra as condições na magnetosfera – as bolhas de linhas do campo magnético que envolvem o planeta e desviam muito da matéria lançada pelo Sol em nossa direção. O Cinema-1 foi lançado em setembro de 2012, o que significa que o projeto já tem mais de um ano.

Na Ásia, há também forte interesse pelos pequenos, micro e nano satélites. Não por acaso, a APSCO (Asia Pacific Space Cooperation Organization – Organização de Cooperação Espacial da Ásia Pacífico) promoveu em setembro passado, na capital da Mongólia, Ulan Bator, um curso sobre o estado d'arte dos pequenos, micros e nano satélites e suas tendências futuras, visando promover o desenvolvimento, a inovação e as aplicações desses satélites nos países membros – Bangladesh, China, Indonésia, Irã, Mongólia, Paquistão, Peru, Tailândia e Turquia.

Na África, cabe destacar o trabalho em curso na área dos pequenos satélites realizado na Nigéria, África do Sul, Marrocos, Egito, Gana, Sudão, entre outros.

Na América Latina, a Agência Espacial Brasileira (AEB) vem de propor na reunião de Bogotá, realizada em 29 e 30 de outubro passado entre agências espaciais da região, a criação da Aliança Latino-Americana de Agências Espaciais (ALAS), para coordenar programas e projetos de interesse comum, inclusive um de cooperação entre universidades da região para a construção de pequenos, micros e nano satélites.

A Organização das Nações Unidas (ONU), através de seu Escritório de Assuntos Espaciais, com sede em Viena, Áustria, tem sido muito ativa no apoio à formação de especialistas em tecnologias de pequenos, micros e nano satélites nos países em desenvolvimento. Desde 1971, há mais de 40 anos, portanto, o Programa de Aplicações Espaciais da ONU organiza workshops, seminários, simpósios e encontros de peritos, com caráter prático, para beneficiar o mundo mais carente.

Em 2009, o Escritório da ONU lançou a Iniciativa de Tecnologia Espacial Básica (Basic Space Technology Initiative – BSTI), para atender à demanda de pessoal especializado no desenvolvimento de pequenos, micro e nano satélites, inclusive com planos de criação da necessária infraestrutura de construção e testes, bem como o incremento da cooperação internacional e do conhecimento do direito que regulamenta tais atividades.

O mais recente simpósio da BSTI teve lugar na Universidade Zayed, na Cidade Acadêmica de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de 20 a 23 de outubro deste ano, e tratou de um tema que fala por si: “Missões de Pequenos Satélites para as Nações em Desenvolvimento”. O evento conheceu 27 trabalhos, de 15 países, inclusive do Brasil – Fernando Stancato abordou o desenvolvimento de pequenos satélites no INPE.

“Os recursos naturais da floresta amazônica no Brasil, sobretudo os minerais e os de propriedades medicinais (ervas, cascas de árvores, seivas e raízes diversas), podem ser explorados com o emprego de micro e nano satélites” – afirmou Muhammad Shadab Khan, engenheiro indiano, no Simpósio sobre “Aplicações Inteligentes e Economicamente Eficazes de Micro e Nano Satélites nos Países em Desenvolvimento”, organizado pela ONU e pelo Japão, em Tóquio, em 2012. Já pensamos nisso?

Nano lançadores à vista? O norte-americano Garrett Skrobot, considerado um pioneiro dos cubesats, confidenciou ao jornal “Space News” que, estimulado pelo “boom” dos micro e nano satélites, ele vem trabalhando com o Programa de Inovação em Pequenos Negócios da Nasa na busca de tecnologias para viabilizar nano lançadores. “Se tivermos nosso próprio sistema de lançamento, podemos programar lançamentos em pontos específicos no tempo requerido” – prevê Skrobot.

Vale notar que os países em desenvolvimento já começam a sentir a necessidade de contar com lançador próprio para seus pequenos, micro e nano satélites.

Mas esse é assunto para um próximo artigo desta série. Até lá.

* Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB), Vice-Presidente da Associação Nacional de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA), Diretor Honorário do Instituto Internacional de Direito Espacial e Membro Pleno da Academia Internacional de Astronáutica.
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Estação da constelação O3b no Peru

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Na última segunda-feira (25), foi inaugurada em Lurin, no sul de Lima, capital peruana, uma estação terrestre da constelação de satélites de comunicações O3b Networks. A estação será utilizada para apoio ao lançamento e às operações iniciais dos satélites que comporão a rede, assim como gateway para a rede de serviços a clientes.

"A América Latina é um mercado com grande potencial. Redes móveis e infraestrutura móvel ´explodiram´ em anos recentes e muitos governos latino-americanos firmaram compromissos relacionados à banda larga rural. Há uma ligação muito grande entre a penetração da banda larga e o desenvolvimento econômico e social. Governos de nações andinas estão liderando o mundo em seus compromissos com a banda larga rural", declarou em nota Steve Collar, diretor-presidente da O3b.

Inicialmente composta por oito satélites construídos pela franco-italiana Thales Alenia Space - dos quais quatro já lançados, localizados em órbita média (mais de 8 mil km de altitude), a constelação O3b oferecerá cobertura em banda Ka para cerca de 70% da população mundial, incluindo regiões emergentes com mercados "insuficientemente conectados" à internet, como América Latina, África, Oriente Médio, Ásia e Austrália.

No Brasil, a O3b já está em operações e possui ao menos um cliente (Ozônio Comunicações, de Manaus). Frequentemente, também surgem notícias sobre uma possível parceria com a estatal Telebras para atender algumas regiões, em particular na região amazônica, dentro do Plano/Programa Nacional de Banda Larga (PNBL).

O Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), a ser contratado pela Visiona, uma joint-venture da Embraer com a Telebras, também atenderá o PNBL quando estiver em órbita. Outra iniciativa que visa atender a demanda do PNBL é o projeto Conectar, que envolve balões e que conta com a participação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de São José dos Campos (SP).

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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Raupp: "Ciência brasileira adentra a fase adulta"

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Ciência brasileira adentra a fase adulta, diz Raupp

25/11/2013 - 02:27

“A ciência brasileira está em pleno desenvolvimento e alcançou a primeira das fases de sua maturidade”, afirmou o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, em seu pronunciamento na abertura do Fórum Mundial de Ciência (FMC). O evento, no Rio de Janeiro, teve início na noite deste domingo (24).

“Se fizermos uma comparação com um ser humano, vou dizer que estamos no primeiro estágio da fase adulta. Já passamos a adolescência, temos consciência de nossas limitações, mas ainda estamos crescendo, ganhando musculatura e experiência”, comparou.

Na avaliação de Raupp, apesar de recente e de ter começado a sua organização na década de 50, a ciência do Brasil conquistou avanços significativos nos últimos anos, com uma pós-graduação norteada por um eficiente sistema de avaliação contínua, uma produção amparada por um sistema de financiamento sólido e crescente e uma infraestrutura laboratorial que se alastrou por universidades e institutos de pesquisa.

Nos últimos dez anos, informou Raupp, o número de campi nas universidades federais cresceu 100%. O número de doutores formados dobrou e chega a 12 mil por ano. E, acrescentou ele, a expansão do sistema se deve, fundamentalmente, à manutenção dos investimentos do governo federal, já que os dispêndios públicos em atividades de pesquisa e desenvolvimento cresceram três vezes e meia de 2002 a 2011.

Potencial

O titular do MCTI também destacou o potencial das pesquisas brasileiras nas áreas de medicina tropical, exploração de petróleo em águas profundas, na agropecuária e na aeronáutica – inclusive com presença de unidades em outros países e no atendimento a demandas internacionais.

