sábado, 15 de março de 2014

Notas sobre a Satellite 2014

.
Na semana passada, aconteceu em Washington, capital dos Estados Unidos, mais uma edição da conferência Satellite, considerada um dos principais eventos anuais da indústria de satélites de comunicações. O blog Panorama Espacial esteve presente e apresenta abaixo algumas notas sobre o que aconteceu de mais importante.

Ausência de grandes anúncios

A edição de 2014 do evento não veio acompanhada de grandes anúncios de encomendas de satélites ou contratos de lançamento, como em edições passadas. Executivos consultados pelo blog afirmaram, no entanto, que o mercado continua muito aquecido, com várias consultas e pedidos de propostas em andamento.

Satélites de propulsão elétrica

Nos painéis de discussões sobre tecnologias de satélites, o tom foi o de inovação, girando em torno da propulsão elétrica. O assunto, de fato, não é novo. Em março de 2012, a Boeing causou um frenesi no mercado ao anunciar a venda de quatro modelos com propulsão inteiramente elétrica para operadores no México (Satmex, hoje parte do grupo Eutelsat) e na Ásia (ABS). A própria tecnologia, aliás, não é nova, mas não é usual em satélites comerciais em razão do longo tempo, na casa dos meses, exigido para que o artefato chegue a sua órbita planejada e comece a operar. Sua vantagem está no reduzido peso, não havendo necessidade de combustível químico a bordo (geralmente, cerca da metade da massa total é de combustível). E o efeito prático disto é, principalmente, economia nos fretes de lançamento. A desvantagem, como já colocado, é o tempo exigido para se chegar à posição final. No caso do modelo da Boeing, são estimados de 6 a 8 meses, tempo que se reflete na ausência de receitas da operadora com a venda de capacidade.

Na prática, hoje existem três possibilidades: propulsão química, a mais comum; a elétrica; e a híbrida. Esta última, um meio termo, proporcionaria a chegada em órbita mais rapidamente, em dias, utilizando-se propulsão química, enquanto que o sistema elétrico serviria para ajustes orbitais ao longo da vida operacional do satélite. No final de janeiro, John Celli, presidente da Space Systems/Loral, afirmou ao blog que via boas perspectivas para soluções híbridas.

Mas, passados dois anos do surgimento do primeiro produto comercial, não surgiram novas encomendas. A Boeing, porém, afirmou que vendeu três unidades para um cliente governamental confidencial dos EUA, e um novo contrato comercial estaria prestes a ser assinado, em semanas. Eric Béranger, da Airbus Defence and Space (antiga Astrium), revelou que dos pedidos de propostas em elaboração por sua companhia, cerca de 20% envolvem opções de propulsão elétrica, dando um indicativo de dimensão do mercado para a tecnologia.

Ao final, e parece haver acordo quanto a isso entre os principais players do setor, o fato é que a imaginada revolução trazida por esta tecnologia é bem mais complicada e tem bases na relação custo versus benefício. É possível ter alguma economia com o frete de lançamento, mas, por outro lado, o satélite levará mais tempo para iniciar sua operação comercial (com impacto na geração de receitas). Ainda, há que se considerar também as eventuais mudanças de posições orbitais, que levariam mais tempo e também teriam reflexos negativos nas receitas.

Este tema, aliás, tem uma importância particular para o Brasil, e daí a importância de se acompanhá-lo. A binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), que pretende operar o foguete Cyclone 4 a partir de um sítio no Maranhão, tem usado como argumento de sua viabilidade o advento da propulsão elétrica, que terá reflexos na redução das massas dos satélites. Em missões de transferência geoestacionária, o Cyclone 4 pode transportar cargas de até 1.600 kg. Até o momento, porém, não surgiram modelos elétricos compatíveis com a capacidade do lançador ucraniano (acredita-se que os modelos da Boeing tenham massa em torno de 2.000 kg).

SGDC mencionado pela Thales Alenia Space

Ao menos por um momento, o Brasil foi assunto no painel dos fabricantes. Ao fazer sua introdução, Bertrand Maureau, vice-presidente da linha de negócios de telecomunicações da franco-italiana Thales Alenia Space, destacou o contrato do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), firmado com a Visiona Tecnologia Espacial em dezembro último, como um negócio chave. “[É] mais do que apenas um satélite. Trata-se de um pacote para treinamento de pessoa, de transferência de tecnologia ao longo de cinco anos”.

Um Ariane 5 "americanizado"?

No painel sobre lançadores, que tradicionalmente conta com a participação de líderes das principais provedoras de lançamento do mundo, o destaque foi a declaração de Stéphane Israël, presidente da Arianespace, que criticou o fato do mercado governamental norte-americano não ser aberto a provedores estrangeiros. "Nós estamos certos de que estamos em posição de oferecer as melhores soluções para os clientes e os contribuintes. E se a questão é [geração de] empregos, nós estamos prontos para ver como podemos "americanizar" nosso lançador", afirmou, sem, no entanto, detalhar.

Um novo lançamento ou seu dinheiro de volta

Ainda quanto aos lançadores, a Lockheed Martin, que comercializa o foguete Atlas 5, anunciou sua estratégia para obter novos contratos, baseada no histórico de confiabilidade de seu veículo. Num cenário de falha no lançador, a companhia oferecerá a clientes que não sejam o governo dos EUA um novo voo, sem custo, ou a devolução do valor pago pelo frete. A presença da Lockheed Martin no segmento de lançamentos comerciais geoestacionários é bastante tímida, em razão de seus preços mais altos (cerca de 30% acima de soluções concorrentes), mas há intenção de ampliá-la. O Atlas V é um dos foguetes, ao lado do Delta IV, da Boeing, utilizado pelo governo norte-americano para a colocação em órbita de satélites geoestacionários.

Presença brasileira

Na área de exposição, do Brasil, apenas uma trading estava presente. A ACS, que participou em 2013, este ano não compareceu. Representantes de companhias nacionais, como a Star One, Oi e Visiona Tecnologia Espacial circularam nas conferências e tiveram encontros com parceiros e fornecedores.
.

Nenhum comentário: