sábado, 30 de janeiro de 2016

Cooperação Brasil - China: bolsas de mestrado em ciência espacial

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Universidade de Beijing oferece bolsas de mestrado em ciência espacial

Brasília, 29 de janeiro de 2016 – O Centro Regional para Ciência Espacial e Educação Tecnológica na Ásia e no Pacífico (RCSSTEAP – China) oferece três bolsas de estudos para Mestrado na Beijing University of Aeronautics and Astronautics (BUAA), com início em Setembro deste ano.

As áreas contempladas pelos Programas de Mestrado Master Program on Space Technology Applications (Masta) são Sistemas Globais de Navegação por Satélite (GNSS); Sensoriamento Remoto e Sistema de Geo-Informação (RS&GIS); e Direito e Política Espacial.

Os interessados serão pré-selecionados pela Agência Espacial Brasileira (AEB) cabendo a Universidade a seleção final.

São pré-requisitos para os candidatos ter menos de 40 anos até o próximo dia 15 de março;     ter experiência profissional na área; ter bacharelado, disciplina relevante ou similar ao diploma de bacharel; experiência de pesquisa nas áreas relevantes; bom domínio da língua inglesa e capacidade de acompanhar aulas nesse idioma.

Interessados devem preencher e enviar seu currículo, acompanhado do documento Basic Information of the Candidates for Masta 2016, para o e-mail buaa2016@aeb.gov.br até o próximo dia 1º de março de 2016.

Os candidatos selecionados para a segunda etapa terão até o dia 15 de março para fazer a inscrição final, de acordo com instruções a serem fornecidas pela AEB.

Informações suplementares com a Assessoria de Cooperação Internacional – aci@aeb.gov.br – 34115546.

Basic Information of the Candidates for MASTA 2016

Fonte: AEB
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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Ariane 5: 70º sucesso consecutivo

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Foi realizado na noite de ontem (27), a partir de Kourou, na Guiana Francesa, o 70º lançamento consecutivo bem sucedido do lançador europeu Ariane 5, operado pela Arianespace.

O foguete levava a bordo um satélite de comunicações de nova geração da operadora Intelsat. Ressaltando a confiabilidade do lançador, François Auque, chefe de Sistemas Espaciais da Airbus Defence and Space, prime-contractor do Ariane 5, afirmou em nota: "Este primeiro voo bem sucedido de 2016 destaca mais uma vez a extraordinária confiabilidade do lançador europeu AriAne 5, um dos maiores e mais complexos sistemas de lançamento do mundo."

A missão teve duas características interessantes: envolveu a colocação em órbita de um único satélite de comunicações por um mesmo Ariane 5, o que é um contraste em relação à configuração típica deste lançador, com duas cargas úteis para missões para órbitas de transferência geoestacionária; e também foi o primeiro voo realizado pela empresa no mês de janeiro desde 2002 (na época, um Ariane 4), período que, por suas características climáticas, raramente permite lançamentos de Kourou.

2016 deverá ser um ano bastante movimentado para a Arianespace. Ao todo, a empresa planeja executar 11 missões ao longo deste ano, abrangendo voos do Ariane 5 (até 8 lançamentos, um recorde), do russo Soyuz e do italiano Vega, de médio porte.
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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

"Da Guerra Pré-histórica à Guerra no Espaço", artigo de José Monserrat Filho

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Da Guerra Pré-histórica à Guerra no Espaço

José Monserrat Filho *

“É muito lenta a vida
E violenta demais toda esperança.” Guillaume Apollinaire (1880-1918), poeta francês¹  

A guerra entre os humanos é mais antiga do que se pensava. Surgiu antes da agricultura e da vida sedentária, quando alguns grupos já detinham bens e ocupavam zonas de boa alimentação que outros grupos também necessitavam.

A ideia está sugerida na pesquisa publicada na revista inglesa Nature2, de 21 de janeiro, que descreve o massacre de 12 caçadores-coletores ocorrido há cerca de 10 mil anos, em Nataruk, no Quênia, África. O grupo todo era formado por 27 esqueletos insepultos, com pelo menos oito mulheres e seis crianças. O trabalho analisa a “Violência entre grupos de caçadores-coletores no início da Holoceno3, no Oeste da Turkana, Quênia” e foi realizado por arqueólogos do Centro Leverhulme para Estudos da Evolução Humana (Leverhulme Centre for Human Evolutionary Studies – LCHES) da Universidade de Cambridge, Reino Unido, sob a liderança de Marta Mirazón Lahr. Marta lecionou na Universidade de São Paulo (USP), onde se graduou em Biologia.

A Folha de S. Paulo logo repercutiu o estudo, em 22 de janeiro, com um bom texto de Reinaldo José Lopes. Apenas o título “A guerra mais antiga do mundo” é difícil de aceitar. Cientificamente indefensável, comete o pecado mortal do sensacionalismo. Sem fundamento, não merece estremecer uma página de ciência. Nada semelhante aparece no artigo da Nature. Mas a heresia pode não ser do autor. Seu mesmo texto, divulgado na Folha on-line, intitula-se, sensatamente, “Antropólogos acham 12 esqueletos de vítimas de guerra pré-histórica”4.

Marta e seus colegas concluíram que o ataque não foi casual, mas premeditado, planejado. Há indícios de conflito similar a uma guerra preparada. As atrocidades incluem o uso de pontas de pedra enfiadas no crânio ou em outras partes do corpo das vítimas, além de fraturas, cortes e esmagamento de ossos. Algumas vítimas, pelo visto, tiveram mãos e pés amarrados. Entre os sacrificados, aparentemente imobilizados, havia uma mulher na última fase de gestação.

As pontas de pedra encontradas dentro dos esqueletos, diz Marta, eram certamente de flechas. Os agressores, ao que parece, também usavam flechas sem ponta – como varetas afiadas –, porretes de dois tamanhos diferentes e uma arma – provavelmente um pedaço de madeira com lâminas nele inseridas –  que provocou cortes profundos no rosto de duas das vítimas.

Em duas das três pontas de flechas inseridas nos esqueletos havia obsidiana, ou seja, vidro vulcânico – resultado de erupções, claro. Esse arsenal levou Marta a presumir que a chacina foi uma ação premeditada. Os caçadores-coletores não costumavam ir à caça levando tais armas, úteis e eficazes tanto para uso próximo como à distância. Entre as vítimas, havia muitas mulheres. Isso exclui a hipótese de um sequestro de concubinas, comum à época.

Os atacantes teriam vindo de longo e agido de forma planejada. O material trazido não existia no local da matança. O objetivo estratégico seria dominar a área dos atacados, onde haveria mais caça e recursos naturais a recolher.

Pulando 10 mil anos, chegamos a uma crueldade ainda maior. Ela envolve o preparo das guerras nuclear e no espaço, ainda não proibidas formalmente. Mas suas consequências deletérias são consideradas ilimitadas, incontroláveis, incalculáveis e imprevisíveis. Sobre o poder destrutivo dos ataques nucleares, por restritos que sejam, basta lembrar o que acorreu em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, nos dias 7 e 9 de agosto de 1945: mais de 240 mil vítimas civis.5

A inaudita violência comoveu poetas. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) escreveu: “A bomba tem 50 megatons de algidez por 85 de ignomínia.. A bomba envenena as crianças antes que comece a nascer/A bomba continua a envenená-las no curso da vida... A bomba é podre.” E Vinícius de Moraes (1913-1980) pediu: “Pensem nas crianças/Mudas telepáticas/Pensem nas meninas/Cegas inexatas/Pensem nas mulheres/Rotas alteradas/Pensem nas feridas/Como rosas cálidas/Mas oh não se esqueçam/Da rosa da rosa/Da rosa de Hiroxima/A rosa hereditária/A rosa radioativa/Estúpida e inválida/A rosa com cirrose/A antirrosa atômica...”6

O mundo tem hoje cerca de 15.850 armas nucleares, 4300 delas à disposição de forças operacionais e 1.800 mantidas em estado de alerta máximo. O arsenal pertence a nove países: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte. A informação é do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo7 (Stockholm International Research Peace Institute – Sipri) e foi divulgada no início de 2015. O número de armas nucleares tem declinado lentamente, é certo, graças aos acordos entre EUA e Rússia. Em compensação, tais armas vem sendo modernizadas cada vez mais, para lhes ampliar a eficiência. Estima-se que são suficientes para aniquilar as 100 maiores regiões metropolitanas do mundo.

Uma guerra no espaço também poderá causar danos e perdas indizíveis à humanidade. É capaz de desativar sistemas satelitais de comunicação, televisão, internet, navegação e localização, previsão meteorológica, gerenciamento de desastres naturais ou provocados, socorro e salvamento de acidentados, monitoramento de recursos naturais, vigilância planetária, pesquisas astronômicas etc. Uma confrontação desse tipo, embora possa começar no espaço, tem chances de deflagar uma guerra total na Terra, como advertiu a revista American Scientific Brasil, no recente artigo “Guerra no espaço pode estar mais perto que nunca”.