Ele citou o caso da Embraer, que fornece aviões para mais de 80 empresas aéreas das três Américas, Europa, África e Ásia. Destacou também a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), “que, além da ampla atuação no Brasil, conta com laboratórios em 13 países, entre eles Estados Unidos, Inglaterra, França e China, além de países da América Latina e da África”.

Na avaliação do ministro, o desafio hoje é ampliar a participação da ciência brasileira na ciência universal. Em 1985, o Brasil respondia por menos de 0,5% da produção científica global; em 2012, esse índice subiu para 2,7%. “Nosso objetivo, agora, é aumentar o impacto da produção científica brasileira na produção científica global, de modo a fazer com que nossa contribuição seja qualitativamente maior do que é hoje”.

Um dos caminhos para se atingir esse objetivo, ressaltou o titular do MCTI, é aumentar o índice de internacionalização da ciência brasileira. Uma das ações neste sentido é o programa Ciência sem Fronteiras, financiado pelo governo federal, que pretende levar 101 mil estudantes de graduação e pós-graduação para algumas das principais universidades do mundo até 2015.

“Na outra mão de direção, estamos recebendo pesquisadores de vários países para passar uma temporada em nossos laboratórios”, acrescenta. “Entendo que este fórum também contribuirá para a internacionalização da ciência brasileira”, comentou Raupp.

Fonte: MCTI, com edição do blog Panorama Espacial.
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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Série "Entrevistas": o próximo entrevistado

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Concluímos hoje (22) pela manhã uma nova entrevista, feita por telefone, com José Raimundo Braga Coelho, presidente da Agência Espacial Brasileira, dando sequência a nossa série "Entrevistas". Abordamos um variado leque de temas, como a interação do PNAE com a PESE, cooperação com a China, política industrial, rearranjo institucional, SGDC, Alcântara Cyclone Space, lançadores, entre outros.

A entrevista completa deve entrar no ar até o final da próxima semana, aguardem!

Para acessar a entrevista com o primeiro entrevistado, Leonel Perondi, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e publicada no início do mês, clique aqui.
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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

"A Era dos Pequenos, Micros e Nano satélites (1)", artigo de José Monserrat Filho

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A Era dos Pequenos, Micros e Nano satélites (1)

José Monserrat Filho *

A Era Espacial foi inaugurada por um pequeno satélite. O Sputnik-1, lançado pela ex-União Soviética em 4 de outubro de 1957, era uma esfera de 58 cm que pesava 83,6 kg. Voou durante 22 dias a uma altitude entre 228 e 947km, sem nenhuma função específica. Levava a bordo nada além de dois transmissores de rádio de 1 W, com duas longas antenas, operando entre 20,005 e 40,002 MHz e emitindo um único e obstinado – “bip,bip,bip” –, sintonizado por qualquer rádio-amador. Era, portanto, absolutamente inofensivo. Mas causou pânico nos EUA. Por que?

Porque a parte mais importante desse lançamento espacial pioneiro não era o satélite. O Sputnik I não passava do “escada”, como se diz em linguagem teatral, para o personagem principal, o foguete lançador (19 m de altura, dois estágios, 240 ton na decolagem) batizado com o nome de R7, o temido “Semyorka”, que emergia no palco da política mundial, em plena Guerra Fria, como poderoso míssil balístico intercontinental, capaz de lançar ogivas nucleares no outro lado do Terra, ou seja, nos EUA, rompendo, assim, a decantada invulnerabilidade do território norte-americano.

Daí que um pequeno satélite, instalado nos ombros do gigante R7, gerou uma grande mudança global. As potências rivais tinham agora que sentar-se à mesa de negociações para discutir a nova situação geopolítica do mundo e atender, até onde permitissem seus planos estratégicos, aos ardentes anseios de paz de todo um planeta à beira da catástrofe nuclear.

Antes, dizia-se abertamente, o país que dominar o espaço, dominará o mundo. Inaugurada a Era Espacial por quem menos se esperava fosse capaz de tamanho feito, passou-se a apregoar o uso pacífico do espaço.

Mas essa visão não durou muito. De certo modo, serviu para acalmar a opinião pública, alarmada com a ameaça da terceira guerra mundial, fadada a ser um choque de extermínio total. Apesar da perspectiva atordoante, a Guerra Fria não iria parar simplesmente porque os humanos tinham, enfim, chegado ao espaço.

Já em 1956, antes, portanto, do lançamento do Sputnik-1, os EUA aprovavam o projeto do primeiro satélite de reconhecimento, o Corona (resolução de 12m), que viria revolucionar os sistemas de inteligência a partir de 1960, substituindo o avião de espionagem U-2. Um desses aparelhos, pilotado por Francis Gary Powers, funcionário da CIA, foi abatido pela URSS e exibido no desfile de 1º de maio daquele ano. Em 1961, a URSS lançava seu primeiro satélite de reconhecimento, o Zenit (resolução de 10-15m).

A Guerra Fria crescia e se aperfeiçoava. Contudo, por acordo mútuo as duas grandes potências decidiram deixar de lado o espaço exterior como zona de conflito bélico – a mesma situação criada para a Antártida pelo Tratado de 1959, em vigor ainda hoje.

Não por acaso, apenas dez anos após o lançamento do Sputnik-1, o Tratado do Espaço, de 1967, foi capaz de proibir a colocação em órbita de armas de destruição em massa (nucleares, químicas e biológicas) e desmilitarizou totalmente a Lua e demais corpos celestes. Mas não logrou fechar o espaço para os voos suborbitais dos mísseis balísticos de grande alcance portadores de ogivas nucleares, nem para o emprego de outros tipos de armas, e muito menos regulamentar o chamado uso militar passivo do espaço (reconhecimento, comunicação, mapeamento, precisão de tiro etc.), de modo a impedir que ele vá além das ações de defesa e se torne uma forma de agressão.

Hoje, o uso de pequenos, micros e nano satélites é tendência universal sem volta. Os satélites militares são todos apresentados como sendo de defesa. Mas quantos o são efetivamente? E como adotar critérios imparciais e objetivos, reconhecidamente justos e válidos para toda a comunidade internacional, separando o joio do trigo? É aí que a porca torce o rabo.

(O próximo artigo abordará a variedade dos pequenos, micros e nano satélites. Até lá.)

* Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB, Vice-Presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial, e Diretor Honorário do Instituto Internacional de Direito Espacial, Membro Pleno da Academia Internacional de Astronáutica..

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

"Contagem regressiva": reportagem sobre o VLS-1

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A edição n.º 238 da revista "Aerovisão", editada pelo Centro de Comunicação do Comando da Aeronáutica (CECOMSAER), traz uma pequena reportagem, intitulada "Contagem regressiva", sobre a expectativa para a retomada de testes do Veículo Lançador de Satélites (VLS-1) no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, prevista para o segundo semestre de 2014.

O texto é bem simples e contêm algumas pequenas imprecisões (por exemplo, afirma que foram investidos cerca de R$150 milhões no desenvolvimento do foguete, valor que, na realidade, é muito superior), mas traz algumas informações interessantes sobre os benefícios gerados pelo programa.

Para acessar a reportagem (páginas 58 e 59), clique aqui.
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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

INPE em projetos na África Central

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Brasil apresenta projeto para apoiar monitoramento por satélite de florestas na África Central

Segunda-feira, 18 de Novembro de 2013

Na COP-19, a conferência climática das Nações Unidas que acontece em Varsóvia, Polônia, o Brasil propõe apoiar o desenvolvimento de sistemas nacionais de monitoramento de florestas na África Central. Com a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Leonel Perondi, participa nesta terça-feira (19/11) de reunião com ministros de países africanos para apresentar projeto de cooperação.

