sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

EXCLUSIVO: Tensão na Alcântara Cyclone Space

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O posicionamento do atual ministro de Ciência e Tecnologia (MCT), Aloizio Mercadante, de analisar profundamente o acordo espacial com a Ucrânia para o lançamento de foguetes a partir de Alcântara (MA) está causando tensões na Alcântara Cyclone Space (ACS), particularmente no lado ucraniano. A preocupação teria, inclusive, motivado o telefonema do presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, para Dilma Rousseff no último dia 10.

De acordo com informações apuradas pelo blog Panorama Espacial, duas semanas após a posse do novo governo, o diretor-geral da ACS, Roberto Amaral, e Aloizio Mercadante, não se reuniram e nem conversaram sobre o projeto da binacional.

A direção da ACS encaminhou um ofício ao MCT comunicando a necessidade de integralização do restante do capital subscrito na empresa pelo governo brasileiro para a continuidade das atividades, como a construção da infraestrutura terrestre no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). Embora o contrato com as empreiteiras já tenha sido assinado, as obras não foram iniciadas justamente pela falta dos recursos necessários no caixa da binacional.

A dificuldade (ou desinteresse) do lado ucraniano em integralizar a sua parte do capital social na ACS também tem gerado certo desconforto e até mesmo desconfianças. Cerca de 60 milhões de dólares já deveriam ter sido aportados pela Ucrânia, e desde a sua constituição, em agosto de 2006, as atividades da binacional têm sido tocadas principalmente com recursos oriundos do governo brasileiro.

Flórida Cyclone Space?

Esta semana, uma informação surpreendente chegou ao conhecimento do blog Panorama Espacial. Os sócios ucranianos estariam negociando com uma empresa norte-americana a possível instalação de um sítio de lançamento do Cyclone 4 na costa leste dos EUA, no estado da Flórida [onde está situado o centro espacial de Cabo Canaveral]. Um protocolo já teria, inclusive, sido assinado com a empresa, a ATK, que atua nos setores aeroespacial e de defesa.

Embora não tenhamos conseguido maiores detalhes até o fechamento desta nota, um comentário feito por pessoa familiarizada com o assunto chamou muito a atenção. Considerando-se a instalação de dois sítios do Cyclone 4 - em Alcântara e na Flórida, caberia aos técnicos ucranianos a definição sobre de onde o foguete seria lançado em cada missão, o que conflitaria com o espírito do tratado firmado entre o Brasil e a Ucrânia em outubro de 2003, isto é, a operação do lançador a partir de solo brasileiro, no CLA.

Em outubro de 2010, revelamos alguns dos contatos comerciais feitos pela ACS, tendo por referência uma apresentação de Roberto Amaral realizada na Câmara dos Deputados em outubro de 2009. Uma das empresas mencionadas foi justamente a ATK - Space Systems Tyokol, com o escopo “lançamento do Cyclone-4 no mercado norte-americano”.

O blog acredita que a estratégia ucraniana de procurar um parceiro nos EUA tem um racional mercadológico, pois ao executar os lançamentos a partir de território americano, os ucranianos e ATK teriam mais facilidades para obter financiamentos e também disputar contratos governamentais, possivelmente de órbita baixa. Além do mais, neste cenário, o estado-lançador seria os EUA, o que dispensaria a necessidade de um acordo de salvaguardas tecnológicas do Brasil com os Estados Unidos, um dos grandes problemas do binômio Cyclone 4 / Alcântara.
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4 comentários:

iurikorolev disse...

Mileski
1)Parece, pelo que vejo, que os ucranianos são traíras como os russos...
2)Então, está fazendo água um acordo que parecia ter começado bem.
3)A falta de tecnologia de um país,como ocorre com a falta de conhecimento das pessoas, custa caríssimo, 10 vezes mais do que custaria se fosse desenvolvida.
4) E a falta de visão gerencial do setor público do Brasil é que não nos deixa tirar o pé da lama do subdesenvolvimento.

OTÁVIO JARDIM ÂNGELO disse...

Olha,
primeiramente queria parabenizar o blogueiro pelo otimo post, e pela imparcialidade.
Enfim, vamos ao que interessa: a verdade é que a ACS é uma empresa privada e como tal visa lucro; e nós temos que intender isso.
E tambem já passou do tempo do Brasil se perguntar se esse acordo é tão vantajoso quanto parece.

O mar vivo da não existência disse...

Otávio,

Concordo que é uma empresa que visa lucro, tudo bem, mas nesta empresa um dos sócios é o Governo do Brasil, que em última instância existe para bem administrar os recursos da nação e os interesses de seus nacionais, que segundo o preâmbulo da CF é de onde emana todo o poder.
Não é interesse de um nacional que além do lucro, uma empresa com capital do Estado traga também empregos, habilidades, conhecimentos, recursos financeiros para investir mais em projetos de interesse da Nação?
Porquê passou o tempo de discutir? Afinal são recursos que todos os brasileiros pagam não é mesmo? Discutir é muito bom, mesmo porque não gerou nada até o momento a não ser gastos.

Tá na hora de discutir, por enquanto meus parabéns ao Mercadante. Caso a ACS cumpra todos os requisitos, eu, como você, pagador da empreitada apoio.

O que você pensa a respeito?

Ramir disse...

A ACS é uma empresa privada ?
Nem aqui nem na na Ucrania. Ela é integralmente estatal, com capital binacional.