Há muitos modos de desativar, cegar ou destruir satélites, além de explodi-los com mísseis. Uma nave espacial pode simplesmente se aproximar de um satélite e lançar tinta em seus dispositivos ópticos, ou quebrar suas antenas de comunicação, ou ainda desestabilizar sua órbita. Raios laser podem desmobilizar temporariamente ou danificar para sempre os componentes de um satélite, em especial seus delicados sensores. Ondas de rádio ou micro-ondas podem bloquear ou sequestrar as transmissões para ou dos controladores em solo. A perspectiva de guerra no espaço não é nova. Já se pensava nisso antes do lançamento do Sputnik-1, da ex-União Soviética, que inaugurou a Era Espacial em 4 de outubro de 1957. Armamentos e mísseis antissatélites começaram a ser projetados no fim dos anos 50.8 Os EUA chegaram até a testar bombas nucleares no espaço antes que o Tratado do Espaço de 1967 proibisse, em seu Artigo 4º, a colocação de armas de destruição em massa em órbitas terrestres.9

O Tratado do Espaço também não legaliza a guerra no espaço. Basta ler seu Artigo 1º: “A exploração e o uso do espaço cósmico, inclusive da Lua e demais corpos celestes, deverão ter em mira o bem e interesse de todos os países, qualquer que seja o estágio de seu desenvolvimento econômico e científico, e são incumbência de toda a humanidade.” E seu Artigo 3º: “As atividades dos Estados Partes deste Tratado, relativas à exploração e ao uso do espaço cósmico, inclusive da Lua e demais corpos celestes, deverão efetuar-se em conformidade com o direito internacional, inclusive a Carta das Nações Unidas, com a finalidade de manter a paz e a segurança internacional e de favorecer a cooperação e a compreensão internacionais.” Já em seu Preâmbulo o Tratado do Espaço lavra o desejo de todos os Estados Partes de “contribuir para o desenvolvimento de ampla cooperação internacional no que concerne aos aspectos científicos e jurídicos da exploração e uso do espaço cósmico para fins pacíficos”.

Nem em passado relativamente recente, nem muito menos na pré-história, havia normas ou preceitos similares. Hoje há. Como, então, justificar a violência no espaço diante de princípios pacíficos e construtivos consagrados pela maioria absoluta dos países do mundo?

* Vice-Presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA), Diretor Honorário do Instituto Internacional de Direito Espacial, Membro Pleno da Academia Internacional de Astronáutica (IAA) e ex-Chefe da Assessoria Internacional do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Agência Espacial Brasileira (AEB). E-mail: jose.monserrat.filho@gmail.com.

Referências

1) A ponte de Mirabeau, de Guillaume Apollinaire, poema escrito em 1912, tradução de Nelson Ascher, Folha de S. Paulo, Ilustríssima, 24 de janeiro de 2016, p. 8.
2) Ver http://www.nature.com/nature/journal/v529/n7586/full/nature16477.html.
3) O Holoceno é um termo geológico para definir o período que se estende de 12 ou 10 mil anos – quando terninaram os efeitos da última glaciação – até a contemporalidade. Ver http://www.ecodebate.com.br/2012/08/08/holoceno-e-antropoceno-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.
4) www1.folha.uol.com.br/ciencia/2016/01/1732253-antropologos-acham-12-esquletos-de-vitimas-de-guerra-pre-historica.shtml.
5) https://umhistoriador.wordpress.com/2012/07/15/hiroshima-e-nagasaki-o-maior-crime-de-guerra-contra-a-humanidade-segue-impune/.
6) http://www.academia.edu/3776200/A_Bomba_de_Carlos_Drummond_de_Andrade; www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/rosa-de-hiroxima.
7) http://www.sipri.org/media/pressreleases/2015/yb-june-2015.
8) www2.uol.com.br/sciam/noticias/guerra_no_espaco_pode_estar_mais_perto_que_nunca .html.
9) Ver na seção de textos do site www.sbda.org.br.
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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Comitê de busca para diretor do INPE

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MCTI institui comitê de busca para diretor do INPE

Sexta-feira, 22 de Janeiro de 2016

Nesta sexta-feira (22/1), foi publicada no Diário Oficial da União a portaria que institui o comitê de busca que irá subsidiar o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Celso Pansera, na escolha do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Confira aqui a portaria n°73/2016 do MCTI.

O comitê será presidido por Marco Antonio Raupp, do Parque Tecnológico de São José dos Campos, e tem ainda como membros: Rogério Cézar Cerqueira Leite, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Luiz Bevilacqua, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Helena Bonciani Nader, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); e Reginaldo dos Santos, da Empresa Binacional Alcântara Cyclone Space (ACS).

O processo de seleção para o cargo de diretor do INPE, cujo mandato é de quatro anos, é realizado por meio de comitê de especialistas que recebe e avalia as inscrições dos interessados. A seleção dará origem a uma lista tríplice a ser encaminhada ao ministro do MCTI, que escolherá o diretor entre os três nomes indicados pelo comitê.

Esse sistema de escolha de dirigentes foi instituído pelo MCTI para os cargos de Direção de suas Unidades de Pesquisa. Os procedimentos para inscrições a próximo diretor do INPE ainda serão divulgados.

O atual diretor do INPE, Leonel Perondi, assumiu em maio de 2012, durante a gestão do ministro Marco Antonio Raupp.

Fonte: INPE
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Reportagem sobre o Programa Espacial Brasileiro

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A edição do último mês de dezembro da revista "Retrato do Brasil" traz uma reportagem especial de capa, de 16 páginas, que aborda em detalhes o atual momento e as perspectivas do Programa Espacial Brasileiro.

Apesar do viés ideológico, o texto, intitulado "Por uma nova missão espacial brasileira" e de autoria de Raimundo Rodrigues Pereira apresenta um ampla visão sobre diferentes segmentos do programa nacional, abordando temas como os lançadores, projetos de satélites e a crônica falta de recursos. Trata-se de uma interessante leitura para o final de semana. Para acessar o texto, clique aqui.
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"À espera do inesperado no espaço", artigo de José Monserrat Filho

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À espera do inesperado no espaço

José Monserrat Filho *

“Para sermos honestos, temos de perguntar a nós mesmos o que estamos deixando de perceber em nossa própria época.” Joshua Cooper Ramo (1968-), em “A Era do Inconcebível”1

Se você disser que o espaço é caixinha de surpresas, como o futebol, estará errando apenas no diminutivo. O espaço é a maior caixa de surpresas que se pode imaginar. São surpresas próprias da natureza e agora também causadas pelos terráqueos. Desde 1957 – há quase 60 anos, portanto – nós, os humanos, liderados por grandes potências, nos lançamos à conquista do espaço, seja próximo ou distante do nosso planeta. Isso tem produzido avanços muito importantes e úteis, mas também um sem-número de repentinas ameaças e sustos. A questão que fica dessa experiência toda é: Como enfrentar o inesperado? Ou melhor, como estar preparado para o inesperado?

A última pergunta foi formulada por Skot Butler, vice-presidente da Intelsat para Redes de Satélites e Serviços Espaciais, perante o 17º Simpósio Anual Global MilSatCom2 (Satélites Globais de Comunicação Militar), reunido em Londres, de 3 a 5 de novembro de 2015. Segundo notícia de 7 de janeiro de 2016 sobre esse evento, “a comunidade de satélites comerciais vem se preparando há anos para o inesperado, em parceria com os militares”3.

A informação cita três exemplos: Frota Skynet, parceria público-privada com sede no Reino Unido; a joint venture SES-Luxembourg para construir e operar satélites comerciais com frequências militares; e a carga útil de UHF da Intelsat para a Força de Defesa da Austrália.

Mas, até onde se sabe e até agora pelo menos, nada ocorreu de inesperado – nenhum ataque, e nem sequer ameaça de ataque. Ocorreu exatamente o que já se previa e pretendia de antemão: o incremento da indústria espacial militar. O que confirma a dúvida de sempre: as notícias sobre planos e ações de impiedosos vilões internacionais são verdadeiras ou apenas campanhas midiáticas sobre perigos e tensões alarmantes para justificar as encomendas milionárias indispensáveis ao faturamento das imensas corporações da indústria de armamentos e equipamentos afins, que garantem seu permanente crescimento?4

Isso sem falar que as vendas de armas e serviços militares pelas 100 principais empresas do setor andam em torno de 400 bilhões de dólares – informou o respeitável Instituto Internacional de Pesquisa da Paz, de Estocolmo, Suécia (Stockholm International Peace Research Institute – SIPRI5), em 14 de dezembro de 2015. É um negócio fabuloso. O único problema é que você tem que estar o tempo todo criando inimigos, incitando focos de tensão e estimulando rivalidades, conflitos e guerras. A paz e a solução pacífica das controvérsias põem todo esse comércio a perder.

Considerações morais e sobre direitos humanos também não ajudam. Natalie J. Goldring, pesquisadora da área de segurança da Universidade Georgetown, em Washington, revelou que os Estados Unidos (EUA) documentam há anos os abusos da Arábia Saudita em direitos humanos, mas que, mesmo assim, continuam fornecendo armas em quantidades ilimitadas ao governo saudita. Entre 2010-2014, os principais provedores de armas à Arábia Saudita foram o Reino Unido, com 36%, e EUA, com 35%, ficando a França num distante 3º lugar, com apenas 6%. Nos últimos anos, a venda de armas ao Oriente Médio atingiu níveis sem precedentes. A Arábia Saudita encabeça a lista de clientes com compras que superam os 49 bilhões de dólares6. Quem se atreverá a falar em direitos humanos diante de tal fortuna? O atrevimento é que seria inesperado.