Por meio do INPE, a experiência do Brasil no monitoramento da Amazônia com imagens de satélite vem sendo compartilhada com países em desenvolvimento. A política brasileira de código aberto de tecnologias de geoinformática e gerenciamento de grandes bancos de dados tem permitido que outros países adaptem as ferramentas para atender suas condições específicas. Um dos exemplos é o TerraCongo, que já está em operação na República Democrática do Congo e foi criado a partir do TerraAmazon, tecnologia desenvolvida pelo INPE para seus sistemas Prodes e Deter, utilizados no monitoramento da Amazônia.

O projeto apresentado na COP-19 ampliará a capacitação técnica dos países da África Central no uso de imagens de satélites para monitoramento de suas florestas. A ideia é que as nações tenham autonomia no monitoramento de seus recursos naturais e gerem suas próprias informações para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a redução de emissões por desmatamento e degradação.

Além da transferência da tecnologia de monitoramento, o projeto contempla a instalação de uma estação de recepção de dados de satélite e a atualização de outra já existente na África Central (Gabão). Isto permitirá com que todos os países da região tenham acesso aos dados de satélite e possam, portanto, dar continuidade ao seu monitoramento após a capacitação técnica. A instalação de antenas de recepção é parte de um audacioso programa, o CBERS for Africa, que prevê o livre acesso aos dados do satélite sino-brasileiro CBERS a todos os países do continente africano.

Fonte: INPE
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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Brasil, Japão e o workshop sobre microssatélites

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Microssatélites é tema de workshop na Agência Espacial Brasileira

Brasília 14 de Novembro de 2013 – As possibilidades de acordo entre Brasil e Japão no que diz respeito a atividades e aplicações com microssatélites foi um dos temas em discussão no Workshop Brasil-Japão sobre Desenvolvimento e Aplicações de Microssatélites nesta quinta-feira (14) na Agência Espacial Brasileira (AEB).

O evento é realizado pelo Laboratório de Aplicação e Inovação em Ciências Aeroespaciais (Laica) da Universidade de Brasília (UnB), em cooperação com as universidades de Tóquio e de Wakayama, do Japão, e apoio da AEB.

A atividade, que foi acompanhada por diversos estudantes da UnB, teve a participação de especialistas brasileiros e japoneses que divulgaram as ações desenvolvidas nos dois países na área de Engenharia Aeroespacial.

O workshop foi aberto pelo diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da AEB, Carlos Gurgel, que deu as boas vindas à comitiva japonesa e aos universitários e pelo chefe do Laboratório de Plasma do Instituto de Física da UnB, José Leonardo Ferreira. Em sua palestra o professor da Universidade de Tóquio, Shinichi Nakasuka, apresentou um panorama das atividades com micro, nano e pico satélites desenvolvidas em seu país, bem como as suas aplicações práticas.

Capacitação

Docente na Universidade de Wakayama, Hiroaki Akiyama, falou sobre a colaboração em educação em ciências espaciais e a formação de pessoal entre Brasil e Japão. Esse tema também foi abordado na apresentação do pesquisador Eriko Yamamoto, da Next-generation Space System Tecnology Research Association.

As palestras apresentam projetos recentes em micro/nano/pico satélites produzidos no Japão e na UnB, discutindo possíveis aplicações práticas e possibilidades de cooperação na formação de recursos humanos e investigação científica nesta área.

As Atividades em Microssatélites e Sistemas Espaciais na UnB foram apresentadas pela professora Chantal Cappelletti, que também desenvolve projetos na área espacial junto a AEB. Consta da pauta de discussões questões relevantes ao incremento de microssatélites, tais como infraestrutura de testes e integração, cooperação no segmento solo e espacial; intercâmbio de conhecimento sobre o emprego de tecnologia aeroespacial na prevenção de desastres naturais, como incêndios florestais e inundações, por exemplo, e monitoramento do território nacional.

Também foi objeto de observação no evento debate sobre a estratégia de pesquisa, desenvolvimento e testes de conceitos em ciências aeroespaciais no âmbito das instituições de ensino superior.

O workshop foi uma atividade dentro do contexto do memorando de entendimento assinado entre o Instituto de Educação sobre o Espaço do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Conjunto da Universidade de Wakayama e a Fundação Universidade de Brasília. O objetivo deste memorando é contribuir mutuamente para a pesquisa na prevenção de desastres e para compartilhar recursos humanos necessários à capacitação por meio do projeto Uniform.

Fonte: AEB
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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Cooperação Brasil - Ucrânia: CsF Espacial

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Acordo com a Ucrânia favorece Ciência sem Fronteiras Espacial

13/11/2013

Candidatos a bolsas do Ciência sem Fronteiras Espacial (CsF Espacial) têm agora a Ucrânia como uma das opções para estudo e estágios no exterior. O país, por meio da Ukrainian State Center of International Education of Ukraine (Uscie), firmou à semana passada acordo de cooperação com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Além da área espacial o acordo oferece oportunidades de bolsas para a área de energia nuclear, guerra cibernética, tecnologias sensíveis, biocombustíveis, mineração e fármacos, por exemplo, nas modalidades doutorado sanduíche, doutorado pleno e pós-doutorado.

A cooperação visa estimular a diversificação dos programas de mobilidade internacional e de cooperação, entre estudantes, professores e pesquisadores dos dois países e ampliar as oportunidades de educação e treinamento de estudantes de graduação, pós-graduação e de pesquisadores brasileiros no exterior.

A cooperação em ciência e tecnologia entre os governos do Brasil e da Ucrânia teve início em 1991 e objetiva o desenvolvimento econômico e social e a melhoria da qualidade de vida de seus povos.

Fonte: AEB, com informações do CNPq.
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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Projeto MMM-1: website interativo

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O jornal gaúcho "Zero Hora" elaborou uma interessante e criativa página na internet com informações sobre o MMM-1, considerado o primeiro projeto de microssatélite militar brasileiro, e que será desenvolvido por empresas, universidades e centros de pesquisa do Polo de Tecnologia Espacial do Rio Grande do Sul, sob a liderança da AEL Sistemas.

O website, que permite certa interatividade, tem informações e desenhos sobre os componentes, subsistemas e dimensões do MMM-1. Para acessá-lo, clique aqui.
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terça-feira, 12 de novembro de 2013

Balões para comunicações e projeto CONECTAR

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INPE lança projeto para conectar o Brasil em banda larga

A tecnologia aeroespacial é a base do CONECTAR, projeto que irá levar sinal de internet às comunidades distantes dos centros urbanos. Para isso, balões carregarão o sistema de comunicação embarcado desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Nesta quinta-feira (14), às 11 horas, no INPE de Cachoeira Paulista, um balão equipado com um protótipo do CONECTAR será lançado para demonstrar a operacionalidade do projeto.  O evento será acompanhado pelo diretor do INPE, Leonel Perondi, e pelos ministros da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, e das Comunicações, Paulo Bernardo.

“O balão portando transceptores será içado a 240 metros de altura e fará os enlaces via rádio com um ponto fixo em Cachoeira Paulista e com um veículo do INPE que transportará um rádio. Esta base móvel realizará uma varredura da qualidade de conexão até 50 km de distância do balão”, explica Jose Ângelo Neri, que coordena o projeto no INPE.

Com o balão, a comunicação em banda larga usando rádio frequência atinge maior área de cobertura em comparação às torres convencionais. Assim, o CONECTAR pode ser executado com custo competitivo em relação às tecnologias existentes, por levar menos tempo para implementação e com abrangência de sinal muito maior.

Realizado pelo INPE/MCTI, Telebrás, CPqD e Ministério das Comunicações, o projeto CONECTAR conta com a parceria de empresas especializadas para agregar tecnologia espacial inovadora ao sistema de comunicação embarcado no balão.

Fonte: INPE
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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

"FINEP - Apoiando a inovação em setores estratégicos"

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FINEP - Apoiando a inovação em setores estratégicos

André M. Mileski

Não é incomum encontrar em projetos nacionais de tecnologia militar o nome FINEP, ou então seu logotipo em protótipos ou cartazes de apresentação. De fato, esta sigla, de alguma forma, direta ou indiretamente, está presente em praticamente todos os setores considerados estratégicos pelo Brasil, como a agricultura, petróleo e gás, energia, telecomunicações, biotecnologia e, é claro, defesa e aeroespacial. Mas, afinal, o que vem a ser a FINEP, e qual é o seu papel?

Criada em 24 de julho de 1967, a FINEP - Agência Brasileira da Inovação é uma empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com a missão de”promover o desenvolvimento econômico e social do Brasil por meio do fomento público à Ciência, Tecnologia e Inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas.”

A partir de 1969, com a instituição pelo Governo Federal do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), criado com o propósito de financiar a expansão do sistema de Ciência &Tecnologia, o papel da FINEP como indutora de atividades inovadoras ganhou enorme impulso. Tal função, associada ainda ao seu caráter de financiadora do desenvolvimento científico e tecnológico, ficou ainda mais evidenciada com a edição da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia & Inovação (ENCTI), análoga da Estratégia Nacional de Defesa em relação à Ciência & Tecnologia que, aliás, elenca dentre as áreas prioritárias o Complexo Industrial da Defesa, o Aeroespacial e o Nuclear.

Atualmente, a FINEP apoia todas as etapas e dimensões do ciclo que se estende da pesquisa básica à aplicada, além da melhoria e desenvolvimento de processos, produtos e serviços associados à inovação. Na esfera privada, sua atuação se dá por meio de programas de liberação de recurso reembolsáveis, na forma de empréstimos, não reembolsáveis (subvenções), e também investimentos indiretos, por meio de fundos de investimento, em empresas classificadas como inovadoras.

Junto ao apoio direto a essas iniciativas pela iniciativa privada, a FINEP ainda atua na destinação de recursos não reembolsáveis, oriundos de fundos setoriais, para o apoio a projetos de C,T&I apresentados por instituições científicas e tecnológicas (ICTs) nacionais. É nesse âmbito que a empresa administra o PROINFRA, para apoio a projetos de manutenção, atualização e modernização da infraestrutura de pesquisa de ICTs. Dezenas de universidades e centros de pesquisa brasileiros recebem recursos para a criação, ampliação e/ou modernização de laboratórios e infraestrutura para Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (P,D&I).

As linhas de financiamento da FINEP são abastecidas com recursos orçamentários, do MCTI, e também pelos Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia, criados a partir de 1999. Hoje, existem 17 desses fundos, sendo 14 para setores específicos, dentre eles o aeronáutico e o espacial. Os fundos setoriais são capitalizados por variadas fontes, como contribuições incidentes sobre o resultado da exploração de recursos naturais pertencentes à União, e parcelas de tributos incidentes em setores e atividades específicas.

Aeroespacial e de defesa

Com base em indicadores de intensidade de P,D&I, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, sigla em francês) classifica os setores produtivos em quatro grupos principais de intensidade tecnológica, sendo que o aeroespacial, ao lado dos farmacêutico, informática, eletrônica e comunicações figuram no topo dessa classificação, considerados de alta intensidade tecnológica.

Não é sem motivo, portanto, que a FINEP tem apoiado ao longo de sua história iniciativas nas áreas aeroespacial, de defesa e segurança, tanto por meio de apoio direto à iniciativa privada, com financiamentos e subvenções econômicas, como investimentos e aportes de recursos em programas de centros de pesquisa e tecnologia das três Forças Armadas, universidades e entidades ligadas ao Programa Espacial Brasileiro.

Em matéria aeronáutica, por exemplo, um dos projetos mais bem sucedidos e que contou com o apoio da agência foi a aeronave de treinamento EMB-312 Tucano, da Embraer, que obteve grande sucesso em exportações e também contribuiu de forma significativa para determinadas capacitações pela Embraer, hoje terceira maior fabricante de aeronaves no mundo.

No campo espacial, é também largamente reconhecida a atuação, tanto na cadeia industrial ou diretamente no projeto propriamente dito, da FINEP no programa do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), iniciado no final da década de 1980 e com cinco satélites de observação já contratados. Com a retomada nos últimos anos da indústria brasileira de defesa, o papel da FINEP como indutora do desenvolvimento de novas tecnologias foi fortalecido. No período de 2004 ao início de 2011, a agência destinou mais de R$1 bilhão apenas para a área de defesa, montante significativamente ampliado nos últimos anos.

Uma das empresas mais beneficiadas com o apoio da FINEP é a Mectron, de São José dos Campos (SP), hoje parte da Odebrecht Defesa e Tecnologia. Ao longo de sua história, recebeu contratos com a agência que, somados, superam mais de R$382 milhões, principalmente para projetos de mísseis. Apenas o míssil ar-ar de quinta geração A-Darter, uma parceria binacional do Brasil e da África do Sul, registrou aportes de linhas do MCTI próximos de R$250 milhões.

No campo naval, projetos tecnológicos não tão conhecidos, mas significativos, também foram beneficiados pela FINEP. É o caso do Sistema de Detecção, Acompanhamento e Classificação de Contatos (SDAC), desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM) em conjunto com a Atech, cujo objetivo futuro é obter um sistema sonar passivo nacional; do Sistema de Aquisição de Dados Acústicos, Magnéticos, Pressão e Campo Elétrico (SAAMPE), para emprego em guerra de minas navais; e do Sistema Integrado de Navegação Inercial para Veículos Submarinos Autônomos (SINVSA).

Em segurança pública, nos últimos anos, a FINEP investiu mais de R$80 milhões em financiamentos, muito em vista da realização dos grandes eventos esportivos no Brasil, como a Copa do Mundo da FIFA, em 2014, e os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016. Foram beneficiadas iniciativas como o sistema de comunicações do “Disque-Denúncia” no Rio de Janeiro (RJ), e pequenos robôs para a neutralização de explosivos. O robô, chamado DIANE, da Ares Aeroespacial, recebeu R$2,6 milhões. Outro campo apoiado foi o das análises forenses que, a cada dia, se tornam mais importantes para a rápida resolução de crimes. A FINEP financiou o Programa de Ciência e Tecnologia Aplicado à Segurança Pública, do Instituto Nacional de Criminalística (INC), de Brasília (DF), para apoio e fomento a projetos de P&D de novas tecnologias, inovação e capacitação em análises químicas, mineralogia, genética, geofísica, geoprocessamento e análise papiloscópica.

Inova Aerodefesa

Em maio de 2013, o Governo Federal, com efetiva participação da FINEP, deu um importante passo para estimular as atividades de P,D&I por meio do lançamento do edital de seleção pública do plano Inova Aerodefesa, que destinará R$ 2,9 bilhões para a inovação tecnológica nos setores aeroespacial, de aeronáutica, de defesa e de segurança pública. O plano é voltado para as indústrias e centros de pesquisas, e visa fortalecer setores estratégicos por meio de ações para estimular a parceria entre iniciativa privada e instituições, com descentralização de crédito e subvenção econômica para o investimento em programas de inovação tecnológica. Dos valores disponíveis, R$2,4 bilhões são de linhas da FINEP e, outros R$500 milhões, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O edital faz parte do Plano Inova Empresa, lançado em março último, e que prevê a articulação de diferentes ministérios e apoio por meio de crédito e financiamento, num total de R$ 32,9 bilhões a aplicar até 2014, destinados a empresas brasileiras de todos os portes que tenham projetos inovadores. O objetivo são os setores considerados prioritários como saúde, aeroespacial e defesa, energia, petróleo e gás, sustentabilidade socioambiental e tecnologia da informação.