Princípios democráticos igualmente não funcionam quando “big businesses” estão em jogo, como exemplifica Joseph E. Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia (2001), professor da Universidade de Colúmbia e economista-chefe do Institute Roosevelt, em recente artigo em O Globo, intitulado “Nova Geoeconomia”7. Stiglitz comenta que “os EUA concluíram negociações secretas sobre aquilo que poderá se tornar o pior acordo comercial em décadas, a chamada Parceria Transpacífica (TPP)”. A seu ver, o capítulo sobre “investimentos” do acordo “infringe seriamente as legislações ambiental, de saúde e segurança, e até mesmo regulamentações financeiras, com impactos macroeconômicos”.

Além do mais, nota Stiglitz, “o capítulo concede aos investidores estrangeiros o direito de processar governos em tribunais privados internacionais, quando julgarem que as regras governamentais infringem os termos da TPP (especificados em mais de seis mil páginas). No passado, tais tribunais interpretaram a exigência de que os investidores estrangeiros recebam um 'tratamento justo e equânime' como base para derrubar regulamentações dos governos – inclusive se não forem discriminatórias e tiverem sido adotadas simplesmente para proteger cidadãos de riscos flagrantes”.

Stiglitz salienta ainda que o Presidente dos EUA “disse reiteradas vezes que a TPP determinaria quem – EUA ou China – escreveria as regras comerciais do século XXI”, quando “a abordagem correta é chegar a tais regras coletivamente, com todas as vozes ouvidas, e de forma transparente”. O renomado economista considera que, por esse caminho, a Casa Branca “buscou perpetuar os negócios de sempre”, ou seja, “as regras que governam o comércio e os investimentos globais são escritas por corporações americanas para corporações americanas”. E conclui: “isso deveria ser inaceitável a qualquer pessoa comprometida com os princípios democráticos”.

Não foi precisamente isso o que ocorreu com a nova lei americana8 que estabelece o direito de propriedade privada dos cidadãos americanos e de suas empresas sobre as riquezas minerais por eles extraídas nos asteroides e outros corpos celestes? A nova lei, sancionada pelo Presidente dos EUA em 25 de novembro passado, passa por cima do Tratado do Espaço de 1967, que proclama o espaço como bem comum da humanidade e, por isso, proíbe ali qualquer tipo de apropriação. Quem é capaz de jurar com a mão sobre a Bíblia que as grandes corporações interessadas nesta oportunidade ímpar de negócios – já estimados em trilhões de dólares –, não exerceram nenhum tipo de lobby sobre o Congresso e a própria Casa Branca para a rápida aprovação da lei?

Stiglitz encerra seu artigo, com uma recomendação louvável – aplicável também à lei de privatização dos recursos espaciais em benefício das empresas americanas: “Em 2016, devemos torcer para o fracasso da TPP e o começo de uma nova era dos acordos comerciais, que não beneficie os poderosos e puna os fracos. O acordo de Paris sobre mudanças do clima pode ser um prenúncio do espírito e da mentalidade necessários para sustentar uma cooperação global genuína.”

De minha parte, fecho com as palavras de Kofi Annan, ex-secretário geral das Nações Unidas, lavradas no artigo “Em defesa da liderança do cidadão”, publicado em O Globo deste 20 de janeiro9: “Interesses próprios mesquinhos e de curto prazo obscurecem a compreensão do quão interdependentes são os nossos destinos num mundo verdadeiramente global.”

Mas, sinceramente, o que há de inesperado nisso tudo?

* Vice-Presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA), Diretor Honorário do Instituto Internacional de Direito Espacial (IISL), Membro Pleno da Academia Internacional de Astronáutica (AIA) e ex-Chefe da Assessoria Internacional do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MTCI) e da Agência Espacial Brasileira (AEB). E-mail: .

Referências

1) Ramo, Joshua Cooper, A Era do Inconcebível – Por que a atual desordem do mundo não deixa de nos surpreender e o que podemos fazer, São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 134.
2) Ver http://www.defenseconference.com/?p=606.
3) Ver www.spacedaily.com/reports/Preparing_for_the_Unexpected_in_Space_999.html.
4) Não incluo nestas dúvidas o combate justo e necessário ao famigerado “Estado Islâmico”, que deveria ser conduzido por uma grande aliança internacional, com as Nações Unidas à frente.
5) Ver http://www.sipri.org/research/armaments/milex
6) Ver http://www.uypress.net/uc_65889_1.html e http://www.african-defense.com/ defense-news/west-accused-of-protecting-arms-market-north-african-countries-named/.
7) Ver http://oglobo.globo.com/opiniao/a-nova-geoeconomia-18441102#ixzz3wt1D0x11.
8) Ver https://www.congress.gov/bill/114th-congress/house-bill/2262/text.
9) Ver http://oglobo.globo.com/opiniao/em-defesa-da-lideranca-do-cidadao-18508223.
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terça-feira, 19 de janeiro de 2016

INPE: Entrevista com Amauri Montes, coordenador da Engenharia e Tecnologia Espacial

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A mais recente edição do "INPE Informa", boletim editado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) dá sequência a sua série de entrevistas, desta vez com Amauri Montes, coordenador da Engenharia e Tecnologia Espacial (ETE), que este ano completa trinta anos de existência. O ETE responde pelo desenvolvimento dos satélites do Instituto, como os da família SCD na década de noventa, e os de observação terrestre da família CBERS e Amazônia.

Além de uma interessante abordagem histórica, temas como política industrial, programa CBERS, Amazônia-1, cooperação internacional, ACDH, PESE, licitações, Plano Diretor, apenas para citar alguns, são abordados. Para ler a entrevista, clique aqui.
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Tecnologia & Defesa n.º 143

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Já está nas bancas de todo o Brasil o número 143 da revista Tecnologia & Defesa, a mais tradicional publicação sobre os setores aeroespacial e de defesa na América Latina.

De conteúdo espacial, destaque para uma reportagem sobre a estreia da Visiona Tecnologia Espacial no setor de observação terrestre, com várias informações e detalhes sobre os serviços que serão oferecidos pela empresa.

A seguir, listamos os principais conteúdos deste número, que também está disponível para vendas no website da revista:

- A corveta "Barroso" em missão no Líbano
- Entrevista com o Comandante da Marinha do Brasil
- Corpo de Fuzileiros Navais
- Construção de corvetas: um salto tecnológico
- Futuro dos aviões da Airbus Defence and Space na América Latina
- O porta-aviões "George Washington" visita o Brasil
- Exclusivo: voando o P-8A Poseidon
- Ensaio fotográfico: UNITAS 2015
- E muito mais!
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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Estudos sobre o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados

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Pesquisadora propõe microssatélites para atualizar o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados

Quinta-feira, 14 de Janeiro de 2016

No livro “O Segmento Espacial orientado pela Engenharia de Sistemas”, a pesquisadora Jaqueline Vaz Maiolino, mestre em Engenharia e Tecnologia Espaciais (ETE) pelo INPE, e diretora de Engenharia da Orbital Engenharia, propõe o uso de pelo menos dois microssatélites para atualizar o segmento espacial do Sistema Brasileiro de Coleta de Dados (SBCD). A obra, publicada no início do ano passado, é baseada na dissertação de mestrado da autora, defendida em 2011, no Curso da ETE, sob a orientação do professor Marcelo Lopes de Oliveira e Souza, da ETE, e co-orientação do ex-gerente do SBCD, Wilson Yamaguti.

Dois anos após a defesa de sua dissertação, a Agência Espacial Brasileira (AEB) lançou edital de licitação (Concorrência 01/2013) para a contratação de estudo comparativo de soluções para o Sistema de Coleta de Dados Hidrometeorológicos (SCD-Hidro). Atualmente, o SBCD conta com os satélites SCD-1, SCD-2 e CBERS 4A. Os dois primeiros, embora em funcionamento, podem ficar inoperantes a qualquer momento, pois já ultrapassaram o tempo de vida útil inicialmente previsto em vários anos.

SCD-2 no Laboratório de Integração e Testes (LIT) do INPE.

Além da obsolescência desses satélites, a autora argumenta que a necessidade crescente de maior quantidade e frequência de dados ambientais e hidrometeorológicos para monitoramentos e pesquisas vem demandando, nos últimos anos, estudos sobre a atualização do segmento espacial do SBCD. A pesquisadora lembra ainda que soluções com nanossatélites também vêm sendo apresentadas, tendo em vista o baixo custo destes sistemas e o grande envolvimento de universidades no desenvolvimento dos projetos, em parceria com o INPE, ITA e a AEB.

O Sistema Brasileiro de Coleta de Dados (SBCD) foi idealizado nos anos 1970, com a criação da Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), e entrou em operação no início de 1993, com o lançamento do primeiro Satélite de Coleta de Dados (SCD-1). Na sequência, foram lançados o SCD-2 (1998) e os satélites da série CBERS que passaram a integrar o segmento espacial do SBCD, mas com missão dedicada prioritariamente à geração de imagens por sensoriamento remoto. O segmento solo do SBCD é composto por mais de 1000 plataformas de coleta de dados (PCDs) distribuídas pelo território nacional, pelas estações de recepção de Alcântara (MA) e Cuiabá (MT), pelo Centro de Missão de Coleta de Dados, em Natal (RN), e pelo Centro de Controle de Satélites (CCS), em São José dos Campos (SP).