O primeiro edital do Inova Aerodefesa elencou quatro linhas temáticas: (i) Aeroespacial – propulsão espacial (motores e veículos); a plataformas e satélites (de pequeno porte) e à indústria aeronáutica visando aeronaves mais eficientes; (ii) Defesa – sensores e/ou sensoriamento remoto (equipamentos e/ou componentes),sistemas e subsistemas de comando e controle; (iii) Segurança Pública – sistemas de identificação biométrica e a sistemas de informações (tais como o SIG-Sistemas de Informações Geográficas), e ainda diversos tipos de armas não letais; e (iv) Materiais Especiais – para aplicações diversas e na indústria de defesa (fibras e carbono e compósitos) incluindo ligas metálicas à base de aços.

Em julho, a FINEP divulgou o resultado preliminar das selecionadas para o programa, tendo sido habilitadas 69 empresas líderes, que incluem gigantes como a Embraer, General Electric, Helibras, e grandes construtoras como a Odebrecht e Andrade Gutierrez, e outras, de médio e pequeno portes. Somados todos os projetos apresentados, a demanda qualificada de recursos é de R$ 12,6 bilhões, valor bem acima dos R$2,9 bilhões disponibilizados. No final de agosto, foi realizado um workshop em São Paulo (SP) para reunir as empresas qualificadas, assim como parceiros e ICTs. Como é natural nessas iniciativas, nem todos os projetos pré-selecionados serão beneficiados neste primeiro edital, mas, a partir da criação do Inova Aerodefesa, espera-se o lançamento frequente de novos processos de seleção no futuro.

No início de setembro, outro meio de financiamento, conceitualmente mais capitalista, foi lançado pela FINEP, juntamente com o BNDES, a Agência de Fomento do Estado de São Paulo S/A, e a Embraer, por meio da aprovação de uma chamada pública para a seleção de uma gestora de um fundo de investimento em participações focado nos setores aeronáutico, aeroespacial, de defesa e de segurança. O fundo, que ainda será constituído, terá um capital comprometido inicial de R$130 milhões, sendo que a FINEP investirá R$40 milhões. Fará investimentos em empresas desses setores, na expectativa de que os investimentos se valorizem e sejam realizados por meio da venda das participações ou aberturas de capital, dentre outras formas de saída.

Com o Inova Aerodefesa e o fundo de investimento, o desenvolvimento tecnológico e a inovação de setores estratégicos como o aeroespacial e defesa, altamente demandantes de recursos, passarão a contar com mais opções de financiamento.

Alguns projetos apoiados pela FINEP

- Projeto VANT: desenvolvido pelo Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), Centro Tecnológico do Exército (CTEx), Instituto de Pesquisas da Marinha (IpqM) e Avibras Aeroespacial.

- Projeto Guarani: mais de R$10 milhões para o desenvolvimento da Viatura Blindada de Transporte Pessoal Média de Rotas (VBTP-MR) Guarani, do Exército Brasileiro.

- Radares da família SABER: aporte de mais de R$40 milhões, oriundos de fundos setoriais, para o desenvolvimento dos radares de vigilância SABER M60 e M200, projeto do CTEx e da empresa Orbisat [Nota do blog: agora chamada Bradar], hoje parte do grupo Embraer Defesa e Segurança.

- Míssil A-Darter: recursos para o projeto do míssil ar-ar de quinta geração A-Darter, iniciativa conjunta entre os governos do Brasil e África do Sul, que conta com a participação das empresas nacionais Mectron (Odebrecht), Avibrás Aeroespacial e Opto Eletrônica.

- Sistemas Inerciais: mais de R$ 40 milhões para o projeto Sistemas Inerciais para Aplicação Aeroespacial (SIA), iniciativa conjunta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do DCTA e de várias indústrias da região do Vale do Paraíba (SP) visando o domínio nacional em sistemas inerciais de navegação para foguetes e satélites. No âmbito do SIA, foi também construído o LABSIA - Laboratório de Sistemas Inerciais, no Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), inaugurado em julho deste ano. Ainda em matéria de sistemas inerciais, a empresa vinculada ao MCTI destinou cerca de R$3,3 milhões para o desenvolvimento e fabricação no País de uma mesa inercial, um equipamento composto por múltiplos eixos, utilizado para a realização de testes e calibração. O projeto está a cargo da Infax Tecnologia e Sistemas, pequena empresa com sede no Rio de Janeiro (RJ).

- Treinador T-Xc: subvenção econômica de aproximadamente R$10 milhões para o desenvolvimento do treinador primário T-Xc, da Novaer Craft, que pode vir a substituir os T-25 Universal operados pela Academia da Força Aérea em Pirassununga (SP).

- Ampliação do LIT/INPE: destinação de R$45 milhões para a ampliação da capacidade do Laboratório de Integração e Testes (LIT), do INPE, em São José dos Campos (SP), para integração, testes e ensaios de satélites de até 6 toneladas.

- PROANTAR: investimento não reembolsável de R$69 milhões para a aquisição do navio polar de pesquisa oceanográfica Almirante Maximiano, operado pela Marinha do Brasil.

- Supercomputador do CPTEC/INPE: o supercomputador Cray, batizado de Tupã, instalado no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/INPE), em Cachoeira Paulista (SP), em operação desde o final de 2010, recebeu R$35 milhões em recursos da FINEP. Nos últimos 20 anos, a FINEP destinou cerca de R$ 100 milhões em infraestrutura e projetos na área de meteorologia, especialmente nos dois centros de meteorologia e pesquisas climáticas do País, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e o CPTEC/INPE.

Fonte: revista Tecnologia & Defesa n.º 134, outubro de 2013.
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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Workshop Brasil - Japão sobre microssatélites

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O Laboratório de Aplicação e Inovação em Ciências Aeroespaciais (LAICA) da Universidade de Brasília (UnB), em cooperação com a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Universidade de Tóquio, realizará o primeiro Workshop Brasil-Japão sobre desenvolvimento e aplicações de microssatélites: atividades da UTokyo, UnB, e projeto UNIFORM.

O evento reunirá especialistas brasileiros e japoneses com o intuito principal de divulgar as atividades desenvolvidas nestes países na área de Engenharia Aeroespacial. Os palestrantes apresentarão projetos recentes em micro/nano/pico satélites desenvolvidos no Japão e na UnB, discutindo aplicações práticas, possibilidades para cooperação, e ainda entrevistando possíveis candidatos para trabalhar no Japão nos satélites UNIFORM-2 e UNIFORM-3.

Este workshop é uma atividade dentro do contexto do memorando de entendimentos assinado entre o Instituto de Educação sobre o Espaço do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Conjunto da Universidade de Wakayama e a Fundação Universidade de Brasília. O objetivo deste memorando é contribuir mutuamente para a pesquisa na prevenção de desastres e para compartilhar recursos humanos necessários à capacitação por meio do projeto UNIFORM.

O workshop será dia 14 de novembro de 2013, no auditório da Agência Espacial Brasileira, das 13h às 20h.

Os objetivos deste evento são:

- Discutir questões relevantes ao desenvolvimento de microssatélites, tais como infraestruturas de testes e integração, cooperação no segmento solo e segmento espacial;
- Intercâmbio de conhecimento sobre o emprego de tecnologia aeroespacial na prevenção de desastres naturais (incêndios florestais e inundações), monitoramento do território nacional, dentre outros;
- Discutir estratégias de pesquisa, desenvolvimento e teste de conceitos em ciências aeroespaciais no âmbito das instituições de ensino superior;
- Discutir questões relevantes à implementação de intercâmbio de pessoal no contexto do projeto UNIFORM;
- Entrevistar possíveis candidatos para intercâmbio no Japão com o intuito de trabalharem na construção dos microssatélites UNIFORM-2 e UNIFORM-3.

A participação é gratuita. Contudo, solicita-se preenchimento da ficha de inscrição no site do evento http://aerospace.unb.br/brjp2013/

A programação, e outras informações podem ser vistas no site http://aerospace.unb.br/brjp2013/

Maiores informações pode ser solicitadas diretamente à comissão organizadora pelo email brjp2013@aerospace.unb.br

Nota do blog: conforme informado em postagem do início de outubro, nos dias 11 e 12 de novembro, um evento similar acontecerá na capital paulista, na Universidade de São Paulo (USP). 
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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Aliança latino-americana de agências espaciais...

AEB propõe uma aliança latino-americana de agências espaciais

Brasília 06 de Outubro de 2013 - A Agência Espacial Brasileira (AEB) propôs à semana passada em Bogotá, na Colômbia, a criação de uma Aliança Latino-Americana de Agências Espaciais (Alas) – alas significa asas em espanhol.

A proposta foi apresentada pelo chefe da Assessoria de Cooperação Internacional, José Monserrat Filho, que esteve naquele país para participar da reunião preparatória das agências e comissões espaciais da América Latina, na Universidade Sergio Arboleda, e do Seminário Internacional sobre Direito Espacial e Soberania, promovido pela Comissão Colombiana do Espaço, ligada à vice-presidência da República e à Força Aérea da Colômbia.

Participaram ainda do seminário representantes da Argentina, Bolívia, Chile, Costa Rica, Equador, México, Paraguai e Peru e como convidado especial o secretário geral da Academia Internacional de Astronáutica, Jean-Michel Contant. Pelo Brasil, além de Monserrat compareceram o secretário da Embaixada do Brasil em Bogotá, Guillermo Alexander Rivera, e o coronel Jorge Vagner Vital, coordenador Técnico-Operacional da Comissão de Coordenação de Implantação de Sistemas Espaciais (Ccise), do Comando da Aeronáutica do Brasil.

Tanto na reunião preparatória quanto no seminário a proposta brasileira teve boa receptividade, passando a ser discutida informalmente nas conversas sobre cooperação e parcerias.

A AEB também sugeriu que a Aliança inicie suas atividades procurando por em prática, pelo menos, dois programas: o de cooperação entre as universidades latino-americanas para a produção de pequenos satélites econômicos, eficientes e úteis com a missão de prestar serviços aos países da região; e de montagem de um sistema regional de acesso, distribuição e utilização de dados e imagens de satélite, necessários para os planos de desenvolvimento social e econômico de cada país.

A Alas está pensada para ser um fórum dirigido a propiciar e estimular a realização de programas e projetos colaborativos capazes de atender às necessidades e demandas dos países da região. A entidade funcionará inicialmente por meio de contatos virtuais e videoconferências. A intenção é utilizar ao máximo os recursos humanos e tecnológicos já existentes.

Para Monserrat, a Aliança certamente terá um longo caminho a percorrer para alcançar os resultados positivos que todos almejamos, “mas os primeiros passos, bem focados e concretos, devem ser dados com a máxima pressa possível”.

A reunião preparatória das agências e comissões espaciais da América Latina teve como foco prepara a Cúpula dos Presidentes de Agências Espaciais do mundo, a se realizar em Washington, nos Estados Unidos, em 9 de janeiro próximo.
 
Fonte: AEB
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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

COSBAN: resultados no campo espacial

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Aconteceu hoje (6) em Cantão, na China, a Terceira Sessão Plenária da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), que dentre vários temas, tratou da cooperação entre o Brasil e a China no campo espacial, iniciada há mais de quinze anos com o programa do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS).

Abaixo, reproduzimos o trecho da ata da reunião referente às atividades espaciais conjuntas:

"xi. Sobre Cooperação Espacial

73. Ambos os lados concordaram em lançar o CBERS-3 no início de dezembro de 2013, e o CBERS-4 em 2015.

74. Ambos os lados concordaram em realizar o processo de montagem, integração e teste (AIT) do CBERS-4 no Brasil.

Ambos os lados concordaram em lançar o CBERS-4 a bordo de um veículo Longa Marcha 4B e assinar o contrato de serviços de lançamento do CBERS-4 até o final de 2013.

75. Ambos os lados concordaram em assinar o Plano Decenal Sino-Brasileiro de Cooperação Espacial 2013-2022 entre a Agência Espacial Brasileira e a China National Space Administration, e decididamente implementar as ações para desenvolver os programas do Plano.

76. Ambos os lados concordaram em promover a recepção de dados dos satélites CBERS em outros países, em conjunto melhorar suas aplicações, e aprofundar os estudos quanto às políticas de cooperação em dados de satélites."

É interessante observar o acerto entre os dois países para o lançamento do CBERS 4 em 2015. Há anos que se mencionava a possibilidade do CBERS 4 voar a bordo do lançador ucraniano Cyclone 4, a ser operado pela binacional Alcântara Cyclone Space (ACS) a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, informação esta, aliás, que chegou a constar em atas públicas e também em declarações de dirigentes do Programa Espacial Brasileiro. Aparentemente, ainda que não haja publicidade deste posicionamento, há dentro do governo certa descrença quanto à ACS e sua capacidade de realizar sua primeira missão até o final de 2015.

Continuidade do CBERS e projetos em meteorologia

No final da tarde de hoje (6), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) divulgou uma nota com mais detalhes sobre os avanços na cooperação em ciência e tecnologia. “Estamos indo muito bem com os chineses”, afirmou o ministro Marco Antonio Raupp.

No campo espacial, o texto do MCTI faz referências ao plano decenal de trabalho conjunto, que prevê a continuidade do programa CBERS e também a abertura de novas frentes, como o desenvolvimento de um satélite geoestacionário meteorológico, a criação de um laboratório conjunto de meteorologia, além do intercâmbio de pessoal e a abertura de um centro de tecnologia no Brasil.
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Cooperação Brasil - Índia

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INPE acompanha missão indiana a Marte

Terça-feira, 05 de Novembro de 2013

As estações de rastreio e controle de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), localizadas em Cuiabá (MT) e Alcântara (MA), têm importância fundamental na primeira missão a Marte promovida pela Índia (Mars Orbiter Mission – MOM).

O lançamento do Mangalyaan (veículo de Marte) foi realizado com sucesso nesta terça-feira (5/11) e, pelos próximos 30 dias, o satélite indiano será acompanhado pelos equipamentos do INPE que integram uma rede internacional de estações de rastreio e controle.

“Nosso papel nesta missão é  muito importante porque as duas estações, por suas posições geográficas, são as primeiras da rede internacional a receber os sinais da MOM depois de sua separação no último estágio do veículo lançador, fato que determinou uma atenção especial da Indian  Space Organization (ISRO)”, explica Pawel Rozenfeld, chefe do Centro de Rastreio e Controle do INPE.

O Centro de Rastreio e Controle (CRC), que realiza a operação em órbita dos satélites desenvolvidos pelo próprio INPE ou em cooperação com instituições estrangeiras, também está capacitado a dar suporte a missões espaciais de terceiros. Mais informações sobre o CRC na página www.inpe.br/crc.

Fonte: INPE
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terça-feira, 5 de novembro de 2013

Notícias do SGDC

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04/11/2013 - 21h45 Comissões - Infraestrutura - Atualizado em 04/11/2013 - 21h48

Satélite brasileiro é soberania tecnológica, dizem especialistas

Da Redação

O programa brasileiro de Satélite Geostacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC) foi avaliado como promissor na reunião da Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) desta segunda-feira dentro do ciclo de debates sobre o tema “Investimento e gestão: desatando o nó logístico do país”.