Segundo Maiolino, os dados ambientais e hidrometeorológicos são fornecidos a cerca de 100 usuários, entre estes a Agência Nacional de Águas (ANA) e Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). A necessidade cada vez maior de dados e com maior frequência, para monitoramentos ambientais e hidrometeorológicos, vem demandando melhorias e ampliação da capacidade de geração e retransmissão de dados. Atualmente, os dados chegam a ser retransmitidos a cada 100 minutos durante o dia. Para suprir a necessidade de dados com maior frequência e de forma complementar àqueles fornecidos pelas PCDs do SBCD, muitos usuários buscam outros sistemas, como o dos satélites GOES/NOAA, transmissões via celular, entre outros, nem sempre adequados às necessidades do usuário.

Com base nos estudos realizados anteriormente pelo INPE, na realidade da configuração do atual sistema SBCD e em estudos de simulação computacional, Maiolino avaliou os atuais sistemas espaciais frente às demandas dos atuais usuários e também daqueles em potencial, como o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN), Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (CENAD) e Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). A avaliação considerou o custo dos sistemas, mas também a necessidade de dados com intervalos de no máximo 1 hora. Apesar de sugerir dois microssatélites para recompor o SBCD, Jaqueline destaca o uso de nanossatélites, como o CONASAT, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com apoio do INPE, cuja solução traz uma série de vantagens e vem se apresentando como alternativa promissora.

Jaqueline Maiolino é formada em engenharia aeronáutica pela Univap, desenvolveu sua pesquisa na área de Engenharia e Tecnologia Espaciais (ETE) do INPE, opção Engenharia e Gerenciamento de Sistemas Espaciais (CSE). Sua dissertação “Uma proposta para a atualização do segmento espacial do sistema brasileiro de coleta de dados orientada pela engenharia de sistemas”, pode ser acessada através do link: http://mtc-m16d.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtc-m19/2011/03.22.13.25/doc/publicacao.pdf.

Fonte: INPE
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Apresentação de edital de subvenção para o setor espacial

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INPE, FAPESP e FINEP apresentam edital de subvenção dirigido a aplicações espaciais

Quarta-feira, 13 de Janeiro de 2016

Detalhes e esclarecimentos sobre o edital Desenvolvimento de Tecnologias e Produtos para Aplicações Espaciais, do Programa PIPE/PAPPE serão apresentados no dia 3 de fevereiro, em reunião a ser organizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), FAPESP e FINEP. O evento é gratuito e será realizado no auditório Fernando de Mendonça, no Laboratório de Integração e Testes (LIT) do INPE, em São José dos Campos.

O INPE busca contribuir para que o Brasil obtenha autonomia em todo o processo que envolve o desenvolvimento, a integração, o lançamento e o controle de satélites.

Os recursos alocados para financiamento do edital são da ordem de R$ 25 milhões, sendo 50% com recursos da Finep e 50% com recursos da FAPESP.

Podem participar microempresas, empresas de pequeno porte, pequenas empresas e médias empresas brasileiras, sediadas no Estado de São Paulo, constituídas, no mínimo, 12 meses antes ao lançamento do edital.

As empresas deverão demonstrar contrapartida economicamente mensurável em itens de despesa relacionados com a execução de atividades de pesquisa e desenvolvimento, os quais devem ser descritos no projeto.

As propostas submetidas serão enquadradas e deverão seguir as normas do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).

Os desafios tecnológicos propostos no edital estão divididos em sete grandes grupos:

1) Instrumentos embarcados da missão EQUARS;

2) Eletrônica e óptica espacial;

3) Propulsão;

4) Transponder digital e antena;

5) Suprimento de energia;

6) Integração de sistemas;

7) Controle de atitude e órbita.

O prazo de execução do projeto deverá ser de até 24 meses. O prazo para entrega da proposta termina em 4 de abril de 2016.

A seleção pública está disponível em: www.fapesp.br/9961

Inscrições

Para participar da reunião de apresentação do edital “Desenvolvimento de Tecnologias e Produtos para Aplicações Espaciais”, do Programa PIPE/PAPPE - Seleção Pública de Subvenção Econômica à Pesquisa para Inovação, é necessário enviar email para pappe.subvencao@inpe.br com nome, empresa/instituição, e telefone de contato, até o dia 1° de fevereiro.

Fonte: INPE
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Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação

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“A lei leva o Brasil a inovação” avalia presidente da AEB

Brasília, 12 de janeiro de 2016 – O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Coelho, participou nesta segunda-feira (11) da cerimônia de assinatura do Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF). Com a sanção da presidenta Dilma Rousseff o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 77/2015, promoverá importantes ações para o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento científico e tecnológico.

“Em áreas de tecnologias críticas, como o caso da espacial em países como o nosso são iniciadas em pequenas empresas, com apoio governamental e regulamentadas. Nasce em geral de fusão de grupos de pesquisas em universidades, o Marco Legal é um passo bem largo de aproximação da atividade de pesquisa e desenvolvimento da atividade produtiva da indústria e empresas” explica o presidente da AEB.

Ontem, a presidenta Dilma Rousseff, declarou que o Marco Legal proporciona ao desenvolvimento cientifico brasileiro mudanças há muito tempo esperadas. “Destaco ainda a adoção da política de compras do Estado em favor do desenvolvimento produtivo e da inovação no Brasil, cujo exemplo é o avanço das indústrias aeroespacial, de defesa nacional e de fármacos”.

Integraram a cerimônia Jacob Palis, presidente da Academia de Ciências, o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq), Hernan Chaimovich; a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader e o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Celso Pansera.

Pancera, destacou a “colaboração” entre governo e Congresso Nacional na busca de soluções para os desafios do País. “Estamos certos de que o apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico que ocorre em nossas universidades e institutos de pesquisa, a inovação que ocorre em institutos tecnológicos e empresas de base tecnológica é fundamental para sustentar o novo sopro de crescimento do setor produtivo e do desenvolvimento social”, disse o ministro.

Em entrevista após a cerimônia Helena Nader explicou que “Esse novo marco põe o Brasil realmente na rota da inovação, ele vai tirar a judicialização que estava acontecendo especialmente na universidade e nos institutos de pesquisa. Com essa facilidade dá ao pesquisador a possibilidade de dar sua contribuição de forma transparente” conclui a presidente.

Fonte: AEB
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domingo, 10 de janeiro de 2016

"A “corrida do ouro” do século 21 é no espaço", artigo de José Monserrat Filho

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A “corrida do ouro” do século 21 é no espaço

José Monserrat Filho *

“Privatiza-se o público, mas não se publiciza o privado.” Giberto Dupas1

O presidente dos Estados Unidos (EUA) promulgou, em 25 de novembro de 2015, a lei HR 2262 sobre o direito privado de minerar asteroides, a Lua e outros corpos celestes.

A Folha de S. Paulo divulgou o fato em 6 de janeiro de 2016 – 40 dias depois. É difícil entender como um evento de tamanha relevância internacional tenha levado tanto tempo para merecer uma informação, ainda que incompleta. E ainda por cima sem dar detalhes da lei.

A Seção 402 do Título IV da nova lei tenciona facilitar “a exploração comercial e a recuperação comercial dos recursos espaciais por cidadãos dos Estados Unidos", e promover "o direito dos cidadãos dos Estados Unidos de se envolver em explorações comerciais tendo em vista a recuperação comercial de recursos do espaço livres de interferências prejudiciais, em conformidade com as obrigações internacionais dos Estados Unidos e sujeitas a autorização e supervisão contínua por parte do Governo Federal ".

Segundo o parágrafo 51303 da lei, os cidadãos dos EUA engajados na recuperação comercial de um recurso de asteroide ou de um recurso do espaço, sob este capítulo "terá direito a qualquer recurso de asteroide ou do espaço [assim] obtido, inclusive de possuir, apropriar-se, transportar, usar e vender os recursos de asteroides ou os recursos do espaço obtidos em conformidade com a legislação aplicável, incluindo as obrigações internacionais dos Estados Unidos ".

A nova lei americana peca antes de mais nada por legislar nacionalmente sobre um fato que pertence à jurisdição internacional. Desde o início da Era Espacial – inaugurada pelo Sputnik-1 em outubro de 1957 –, o espaço exterior é considerado bem comum da humanidade.

Por isso, só pode ser regulamentado pela comunidade de países, em especial através das Nações Unidas, onde foram discutidos, elaborados e aprovados os principais tratados (depois ratificados pelos Estados) e resoluções sobre as atividades espaciais, liderados pelo Tratado do Espaço, de 1867, o código maior do espaço.

Criar uma lei nacional para ordenar a atividade de mineração nos corpos celestes é um ato ilícito à luz da letra e do espírito do Direito Espacial Internacional. Basta ler os dois primeiros artigos do Tratado do Espaço. O Artigo I, § 1, determina que “a exploração e o uso do espaço cósmico, inclusive da Lua e demais corpos celestes, deverão ter em mira o bem e interesse de todos os países, qualquer que seja o estágio de seu desenvolvimento econômico e científico, e são incumbência de toda a humanidade”. E o Artigo II reza que “o espaço cósmico, inclusive a Lua e demais corpos celestes, não poderá ser objeto de apropriação nacional por proclamação de soberania, por uso ou ocupação, nem por qualquer outro meio”.