Para os especialistas consultados, o satélite - que deverá ser levado à órbita terrestre em 2016 - ampliará a cobertura das redes de dados brasileiras, alcançando municípios que atualmente têm dificuldade para acesso à telefonia e à internet, e dificultará a interceptação de dados estratégicos, além de proporcionar demanda por tecnologia desenvolvida no país.

Artur Coimbra, diretor do Departamento de Banda Larga do Ministério das Comunicações, tratou da contribuição do futuro satélite para a massificação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), especialmente em áreas distantes que não estão cobertas pela rede de dados convencional e dependem de conexão direta com satélites particulares - um serviço que, conforme frisou, é caro e lento no Brasil.

Coimbra espera que o projeto aumente a segurança e a soberania da transmissão de dados no Brasil e aumente a capacidade do país no desenvolvimento de satélites.

- O primeiro satélite permitirá que o Brasil adquira uma capacidade muito boa de desenvolvimento - afirmou, avaliando que no quarto satélite da série prevista seja possível usar somente componentes brasileiros.

Caio Cezar Bonilha Rodrigues, presidente da Telebras, também lembrou a prioridade no programa de absorção e transferência de tecnologia. Ele criticou as operadoras dos satélites comerciais, que, segundo ele, apontam com mais ênfase para áreas de maior demanda e não cobrem adequadamente áreas como a Amazônia. Ao ressaltar o papel da estatal - que não fornece acesso a consumidores finais - no incentivo aos pequenos provedores e na redução do preço do acesso no atacado, condenou o "monopólio" das operadoras de telefonia que exploram serviços de internet.

- Quando chegamos a uma determinada cidade, a demanda dobra - disse.

O capitão-de-mar-e-guerra Fabio Martins Raymundo da Silva, chefe da Seção de Comando e Controle da Chefia do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do Ministério da Defesa, alertou que a capacidade satelital da Banda X - usada desde os anos 90, especialmente em operações conjuntas das Forças Armadas - está "chegando ao limite".

Entre as vantagens do satélite brasileiro, ele citou a cobertura de toda a América do Sul, podendo ainda alcançar operações como aquelas desenvolvidas pelo país na Antártida e no Haiti, e a arquitetura de rede de voz e dados totalmente segregada.

Fabio Martins Raymundo da Silva ainda minimizou a possibilidade de violação de dados, frisando que o satélite virá com defesa contra tentativa de interferência na frequência de transmissão - caso detectada, a comunicação poderá ser realizada por meio alternativo - e que todas as comunicações estrategicamente sensíveis são criptografadas usando-se protocolos sob o domínio de técnicos brasileiros.

Fonte: Agência Senado

Nota do blog: uma reportagem da Agência Estado publicada na noite desta segunda-feira citando o presidente da Telebras, Caio Bonilha, afirma que o contrato para a fabricação do satélite, a cargo da franco-italiana Thales Alenia Space, deve ser assinado ainda este mês. Embora a informação não tenha sido citada, imagina-se que também este mês deve ser assinado o contrato de prestação de serviços entre a Visiona e a Telebrás.
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Cooperação Brasil - China: satélite meteorológico?

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O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação divulgou nesta segunda-feira (4) uma notícia acerca da visita do ministro Marco Antonio Raupp para participar da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), que se reunirá na próxima quarta-feira, em Cantão. O presidente da Agência Espacial Brasileira, José Raimundo Coelho, acompanha o ministro na viagem.

Conforme já havíamos informado numa das notas da entrevista com Leonel Perondi, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), na reunião da COSBAN deverá ser assinado um novo plano decenal, válido de 2013 a 2021, em matéria espacial. A novidade é que os dois países irão além do programa CBERS, de observação terrestre, e devem se comprometer a construir satélites meteorológicos. Informações mais detalhadas devem ser divulgadas ao longo da semana.
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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Entrevistas: Leonel Perondi, diretor do INPE

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Conforme revelado na última quinta-feira, damos início hoje à série "Entrevistas". O primeiro entrevistado foi Leonel Fernando Perondi, que desde maio de 2012 é diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), principal instituição executora dos programas de satélites nacionais.

A conversa foi centrada nos programas do Instituto no segmento espacial, isto é, satélites. Apresentamos a seguir os principais trechos. No final da entrevista, incluímos pequenos comentários elaborados pelo blog Panorama Espacial, identificados ao longo do texto (entre colchetes e destacados em itálico e grifados) analisando e dando algumas informações adicionais sobre os tópicos abordados.

CBERS e política industrial

A entrevista, realizada por telefone, começou abordando o principal projeto de satélite desenvolvido pelo INPE: o programa do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS). Perondi destacou a entrada do programa em sua segunda fase, com a expectativa para o lançamento do primeiro satélite da segunda geração, o CBERS 3, no próximo mês de dezembro. O CBERS 4 deverá ser lançado dois anos depois. Mencionou ainda o fato do satélite contar com quatro sensores óticos e também com um transpônder de coleta de dados, que reforçará o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SBCD). Deu também ênfase ao seu caráter industrial, enfatizando o fato de que os dois modelos foram contratados junto à indústria nacional, gerando ao todo cerca de R$370 milhões em contratos. "É essencialmente um programa de política industrial", destacou.

Questionado sobre a continuidade do programa, o diretor afirmou que existem discussões visando uma nova geração, e que esta é a posição do INPE, na qualidade de executor da missão. "Mas, tem que ter sempre o elemento de inovação". Em sua opinião, o CBERS trouxe visibilidade internacional, mas é preciso ir além. "[Hoje], são satélites de rotina para a China, e esta é a nossa ideia também".

Perondi entende que as próximas unidades, em caso de continuidade, podem ser inteiramente contratadas junto à indústria nacional, atendendo as necessidades nacionais em sensoriamento remoto e funcionando como um instrumento de política industrial. Desde 2005, existem propostas do lado chinês para uma extensão da cooperação espacial [Nota 1].

Amazônia-1

Após o CBERS, a pergunta natural foi sobre o projeto do satélite de observação Amazônia-1, baseado na Plataforma Multimissão (PMM). Perondi respondeu dando um panorama sobre a PMM e a sua primeira missão, ressaltando que o projeto da plataforma foi contratado na indústria em 2001 sem uma linha de base, com uma amplitude grande para aplicações multimissão. "São quase doze anos de desenvolvimento do projeto." "Nenhum subsistema tem herança de voo, o que é um desafio grande", disse.

O Amazônia-1, especificamente, está em revisão e pode ser lançado em dois anos, informou, revelando ainda que a forma de contratação gerou certas dificuldades de relacionamento com a indústria, algo que está em discussão no âmbito de direito administrativo. "O INPE está mobilizado em definir o cronograma de satélites."

Cubesats e nanossatélites

Perguntamos ao diretor do INPE sobre alguns projetos de cubesats e nanossatélites que têm sido desenvolvidos pelo Instituto. De acordo com ele, são missões ainda experimentais e em escala reduzida, envolvendo as unidades do Centro Regional do Nordeste (Conasat) e Centro Regional Sul (NanosatC-BR), com forte objetivo de aprendizagem. "Estamos aguardando os resultados, e temos que ver o lado de aplicações também", afirmou.

Satélites radar, meteorológico e Lattes

Perondi enfatizou que a prioridade do INPE é o CBERS e, em seguida, o Amazônia-1 (PMM). Mas, há também outros projetos e possibilidades no âmbito espacial. Um deles é o satélite radar, no passado, quando planejado em parceria com a Alemanha, denominado MAPSAR.