A nova lei dos EUA, é verdade, não permite formalmente o estabelecimento de apropriação nacional sobre os corpos celestes. Ocorre que o direito de propriedade privada sobre os recursos espaciais está baseado num artifício no mínimo duvidoso: os astronautas americanos e sondas da União Soviética e do Japão recolheram amostras de rochas lunares e trouxeram-nas para a Terra apenas para fins de pesquisa científica; isso bastou para que alguns advogados americanos mais sagazes concluíssem, recentemente, pela existência prévia do direito de propriedade privada sobre recursos da Lua e de outros corpos celestes, inclusive, e em e especial, dos asteroides.

A debilidade da alegação fica evidente ante a igualdade que se busca estabelecer entre a coleta eventual de uma porção de amostras para fins científicos e a extração industrial sistemática de riquezas minerais para fins comerciais, com imprevisível impacto no mercado mundial do setor. É claro também que para desenvolver uma indústria extrativa num corpo celestes é preciso, queira-se ou não, instalar um complexo produtivo na área a ser minerada e fazê-lo funcionar durante o tempo necessário para esgotar as jazidas encontradas. Esse complexo será, com certeza, um estorvo ao cumprimento do § 2 do Artigo I do Tratado do Espaço, segundo o qual “o espaço cósmico, inclusive a Lua e demais corpos celestes, poderá ser explorado e utilizado livremente por todos os Estados sem qualquer discriminação, em condições de igualdade e em conformidade com o direito internacional, devendo haver liberdade de acesso a todas as regiões dos corpos celestes”.

O “acesso a todas as regiões dos corpos celestes” exige, necessariamente, que não se levante nenhum obstáculo para isso, muito menos uma instalação extrativa operada por um país ou empresa. A questão se complica mais ainda se o asteroide for carregado para dentro da nave espacial de um país ou empresa, a fim de ser melhor e mais completamente minerado. Seria o sequestro de um bem público.

A nova lei menciona “a recuperação comercial de recursos de asteroides e do espaço” (commercial recovery of an asteroid resource or a space resource). Por que usar o termo “recuperação comercial”, se a explotação comercial dos referidos recursos estará sendo realizada pela primeira vez? Como recuperar o que nunca antes foi achado ou perdido? Não haverá nenhuma forma de recuperação no caso. Haverá, sim, coleta, mineração ou extração de minerais. Por que substituir as palavras realmente adequadas para a questão?

Diz a notícia da Folha de S. Paulo que o presidente Obama “assinou a chamada 'Lei do Espaço' para promover a exploração privada do espaço, algo que já começou a ser realizado por empresas como a Space X e a Orbital ATK, com missões na Estação Espacial Internacional e planos além da órbita terrestre”. É um grande equívoco.

A contratação de empresas privadas para efetuar tais missões na estação internacional e também lançar satélites é ação legal, regulada por leis nacionais dos EUA, e nada tem a ver com o estabelecimento unilateral do direito de propriedade privada para empresas americanas sobre recursos de asteroides e do espaço, que só podem ser usados para bem e no interesse de todos os países, como “province of all mankind” (incumbência de toda a humanidade), ou seja, bens públicos, conforme o Tratado do Espaço. Os EUA tem todo o direito de estimular os planos e demandas de suas empresas privadas. O que não pode é fazer isso fora de sua jurisdição nacional.

A verdade é que ainda não existe um regime internacional discutido e aprovado no âmbito das Nações Unidas (Comitê para o Uso Pacífico do Espaço Exterior – COPUOS, em inglês), como tem ocorrido desde os primórdios das atividades espaciais. Tal regime poderá perfeitamente incluir a ativa participação de empresas privadas de qualquer país, como propõe o Acordo da Lua em seu famoso Artigo 11, ou como foi adotado pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982, e o acordo de 1995, que, como destaca Vicente Marotta Rangel, resultou da “conciliação de interesses discrepantes entre Estados industrializados, aptos a se beneficiar unilateralmente” dos recursos dos fundos (solo e subsolo) dos oceanos, tendo em vista conhecimentos tecnológicos adquiridos e a utilização de capital disponível, e os Estados em desenvolvimento, que pleiteavam “participação e controle dos recursos e dos benefícios deles resultantes”, além dos “Estados que seriam prejudicados pela exploração [explotação] de recursos minerais de que efetiva ou potencialmente dispõem”.3

Isso mostra que a conciliação de interesses é possível, necessária e urgente, como exigência política e legal para enfrentar com êxito os agudos conflitos que hoje assolam o planeta.

Sobre a “corrida do ouro”, sobretudo na Califórnia no século 19, o historiador americano  H. W. Brands (1953-) observa que ela difundiu-se pelo resto do país, e incorporou-se ao novo “sonho americano”. E explica: “O velho 'sonho americano'....era o sonho dos puritanos, do almanaque de Benjamin Franklin... de homens e mulheres satisfeitos com acumular una modesta riqueza pouco a pouco, ano após ano após ano. O novo 'sonho' é um sonho de riqueza instantânea, ganha num abrir e fechar de olhos, graças à audácia e à boa sorte. [Este] sonho dourado... converteu-se numa parte proeminente da psique americana...”4

Só que não é um sonho. É um pesadelo. Piora a situação global. Aumenta a concentração de renda, a desigualdade entre países e pessoas, e a tensão no mundo. Os EUA precisam acordar deste tsuname de egoismo.

* Vice-Presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA), Diretor Honorário do Instituto Internacional de Direito Espacial, Membro Pleno da Academia Internacional de Astronáutica (IAA) e ex-Chefe da Assessoria Internacional do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Agência Espacial Brasileira (AEB). E-mail: .

Referências

1) Dupas, Gilberto (1943-2009), Tensões contemporâneas entre o público e o privado, São Paulo: Paz e Terra, 2003, p. 19.
2) Ver https://www.congress.gov/bill/114th-congress/house-bill/2262/text
3) Reflexões sobre a Convenção do Direito do Mar, André Panno Beirão, Antônio Celso Alves Pereira (organizadores). – Brasília : FUNAG, 2014. O artigo de Vicente Marotta Rangel intitula-se “Fundos oceânicos”. De 1994 a 2015, Rangel foi Juiz do Tribunal Internacional do Direito do Mar, sediado em Hamburgo, Alemanha, entre 1994 e 2015.
4) Brands, H. W., The Age of Gold: The California Gold Rush and the New American Dream, Anchor, 2003.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

"Conflitos no Espaço e Estado de Direito", artigo de José Monserrat Filho

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Conflitos no Espaço e Estado de Direito

José Monserrat Filho *

“Sejam quais forem as novas conquistas do direito internacional, espero que ajudem minha geração a proporcionar a meus filhos um mundo mais pacífico e próspero.” Andrew T. Guzman1

Sobre este tema sempre atual, o Instituto de Direito Aeronáutica e Espacial, o Centro de Pesquisa em Direito Aeronáutico e Espacial e a Faculdade de Direito da Universidade McGill, em Montreal, Canadá, promovem, em 27 e 28 de maio próximo, a 4ª Conferência Internacional Manfred Lachs. Há muito a discutir e esclarecer a respeito, se quisermos conquistar um sistema sólido de paz, segurança e cooperação no espaço – que o mundo inteiro hoje tanto necessita.

O espaço tem sido lugar de conflitos desde os primeiros foguetes V1 e V2,  construídos na Alemanha nazista por mão de obra escrava, quase no fim da II Guerra Mundial (1939-1945). Nenhum deles foi ao espaço, como queria seu criador, o engenheiro e Major SS do exército de Hitler Wernher von Braun. O V-2 acabou usado para bombardear a Antuérpia, a Bélgica e o Reino Unido, sobretudo Londres, a partir de setembro de 1944, com milhares de vítimas e centenas de prédios destruídos. Braun nunca foi julgado por seus crimes de guerra. Vencido o nazismo, ganhou bom emprego nos Estados Unidos (EUA). Foi até Diretor de Mísseis Balísticos do Exército.

Também o Sputnik-1 não foi fruto de cooperação científica pacífica. Primeiro satélite artificial da Terra, lançado em 3 de outubro de 1957 pela ex-União Soviética (URSS) como parte do Ano Geofísico Internacional (1957-58), resultou na realidade num grande avanço da Guerra Fria deflagrada em 1947 entre EUA e URSS.

Qual deles construiria primeiro um míssil balístico intercontinental? A Guerra Fria preparava outra Guerra Quente, para exterminar com o rival. Dez anos depois, em 1957, a URSS logrou lançar o primeiro míssil balístico intercontinental. Antes dos EUA. Era o R-7, logo apelidado de “Semiorka” (o grande sete).

Foi o R-7, usado como veículo lançador de satélite, que colocou em órbita o Sputnik-1, em 4 de outubro de 1957. Simples e inofensiva esfera de alumínio com cerca de 50 cm de diâmetro e 83,6 kg de peso, ele era equipado com apenas quatro antenas e dois transmissores de rádio (20,007 e 40,002 MHz), que emitiam o som de “bip-bip-bip”, sintonizado por qualquer rádio amador. Orbitava a Terra a cada 96,2 minutos, a uma distância entre 938 km e 214 km. A análise de seus sinais de rádio continha dados sobre a concentração de elétrons na ionosfera que indicavam pela temperatura e a pressão se ele tinha sido perfurado por um meteorito.