Em discussão desde 2003 e constante no Programa Espacial desde o PNAE 2005-2014, o diretor afirmou que o satélite radar teve como alternativa considerada apenas uma configuração com antena refletora, e não planar, dando indicativo de que sua configuração está sendo discutida. "A demanda para estas imagens continua existindo, e uma parceria internacional é possível".

Sobre uma missão meteorológica, afirmou que esta já consta do PNAE desde 2004 (período 2005-2014), e que é uma necessidade do País. "[Esta] já deveria estar no horizonte nos próximos dez anos". Há certa expectativa sobre o arranjo para a sua viabilização.

Em relação ao satélite Lattes, de aplicações científicas, Perondi revelou que deve ser repensada. "A missão é extremamente desafiadora em razão da integração da plataforma e das cargas úteis." Existe a possibilidade de que o Lattes, surgido a partir da "fusão" dos projetos de microssatélites EQUARS e MIRAX, venha a ser dividida em duas plataformas menores. Esta estratégia, aliás, estaria alinhada à ideia do INPE de retomar as missões de pequenas plataformas, que poderiam ainda incluir missões com transpônderes para atender o SBCD.

SGDC

A respeito da participação e/ou ganhos esperados pelo INPE com o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), Perondi foi sucinto, citando que o satélite atenderá demandas nacionais imediatas (banda larga e comunicações militares), e que o Instituto pode se beneficiar no futuro por meio do Laboratório de Integração e Testes (citou o caso de alguns satélites da série Brasilsat, que tiveram módulos testados no laboratório), e com oportunidades para a formação de pessoal no exterior.

Perspectivas de novos contratos para a indústria?

A entrevista foi encerrada com uma questão sobre a perspectiva de novos contratos em curto ou médio prazos para a indústria espacial brasileira, uma vez que os satélites CBERS e o Amazônia-1 já estão praticamente 100% contratados. O dirigente ressaltou que o papel do INPE é de executor e não de planejador do Programa Espacial, mas que o Instituto "olha com preocupação o futuro", respondendo ao comentário do entrevistador sobre a situação da indústria na atualidade [Nota 2].

O dirigente mencionou que nos últimos dez anos, o Instituto contratou mais de R$500 milhões com a indústria e que existem expectativas e novos contratos, sem, no entanto, indicar datas. Citou, como exemplo, o satélite em cooperação com a Argentina (SABIA-MAR), e também missões para coletas de dados [Nota 3].

Notas do blog:

Nota 1: entre os dias 4 e 9 de novembro, acontecerá na China a III Reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), mecanismo de diálogo político de mais alto nível entre Brasil e China. Sua estrutura inclui onze subcomissões, inclusive uma espacial. A expectativa é que no encontro, cujo lado brasileiro será chefiado por Michel Temer, vice-presidente da República, seja aprovado o Plano Decenal de Cooperação Espacial entre os dois países.

Nota 2: ao questionarmos sobre novos contratos, destacamos os receios da indústria espacial, que tem passado por certas dificuldades (algumas, devemos dizer, de sua própria responsabilidade). Apesar da expectativa de que o SGDC possa de alguma forma beneficiar a indústria local, tais benefícios não serão imediatos, podem não ter efeitos financeiros diretos (transferência de tecnologia não necessariamente gera vendas) e serão sentidos apenas após vários anos. Ressalte-se, aliás, que o contrato para a construção do primeiro satélite ainda não foi assinado. Especificamente sobre a situação da indústria local, o blog tem conhecimento de ao menos duas empresas que estão demitindo pessoal ou prestes a demitir. Ainda, é fato amplamente conhecido no setor a gravíssima crise financeira por que passa uma das principais indústrias brasileiras do setor (abordaremos este caso, em detalhes, mais adiante).

Nota 3: de acordo com as informações apuradas pelo blog Panorama Espacial, há discussões no âmbito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e AEB para a contratação da missão SABIA-MAR, em conjunto com a Argentina. O modelo analisado envolveria um prime contractor industrial, no qual a Visiona Tecnologia Espacial, surgiria como mais forte candidata. Em relação aos satélites para atender o SBCD, é possível que haja a participação do Comando da Aeronáutica (Ministério da Defesa), e também da Agência Nacional de Águas (ANA), subordinada ao Ministério do Meio Ambiente.
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sábado, 2 de novembro de 2013

Discussão sobre satélites para defesa

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Oficina reúne propostas para a utilização de satélites de defesa

As propostas de utilização para os satélites nacionais de defesa foram apresentadas nesta sexta-feira (01/11) na Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro. A atividade encerrou a Primeira Oficina de Sistema Espaciais de Defesa que reuniu cerca de 60 profissionais civis e militares de diversos órgãos do governo federal, como Agência Espacial Brasileira, o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A oficina faz parte do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), um sistema do ministério Defesa que vai atender as demandas das Forças Armadas e a programas dos demais ministérios do governo brasileiro.


Os Comandantes da Marinha, Almirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto, e da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Juniti Saito, representantes do ministério da Defesa, acompanharam a apresentação. Oficiais-generais do Alto Comando da Aeronáutica e das Forças Armadas também assistiram às explicações do grupo de trabalho. 


A situação atual e o levantamento de necessidades não atendidas nas áreas de comunicações, observação da terra, mapeamento de informações e posicionamento foram os principais temas a nortear os trabalhos durante os quatro dias de palestras técnicas, debates e discussões em grupo entre engenheiros e técnicos da área.


Para a gerente substituta do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) de Manaus, Solange dos Santos Costa, este passo é fundamental para o Brasil planejar como vai utilizar os satélites nacionais.


“É igual ao processo de compra de um carro. Primeiro você precisa saber dirigir para tirar o melhor proveito do produto”, compara a geóloga. Segundo ela, o evento apontou as reais necessidades do sistema sensor e mostrou a real aplicação dos recursos que serão gerados a partir do satélite. No caso da Amazônia, as imagens serão usadas na identificação de desmatamentos, extração mineral, entre outras informações que são usadas para apoiar os órgãos de inteligência.


Questão de soberania – Para o presidente da Comissão de Coordenação e Implantação de Sistemas Espaciais (CCISE), órgão da FAB que organiza o evento, Major-Brigadeiro do Ar Carlos Vuyk de Aquino, a oficina reforça a nítida necessidade de desenvolver um sistema espacial brasileiro e autônomo. “A questão da soberania vamos alcançar quando tivermos plena autonomia sobre esse tipo de atividade”, avalia o oficial-general. Atualmente, as Forças Armadas utilizam plataformas baseadas em tecnologias internacionais. 


O PESE é um sistema do ministério Defesa que vai atender as demandas das Forças Armadas e a programas dos demais ministérios do governo brasileiro. A utilização dos satélites vai proporcionar trafegar informações estratégicas com segurança e por meio de banda adequada. O programa trabalha com horizonte de 20 anos. O primeiro satélite de comunicações e defesa deve ser lançado em 2016. Segundo o oficial-general, a questão é conseguir atender todos os serviços com tecnologia nacional. “Vai ser mais lento, mas é necessário. Vamos ter condições de resolver nossos problemas com tecnologia própria”, afirma.


Saiba mais: O Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE) é um programa criado para atender necessidades estratégicas das Forças Armadas e da sociedade brasileira. A coordenação e implantação dos sistemas espaciais foi atribuída pelo Ministério da Defesa e pelo Comanda da Aeronáutica para a Comissão de Coordennação e Implantação de Sistemas Espaciais (CCISE). O objetivo do PESE é prover infraestrutura espacial para ser usada estrategicamente e de modo potencializador no Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SISGAAZ), no Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON), no Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA), no Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e afins.


Fonte: FAB

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