Essa não era, porém, sua única missão. Também não servia apenas para revelar que voava num espaço inteiramente novo para os humanos. Muito acima do espaço aéreo. Lá orbitou até 4 de janeiro de 1958, quando se incinerou ao reentrar na atmosfera. O “bip-bip-bip” calou-se em menos de um mês. A bateria dos transmissores acabara. Ainda assim, o Sputnik-1 teve a suprema honra de inaugurar a Era Espacial e tornar-se uma referência histórica para todo o sempre.

Aos bons entendedores nos EUA, o modestíssimo satélite artificial pioneiro anunciava o surgimento de um míssil intercontinental capaz de atingir o outro lado do mundo, ou seja, o território americano, que deixava de ser invulnerável. Suas ogivas nucleares já não eram as únicas e ainda tinham de ser transportadas em aviões, como em Hiroshima e Nagazaki, em agosto de 1945. Pesando quatro toneladas, o míssil “Semiorka” fora criado para lançar ogivas nucleares.

A construção do primeiro satélite espião, de codinome Corona, foi decidida em 1955, nos EUA, dois anos antes do lançamento do Sputnik-1. O programa entrou em ação em 1959 e, com versões aperfeiçoadas, funcionou até 1972. O programa do primeiro satélite espião soviético, o Zênit, lançado em 1961, prolongou-se até os anos 90.2 Os satélites de reconhecimento (espionagem espacial) foram legalizados como “meios técnicos nacionais de verificação” do cumprimento de acordos sobre controle de armamento e desarmamento firmados entre EUA e URSS, inclusive o Tratado ABM, de 25 de maio de 1972, que limita os sistemas antimísseis – posteriormente denunciado pelo Presidente dos EUA, George W. Bush, em 13 de dezembro de 2001.³

As negociações de paz e certa cooperação só vieram depois do Sputnik-1, para amenizar o sinistro espectro de conflitos espaciais que poderia causar danos e perdas mundiais inestimáveis.

A criação do Direito Espacial nos anos 60 e 70 foi um progresso notável. Pelo “novíssimo direito”, na expressão de Haroldo Valladão4, os conflitos seriam resolvidos pelo caminho da paz, do entendimento, do acordo, do direito. Em apenas 12 anos, de 1967 a 1979, aprovaram-se os cinco tratados espaciais básicos destinados a todos os países do mundo5. São tratados comprometidos com a solução pacífica das controvérsias – como reza a Carta das Nações Unidas –, a começar pelo Tratado do Espaço, o código maior do espaço e das atividades espaciais, ratificado por 103 países.

A criação dos fundamentos do Direito Espacial em velocidade cósmica, como se disse à época, não logrou, porém, construir um regime  de segurança duradoura e cooperação profunda nas atividades espaciais. No fim dos anos 70, EUA e URSS começaram a criar armas antissatélites6, até agora não usadas em conflitos, mas que continuam a ser desenvolvidas ainda hoje, prontas para entrar em cena. Em 1983, os EUA lançaram a Iniciativa Estratégica de Defesa (SDI), conhecida como “Programa Guerra nas Estrelas”7, que prevê a instalação de armas no espaço e existe ainda hoje, embora em menor escala.

Após longo período de Guerra Fria, aparentemente concluída no fim dos anos 80, assistimos agora ao que muitos chamam de “nova Guerra Fria”8, com EUA, China e Rússia armando-se incessantemente para um conflito do qual ninguém sabe se sairá vencedor e que poderá causar males indizíveis à humanidade. Enquanto isso, a opinião pública mundial tem dois projetos para debate sobre o tema: a proposta do Tratado Sobre a Prevenção Contra a Instalação de Armas no Espaço, e a Ameaça ou Uso de Força Contra Objetos no Espaço9, apresentado por Rússia e China, em 2008, à Conferência sobre o Desarmamento, em Genebra, bem como o Código Internacional para Atividades Espaciais10, proposto pela União Europeia e destinado a prevenir a crescente militarização do espaço, mas que admite o direito de autodefesa, capaz de justificar conflitos bélicos no espaço, como tem ocorrido na Terra.

Apesar da intensa militarização do espaço, muitos têm sido os benefícios científicos, tecnológicos e práticos trazidos à humanidade por sua exploração e uso pacífico desde o início da Era Espacial. Produtos e serviços produzidos por satélites tornaram-se indispensáveis em áreas essenciais, como as de comunicações, agricultura, transportes, sistemas de saúde, previsão do tempo, enfrentamento de desastres naturais, monitoramento das mudanças climáticas, funcionamento dos bancos e instituições financeiras, segurança nacional e global, controle internacional de armamentos, entre outras.

A Era Espacial é contraditória. Utilidades pacíficas imprescindíveis convivem com seríssimos riscos, ameaças, perigos, desastres e desacordos em distintos campos. O explosivo desenvolvimento do uso militar do espaço impulsiona sempre mais a capacidade destrutiva de grandes potências. Mas ainda há outros conflitos e litígios direta ou indiretamente vinculados a este último, sem dúvida o pior de todos.

São seis, por ora, os subtemas do debate sobre Conflitos no Espaço e Estado de Direito: Desenvolvimentos Tecnológicos e Novas Ameaças; Questões Espaciais Estratégicas Emergentes – Áreas de Conflitos Potenciais; Conflitos em Torno da Explotação dos Recursos Naturais do Espaço (como, por exemplo, a nova lei sancionada pelo Presidente Obama, em 25 de novembro passado, que estabelece o direito de propriedade privada para as empresas dos EUA sobre os recursos naturais que elas extraírem de asteroides, de outros corpos celestes e do espaço em geral); Diferentes Formas de Uso da Força no Espaço; Conflitos no Espaço e Direito Internacional Humanitário; e O Caminho a Seguir.11 Novas questões poderão ser sugeridas para enriquecer o encontro. A ideia é promover uma discussão efetivamente contemporânea, esclarecedora e construtiva.

* Vice-Presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA), Diretor Honorário do Instituto Internacional de Direito Espacial, Membro Pleno da Academia Internacional de Astronáutica (IAA) e ex-Chefe da Assessoria Internacional do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Agência Espacial Brasileira (AEB). E-mail: jose.monserrat.filho@gmail.com.

Referências

1) Guzman, Andrew T., How international law works: a rational choise theory, United States, New York: Oxford University Press, 2008, p. XI.
2) Riechelson, Jeffrey T., A Century of Spies – Intelligence in the Twentieth Century, United States, New York: Oxford University Press, 1995. pp. 295-301.
3) Legislação Internacional, organzação Ricardo Seitenfus, São Paulo: Manole, 2ª ed., 2009.
4) Valladão, Haroldo (1901-1987), Direito Interplanetário e Direito Inter Gentes Planetárias, in Paz, Direito, Técnica, Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1959, pp. 399-431.
5) Tratado sobre Princípios Reguladores das Atividades dos Estados na Exploração e Uso do Espaço Cósmico, Inclusive a Lua e Demais Corpos Celestes (Tratado do Espaço), de 1967; Acordo sobre Salvamento de Astronautas e Restituição de Astronautas e de Objetos Lançados ao Espaço Cósmico, de 1968; Convenção sobre Responsabilidade Internacional por Danos Causados por Objetos Espaciais (Convenção de Responsabilidade por Danos), de 1972; Convenção Relativa ao Registro de Objetos Lançados no Espaço Cósmico (Convenção de Registro), de 1976; Acordo que Regula as Atividades dos Estados na Lua e em Outros Corpos Celestes (Acordo da Lua), de 1979.
6) Ver www.globalsecurity.org/space/systems/asat-overview.htm, www.space4peace. org/asat/asat.htm, www.ucsusa.org/nuclear-weapons/space-security/a-history-of-anti-satellite-programs#.Vo59u2HC1z.
7) Buzan, Barry, e Hansen, Lene, Tradução de Flávio Lira, A evolução dos estudos de segurança internacional, São Paulo: Ed. Unesp, 2012; The Star War Controversy – An International Security Reader, Edited by Steven E. Miller and Stepahn Van Evera, United States, New Jersey, Princeton University Press, 1986. Ver www.atomicarchive.com/History/coldwar/page20.shtml.
8) Ver https://dinamicaglobal.wordpress.com/2015/06/26/a-estrategia-de-confrontacao-dos-eua-e-a-nova-.
9) Ver https//www.reachingcriticalwill.org/images/documents/Disarmament-fora/cd/2008/ documents/Draft PPWT.p. 
10) Ver https://eu-un.europa.eu/documents/en/draft_Space_Code_of_Conduct.pdf.
11) Ver www.mcgill.ca/law/channels/news/call-papers-conflicts-space-and-rule-law-257235.
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quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

SGDC avança

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Ministro das Comunicações conhece obras de infraestrutura de solo para operar satélite

Antena principal de comando do SGDC ficará em Brasília

07/01/2016 17:32h

O Ministro das Comunicações, André Figueiredo, conheceu nesta quinta-feira (07/01) as obras de infraestrutura de solo para operação do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC). O Centro de Operações Principal, que ficará em Brasília dentro da área do Sexto Comando Aéreo Regional, conta com a antena de comando e controle, estações de trabalho de radiofreqüência e de monitoramento do satélite. Até a conclusão das obras do prédio principal, os equipamentos serão instalados em contêineres de telecomunicações e dentro do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA).

“Daqui eu saio bem impressionado com a dedicação da equipe, tanto da Aeronáutica como da Telebrás. Nossa expectativa é que possamos fazer avançar e acelerar esse projeto, lançando o satélite no último trimestre deste ano e entrando em operação no início de 2017, mas já com a construção das instalações em andamento para que a gente possa concluir, quem sabe, em 2017 o projeto como um todo”, afirmou.

Nesta semana os técnicos da Thales Alenia, construtora do satélite, estão montando a antena de comando e controle na capital federal. A estrutura suporta as 42 toneladas do equipamento. O diâmetro da antena é de 13 metros e será responsável por controlar o equipamento assim que entrar em órbita. A segunda antena de comando será montada no Rio de Janeiro assim que terminar o trabalho em Brasília. Todas as obras de solo do SGDC estão sendo erguidas em áreas militares.

Paralelo a isso, o SGDC entra neste mês em fase de testes na cidade de Cannes, na França. Em dezembro passado, os módulos de comunicação e serviço foram integrados. Cerca de 30 brasileiros, militares e civis, acompanham o processo que envolve transferência de tecnologia. A partir de março, os profissionais que vão operar o satélite executarão os treinamentos finais nesta estrutura.

O ministro também destacou a importância do satélite que atenderá as demandas de comunicação do Ministério da Defesa e ao Plano Nacional de Banda Larga. “Temos o lançamento do SGDC como um dos mais importantes momentos não apenas nas áreas das comunicações, mas também da defesa. A previsão é que a partir da montagem da antena e dos equipamentos, que vão dar suporte ao nosso satélite, e do lançamento do edital do novo edifício, nós possamos conversar com as áreas do governo federal, especialmente da equipe econômica, para mostrar a importância de acelerarmos a construção desse prédio e fazermos o projeto ser concluído da forma como estava previsto”, ressaltou.

O centro de operações principal terá cerca de 60 mil metros quadrados de área construída e vai atender aos requisitos de segurança nível quatro, o que inclui redundância de fornecimento de energia elétrica, sistemas de segurança e refrigeração, entre outros requisitos. As medidas visam eliminar as chances de haver qualquer perda de contato entre comando em solo e satélite em órbita.

Auditado pelo TCU - De acordo com a Telebrás, esse é o primeiro projeto do governo brasileiro auditado pelo Tribunal de Contas da União antes de ser executado. Todas as obras foram projetados em 3 D pelo sistema Bim Revit. O software do projeto permite modelagem de informação de construção. As imagens apresentadas são exatamente como o projeto deve ficar.  Agência Força Aérea/Cabo V. Santos

Futuro – Ao mesmo tempo em que se aproxima o momento de lançamento do SGDC, as atenções se voltam para as necessidades brasileiras de outros satélites. De acordo com o Presidente da Comissão de Coordenação e Implantação de Sistemas Espaciais (CISCEA), Major-Brigadeiro do Ar Carlos Minelli de Sá, pensando na renovação futura da infraestrutura que suporta o controle do tráfego aéreo a prioridade é um satélite que atenda a banda C. “É porque realmente precisa. Se nós queremos autonomia na parte de comunicações de tráfego aéreo, precisamos de mais satélites, mais com banda Ka, X e C”, detalha.

Fonte: FAB
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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Comunicações por satélite para controle do tráfego aéreo

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FAB desenvolve um forte aliado para a manutenção da operacionalidade do sistema Telesat

Mudança proporcionou economia de R$ 5 milhões com aluguel de telecomunicações

06/01/2016 08:30h

O Parque de Material de Eletrônica da Aeronáutica (PAME-RJ), unidade da Força Aérea Brasileira (FAB) localizada no Rio de Janeiro, desenvolveu um novo sistema de comunicações por satélite para a manutenção da operacionalidade do Telesat, uma das redes de comunicação que suportam as infraestruturas de dados do controle do tráfego aéreo. O Sistema Backup do Telesat (SBT) foi instalado na área do Quarto Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA IV), em Manaus. Ele provê os links de comunicações de voz e dados, até então, disponibilizados pelo Telesat para os principais sistemas de comunicações administrativas e operacionais do Comando da Aeronáutica (COMAER), por meio de 111 estações instaladas em todo o território nacional.

Todo o processo da concepção técnica até a instalação do sistema demorou menos de 18 meses, sendo concluído no final de novembro 2015. “Após a conclusão da instalação do novo sistema, o PAME-RJ possui sobressalentes suficientes para garantir a manutenção das demais estações do Telesat que atendem aos outros regionais por pelo menos mais cinco anos”, ressalta o Diretor do PAME-RJ, Coronel Engenheiro Dalmo José Braga Paim.

O novo sistema é capaz de monitorar, em tempo real, o tráfego e taxa de ocupação dos links, apresentando esses dados sob a forma de gráficos. Dessa forma, os engenheiros e técnicos serão capazes de realizar análises mais consistentes durante as pesquisas de panes, ter informações cada vez mais precisas para proposição de mudanças ou aumento de capacidade dos links.

A utilização de equipamentos e de modens satélites de última geração no novo sistema permitiu um impacto significativo no consumo de banda, com uma redução de aproximadamente 90% na banda satelital utilizada em cada estação. A economia proporcionou um aumento de, aproximadamente, dez vezes da banda de intraer (rede interna) na maioria das localidades atendidas e, com isso, já gerou uma economia anual de aproximadamente R$ 5 milhões com aluguel de canalização junto às concessionárias de telecomunicações.

Mais benefícios - Outro aspecto positivo do SBT é a capacidade de monitoramento remoto e de telecomando das suas estações distribuídas em todo o território nacional. Essa facilidade está permitindo a mudança do modelo de manutenções preventivas das estações remotas, reduzindo a necessidade de técnicos “in loco” para a realização de mais de 80% dos procedimentos previstos nos boletins do antigo sistema. O novo sistema se mostra muito mais estável que o Telesat, o que tem resultado em uma redução significativa dos procedimentos corretivos.

Além disso, os principais parâmetros dos enlaces satelitais são monitorados em tempo real, por faixas previamente estabelecidas, de forma que qualquer variação é imediatamente sinalizada com a mudança de cor do prisma ao parâmetro correspondente, avisando ao técnico que está acontecendo algum tipo de degradação, possibilitando a realização de ações preventivas e evitando, assim, a inoperância total dos links.

Fonte: FAB
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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

"Esforços para colocar satélite nacional em órbita marcaram 2015"

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Esforços para colocar satélite nacional em órbita marcaram 2015

Brasília, 4 de janeiro de 2016 – O ano de 2015 foi marcado por esforços de vários setores e instituições para os preparativos do lançamento do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), previsto para o segundo semestre do ano.

Este é o principal projeto da área espacial em andamento. O equipamento atenderá as demandas de comunicações no âmbito do Ministério da Defesa (MD) e ao Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) do Ministério das Comunicações (MC).

Além desse projeto, São José dos Campos (SP), principal polo de tecnologia aeroespacial nacional, produziu diversos fatos ligados à área aeroespacial, bem como os centros de lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, e da Barreira do Inferno (CLBI), em Natal (RN).

A partir de março último começou no país a capacitação dos profissionais que vão operar o SGDC. Nos últimos três anos, a preparação dos operadores ocorreu em centros europeus, canadense e chileno. Intercâmbios de informações técnicas também foram efetuados com França e Itália na busca referências para estabelecer o modelo nacional de operação.

As antenas de envio e recebimento de dados do satélite e os centros de operação primário e secundário serão construídos pela Telebras em áreas militares.

Este ano, o Núcleo do Centro de Operações Espaciais Principal (NuCOPE-P) também deve desenvolver, junto a Telebras, acordo específico para a operação do SGDC. “Deveremos definir o que será responsabilidade de quem, como se dará a tomada de decisão em situações críticas, como será a divisão de tarefas no controle do SGDC, como se dará a divisão dos gastos do Cope entre os partícipes, dentre outras coisas”, informa o coronel Hélcio Vieira Júnior, comandante do NuCOPE-P.

O Núcleo também terá a atribuição de estudar e propor a ativação do Comando de Sistemas Espaciais. A nova unidade da Aeronáutica terá como subordinados os centros de operação principal, em Brasília (DF), e secundário, no Rio de Janeiro (RJ).

Capacitação – A formação das futuras gerações de pesquisadores e profissionais do setor aeroespacial foi foco da Jornada Espacial em novembro último. Promovida pela Agência Espacial Brasileira (AEB), a 13ª edição do evento reuniu 45 alunos e 33 professores de ensino médio de todo o país ao longo de uma semana em São José dos Campos. “O trabalho na área espacial é muito pouco divulgado no Brasil. Queremos demonstrar a importância do que vem sendo feito e tentar sensibilizar os jovens para que trilhem caminhos profissionais e desenvolvam conhecimento”, afirma José Bezerra Pessoa Filho, um dos organizadores do evento e engenheiro do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE).

Os participantes foram selecionados a partir do seu desempenho na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), que envolveu mais de 800 mil alunos e 60 mil professores de todo o país.

Em junho, o futuro espaçonauta brasileiro, Pedro Henrique Dória Nehme, de 23 anos, fez um voo de 50 minutos na aeronave de caça supersônica F-5. O voo faz parte da preparação para sua ida ao espaço a ser agendada.

Em outubro, o CLBI completou 50 anos com a marca de aproximadamente 3 mil foguetes e rastreados mais de 200 veículos espaciais lançados a partir da Guiana Francesa, entre eles os foguetes Ariane, Soyuz e Vega. “O CLBI tem direcionado seus esforços e projetos não só aos lançamentos, mas a ações de comprometimento social e educacional”, afirma o diretor do Centro, coronel Maurício Lima de Alcântara.

Para celebrar o Ano da Luz, data celebrada pela Unesco em 2015, o grupo de pesquisa em óptica e fotônica do Instituto de Estudos Avançados (IEAV) desenvolveu o projeto “Feira Itinerante: Luzes para a Educação”. A demonstração composta por dez experimentos lúdicos percorreu escolas de São José dos Campos.

A iniciativa promoveu os conceitos de óptica e incentivou as crianças a entender como funciona esse fenômeno. “Com isso esperamos despertar a visão de que as ciências exatas também são interessantes”, explica o coordenador do projeto, o professor Jonas Jakutis Neto.

A área de óptica e fotônica do IEAV tem mais de 30 anos. Foi responsável, por exemplo, pelo desenvolvimento de alguns dos primeiros lasers do Brasil, como o que utiliza vapor de cobre e CO² (Gás Carbônico), com várias aplicações na área industrial.

Pesquisadores e indústria – A comunidade aeronáutica pensou em como transferir tecnologia para fabricação nacional de componentes. Por isso, empresas, instituições de pesquisa e universidades com competências reuniram-se por diversas vezes em 2015 para buscar soluções para desenvolver tecnologia nacional.

Grupos também discutiram efeitos da radiação sobre componentes de uso aeroespacial. No Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), em Itajubá (MG), iniciaram em fevereiro os estudos para monitoramento de radiação cósmica.

Da mesma forma, um workshop procurou aproximar os ambientes operacional e técnico-científico com a troca de experiências entre os centros de pesquisa e desenvolvimento da Marinha, Exército e da Aeronáutica.

Projetos – Em novembro, uma explosão no motor no momento da ignição, destruiu o foguete VS-40M, no CLA. Ninguém se feriu. A operação envolveu 300 profissionais e objetivava testar o Satélite de Reentrada Atmosférica (Sara), que tem potencial de viabilizar experimentos em ambiente de microgravidade, contribuindo para ganhos de qualidade da indústria nacional e para o desenvolvimento do país em importantes áreas do conhecimento, tais como processos biológicos, produção de fármacos e materiais especiais.

O projeto “deve ser retomado o mais rapidamente possível” de acordo com o diretor geral do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), tenente-brigadeiro do ar Alvani Adão da Silva.

Em relação ao Programa Espacial Brasileiro, verificou-se como as tecnologias desenvolvidas em 25 anos para o Veículo Lançador de Satélites (VLS) estão sendo aplicadas em outros setores da economia, como o petrolífero e a geração de energia eólica.

Fonte: FAB, via AEB.
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Meteorologia: novo modelo global de previsão do tempo

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CPTEC/INPE inicia 2016 com novo modelo global de previsão do tempo

Terça-feira, 29 de Dezembro de 2015

As previsões de tempo em escala global do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do INPE, começam a ser geradas a partir do primeiro dia do ano com um novo modelo atmosférico de circulação global, o BAM (Brazilian Global Atmospheric Model), com uma resolução espacial de 20 quilômetros e 96 camadas na vertical. Este novo modelo substitui a última versão do Modelo de Circulação Geral Atmosférico (Atmospheric Global Circulation Model - AGCM), em operação desde 2010, processado a uma resolução espacial de 45 quilômetros e 64 camadas na vertical.

Como o modelo global é utilizado para processar outros modelos do CPTEC, tais como os de previsões de tempo para América do Sul, clima sazonal, qualidade do ar, a expectativa é de que, gradualmente e muito em breve, estas previsões ganhem maior confiabilidade e qualidade. Melhorias deverão ser percebidas, em especial, para as previsões de eventos extremos, tais como chuvas intensas, períodos de seca, eventos de El Niño, etc.

O modelo antigo (AGCM) era uma versão modificada e melhorada do modelo global do COLA (Center for Ocean-Land-Atmosphere Studies), dos Estados Unidos, que começou a ser processado na inauguração do CPTEC, em 1994. Entretanto, para melhorar as previsões de tempo e clima em altas resoluções no Brasil, foi necessário desenvolver um modelo global próprio com uma nova dinâmica (equações do movimento da atmosfera) e física no estado da arte (radiação, camada limite, processos de superfície, microfísica, etc.), mais adequadas para as condições da América do Sul.

Segundo o chefe da Divisão de Modelagem e Desenvolvimento (DMD), do CPTEC, Silvio Nilo Figueroa, o BAM ficou em modo experimental durante um ano e em fase pré-operacional nos últimos três meses. Uma avaliação recente do desempenho do BAM para previsões de chuva sobre a região Sudeste apresentou níveis de acerto e qualidade similares àquelas geradas pelo modelo GFS (Global Forecast System), do NCEP (National Centers for Environmental Prediction), dos Estados Unidos (Figura 1). Por outro lado, em uma comparação entre os modelos antigo (AGCM) e novo (BAM) para a região dos trópicos, o BAM apresentou uma boa correlação de suas previsões em relação às observações com até cinco dias de antecedência, enquanto o antigo modelo mostrou uma queda de desempenho a partir do segundo dia das previsões (Figura 2).

Os desenvolvimentos realizados no BAM terão desdobramentos sobre os modelos regionais ETA e BRAMS, que cobrem a América do Sul, com resoluções iguais ou menores a 5 quilômetros, e que serão alimentados com as condições de contorno do novo modelo. Com estas implementações, a expectativa é de que as previsões de tempo para o Brasil deverão melhorar bastante nos próximos meses tanto em qualidade, com maior riqueza de detalhes, como em confiabilidade, principalmente para as previsões com mais de 2 dias de antecedência.

O bom desempenho do BAM trará impactos para os modelos regionais de 1 quilômetro que serão utilizados como condições de contorno (ventos) para as previsões de ondas e correntes para a Baía da Guanabara, durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro, no próximo ano, compromisso assumido pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O novo modelo atmosférico também será útil para acoplar um modelo oceânico, com o qual serão produzidas previsões estendidas de tempo por conjunto (Ensemble) com até com 4 semanas de antecedência, bem como previsões de clima sazonal para até 3 meses. Finalmente, este modelo também será utilizado como componente atmosférica da nova versão do Modelo Brasileiro de Sistema Terrestre (BESM) para projeções de mudanças climáticas. Estes desenvolvimentos, incluindo um sistema de assimilação de dados próprio, deverão ser implementados no próximo ano.

Necessidade de um novo supercomputador

Segundo Silvio Nilo, com a entrada em operação do BAM, se impõe a necessidade de melhoria da estrutura computacional do CPTEC. Um experimento realizado recentemente para avaliar o desempenho do atual supercomputador para processar o modelo BAM adaptado a uma melhor resolução espacial, de 10 quilômetros, demonstrou que mesmo utilizando toda a capacidade de processamento do supercomputador Tupã, fazendo uso de seus 30 mil processadores ao longo de 2 horas, foi possível gerar previsões para apenas 24 horas. Ou seja, para as próximas demandas de modelagem do CPTEC, que exigirão previsões de alta resolução, o atual supercomputador é incapaz de gerar previsões operacionais para até 7 dias, sendo limitado também para realizar previsões de clima sazonal (global e regional) com alta resolução espacial.

Em 2010, a capacidade computacional do CPTEC estava no mesmo nível dos grandes centros mundiais, que atualmente já contam com máquinas entre 30 e 50 vezes mais velozes (na ordem de PetaFlops ou 1015 operações de ponto flutuante por segundo). O NCEP, dos Estados Unidos, por exemplo, tem capacidade para rodar seu modelo global a uma resolução espacial de 13 quilômetros. Silvio Nilo ressalta que somente com uma nova infraestrutura computacional, mais potente, será possível dar continuidade aos avanços do BAM, implementar o seu acoplamento ao modelo oceânico e aos modelos regionais e, consequentemente, produzir melhorias em todas as previsões processadas pelo CPTEC.

O novo coordenador do CPTEC, Antonio Manzi, que assumiu o cargo recentemente, destaca que o período de vida útil do atual supercomputador do INPE, o Tupã, expira em 2017, e como os processos de compra de um novo supercomputador levam ao menos um ano e meio, a compra de uma nova máquina deve ser iniciada no próximo ano, caso contrário haverá queda na qualidade das previsões geradas pelo CPTEC, acarretando potenciais prejuízos ao país. Diversas atividades econômicas dependem da boa qualidade das previsões, como os setores agrícola, de energia, meio ambiente, transporte, e mesmo o sistema de alertas emitidos pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais - CEMADEN.

Fonte: INPE
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